GLOBAL: Um mapa para conhecer os caminhos do estigma
Photo: Allan Gichigi/IRIN |
Não mais invisíveis: Onusida apresentou durante a Primeira Conferência Internacional de Liderança de Mulheres em HIV e Sida um índice para medir a discriminação em relação a seropositivos |
NAIRÓBI, 9 Julho 2007 (PlusNews) - Rejeição. Medo. Raiva. Esses são alguns sentimentos que vêm à tona quando mulheres seropositivas falam sobre estigma e discriminação.
“É como estar completamente invisível para a sociedade”, disse Esther Sheehama, 24 anos, da Associação Cristã Feminina (YWCA) da Namíbia e seropositiva há sete anos.
Como Sheehama, outras mulheres com HIV têm histórias para contar: como uma foi rejeitada pela igreja, como outra foi expulsa de casa.
Mas segundo Alejandra Trossero, coordenadora de HIV da Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF, em inglês), essas informações nunca foram organizadas de maneira sistemática. A maioria dos estudos já feitos para medir o preconceito focou na atitude de profissionais da saúde, famílias e comunidades.
Daí surgiu a idéia de se compilar um índice sobre seropositivos, por seropositivos.
“Vamos colectar a experiência de como seropositivos vivenciam o estigma e a discriminação. Temos evidência em anedotas, mas queremos reuni-las para cruzarmos com as informações já existentes”, explicou Trossero.
Assim, segundo ela, se um governo afirmar que o estigma naquele determinado país diminuiu e os serviços de saúde estão mais acessíveis, será possível cruzar essa informação com a percepção dos seropositivos.
“E se não for exactamente isso que está acontecendo, o índice será uma ferramenta para mostrar o fato”, disse.
A iniciativa é resultado de uma parceria entre a Onusida, a IPPF, a Associação Cristã Feminina Mundial (em inglês, World YWCA) e a Comunidade Internacional de Mulheres Vivendo com HIV/Sida (em inglês, ICW).
Capturando as particularidades
O índice foi apresentado durante a Primeira Conferência Global de Liderança de Mulheres em HIV/Sidae, Nairóbi, Quénia.
Com início em 2005, o projecto já se encontra em fase de ajustes. O piloto foi realizado em outubro de 2006 no Quénia, Índia, Lesoto e Trinidade e Tobago.
Nessa etapa, cerca de 20 pessoas de cada país responderam a um questionário de aproximadamente duas horas, que incluía temas como experiência em relação a estigma e preconceito, testagem e diagnóstico, tratamento e maternidade/paternidade.
Os resultados preliminares mostraram algumas facetas da discriminação: 16 por cento dos entrevistados se sentiram excluídos de reuniões sociais; 35 por cento se sentiram sexualmente rejeitados; 30 por cento reportaram que as famílias sofriam preconceito; e 17 por cento disseram ter recebido um tratamento médico pior devido à sua seropositividade.
Segundo Trossero, um outro objectivo do piloto era capturar as particularidades de grupos específicos, como homossexuais, usuários de drogas e prostitutas.
“Queremos ter certeza de que o índice capturará as diferenças na percepção do estigma e da discriminação”, disse ela.
“Se soubermos como funciona o preconceito, podemos ajudar a eliminá-lo”, disse, afirmou Kate Thomson, conselheira para parcerias da Onusida, ela mesmo seropositiva. “E se conseguirmos provar isso cientificamente, as pessoas nos ouvirão.”
Se soubermos como funciona o preconceito, podemos ajudar a eliminá-lo. |
Na reta final
O projecto encontra-se actualmente em fase de ajustes. No primeiro semestre de 2007, os critérios foram refinados, já que algumas perguntas se mostraram desnecessárias, outras repetitivas e outras não traziam a informação como previsto.
O próximo passo é realizar a pesquisa num nível nacional nos países em que os pilotos foram conduzidos. Segundo padrões internacionais, é necessária uma amostra média de 2 mil respondentes para que os dados sejam considerados relevantes. O piloto contou apenas com cinco por cento desse total.
Ao contrário de outros índices, como o Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, entretanto, esse estudo será feito individualmente, sem comparações entre países.
“Mas poderemos identificar tendências num mesmo país dentro de um determinado período e sugerir políticas e medidas nesse sentido”, explicou Trossero.
Thomson destacou que os dados colectados ficarão disponíveis para organizações que trabalham com seropositivos – a Onusida incluirá os dados em seu relatório anual – e será uma ferramenta importante de advocacia.
A fase de ajustes finais está prevista para terminar no final de julho.
“A chave do índice é reconhecer que as pessoas vivendo com o HIV são agentes para mudança”, afirmou Thomson.
ll/ms
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