Photo: Júlio Mujojo/Rensida |
"Muitos grupos recebem dinheiro do governo e, com isso, temem fazer criticas e perderem os recursos" |
Amós Sibambo, 33 anos de idade, natural da cidade de Maputo, desde adolescente participa em movimentos sociais.
No início dos anos 90, foi líder da Organização da Juventude Moçambicana e da Associação Moçambicana para o Desenvolvimento da Família, onde criou um grupo teatral sobre HIV/Sida.
Sibambo ajudou a fundar, em 1998, a Kindlimuka, primeira organização não governamental moçambicana de seropositivos.
Em 1999, descobriu que era seropositivo, mas ainda não requer o tratamento antiretroviral.
Hoje, Sibambo é secretário executivo nacional adjunto da Rensida, rede de associações de pessoas vivendo com HIV/Sida.
Como vê a participação do movimento social no resposta à Sida em Moçambique?
Estamos a crescer, embora ainda não saibamos pressionar o governo como realmente deveríamos. Estamos dispersos. A sociedade civil de Moçambique deveria se unir.
Nisso refiro não apenas a área de HIV/Sida. Os movimentos dos deficientes físicos, dos defensores do meio ambiente, todos deveriam andar juntos.
Outra coisa que dificulta a actuação da sociedade civil é que muitos grupos recebem dinheiro do governo e, com isso, temem fazer criticas e perderem os recursos.
Devido ao regime que vivemos durante anos - monopartidarismo - ainda não temos o costume de questionar o governo, além de que é muito difícil sabermos realmente o que acontece no Conselho Nacional de Combate à Sida.
Qual a razão de mais de um milhão de seropositivos moçambicanos não conseguirem constituir um movimento de pressão?
É muito difícil. A Sida tem a cara de analfabetos e pobres, no nosso país. Quando a gente tenta se organizar, há no seio dos grupos pessoas oportunistas e os nossos planos vão sempre abaixo.
Não temos a cultura de sair às ruas e fazer pressão, pois a partir do momento que fazemos isso, somos considerados oposição e passamos a ser perseguidos.
Para quebrarmos essas barreiras necessitamos de estarmos todos organizados, firmes e lutarmos até vencer. Mas é necessária a capacitação em advocacia, principalmente para os líderes dos grupos.
Existem representantes das pessoas vivendo com HIV/SIDA no Conselho Nacional de Combate à Sida?
Primeiro gostaria de louvar a criação do Conselho. Há nele representantes de pessoas vivendo com HIV/Sida: a Monaso, Rede Moçambicana de Organizações contra a Sida, e a Kindlimuka.
Mas sentimos que no lugar da Kidlimuka deveria estar a Rensida, pois somos uma rede nacional e a Kindlimuka está apenas em Maputo.
Como vê a resposta do governo à Sida?
A prevenção vem sendo considerada prioridade, mas penso que o tratamento deveria estar no mesmo nível.
O que deveria ser feito para barrar a epidemia?
Dentro do Ministério da Saúde deveriam ser criados núcleos para diversas áreas como tratamento, prevenção, populações vulneráveis.
O núcleo para o tratamento seria responsável em saber quantas pessoas necessitam de tratamento e actuaria para que essas pessoas passassem a receber os medicamentos.
Nós da sociedade civil não sabemos o que está a acontecer no Ministério da Saúde. A comunicação entre nós e eles não é boa. Se precisarmos de algo não sabemos a quem contactar.
Também não acho que as campanhas informativas sejam eficazes. São na grande maioria sobre prevenção. Deveriam também falar do tratamento. A Sida pode ser prevenida, mas também pode ser tratada.
Quando a Sida surgiu houve um grande pânico. Repetia-se que “A Sida mata!” Isso criou o medo e estigma para as pessoas com HIV. Por isso, muitas pessoas não assumem que são seropositivas.
Ao falar mais sobre os bons resultados do tratamento, o governo iria descobrir mais pessoas infectadas e reduziria o estigma.
Há regiões privilegiadas na resposta?
Há realmente uma grande disparidade entre as regiões de Moçambique. Por isso defendo a criação de núcleos no Ministério da Saúde para actuar em cada região do país.
No Sul está concentrada a economia do país. Há uma série de mecanismos que favorecem um melhor desenvolvimento de acções no Sul, como meios de transporte...além de que a seroprevalência é alta.
[ENDS]
|