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QUÉNIA: TB resistente avança nas favelas de Nairobi


Photo: Richard Etienne/IRIN
NAIROBI, 27 Abril 2007 (PlusNews) - Segundo trabalhadores da saúde, os casos de tuberculose resistente a múltiplas drogas (MDR-TB, em inglês) estão aumentando nos bairros pobres da capital, Nairobi, local de reprodução perfeito para a doença.

Dr. Dave Muthama, do Programa Nacional Queniano de Controle da Lepra e Tuberculose, disse ao PlusNews que embora somente 46 casos de MDR-TB tenham sido confirmados no país, este número poderia ser muito maior.

“É difícil conseguir boas culturas, o que torna difícil determinar a proporção de pacientes com MDR”, disse Christine Genevier, chefe de missão da organização internacional Médicos sem Fronteiras (MSF).

Os exames de expectoração mais comumente usados para detectar a TB geralmente não são eficazes em pacientes seropositivos; a maneira mais segura de diagnosticar a TB neste pacientes é a cultura, na qual amostras de expectoração são cultivadas em um líquido especial.

Problemas no diagnóstico

Dra. Liesbet Ohler, coordenadora da área de TB da MSF, explicou que o diagnóstico da TB é mais difícil em pacientes infectados pelo HIV.

“As pessoas seropositivas tem um nível muito menor de bacilos de TB em sua expectoração, o que faz com que o resultado do exame da expectoração possa ser negativo e o raio-X do pulmão também possa parecer normal”, disse ela.

“O sistema imunitário é enfraquecido, então existem menos sinais visíveis do desenvolvimento da doença; é preciso menos bacilos da TB para que a pessoa adoeça, então deve-se tratar os pacientes com base nos sinais clínicos antes que seja tarde demais”, explicou.

Segundo Genevier: “Faltam laboratórios, o diagnóstico da co-infecção HIV é difícil e falta um acompanhamento de pacientes que recebem o tratamento da TB”.

A MDR-TB se desenvolve quando uma cepa da TB se torna resistente a dois ou mais antibióticos de primeira linha, quando o paciente não segue o tratamento corretamente, quando a doença é resistente ao tratamento ou por contaminação direta de um outro paciente com MDR-TB.

Ohler comentou que as casas “escuras e fechadas” dos bairros pobres são um ambiente ideal para que a TB se desenvolva.

Um relatório do Instituto Queniano de Pesquisa Médica de 2003 estimou que 70 por cento da população de Nairobi vivia em bairros pobres, e uma grande parte dos casos de co-infecção HIV e TB também vinha destas áreas.

Ela sugere que o estigma poderia ser uma razão pela qual as pessoas não seguem corretamente o tratamento: “Aqui no Quênia existem tantas pessoas seropositivas co-infectadas com a TB, que se você disser que está com TB, as pessoas concluem que você é seropositivo.”

Problemas na aderência

Na “Casa Azul”, clínica de MSF em Mathare, um dos maiores bairros pobres de Nairobi, com uma população estimada em 250.000 pessoas, 70 por cento dos pacientes com TB são co-infectados com o HIV.

O tratamento da TB é baseado na estratégia DOTS (Tratamento de Curto Prazo Directamente Observado), que monitoriza os pacientes com TB para se assegurar que eles tomem seus remédios todos os dias.

DADOS RÁPIDOS

 • Uma de cada dez novas infecções de TB são resistentes pelo menos a um medicamento anti-TB.

• Quase quatro por cento de todos os casos novos de TB no mundo são resistentes a múltiplas drogas.

No entanto, na Casa Azul, a MSF pratica a SAT (terapia auto-administrada), cuja ênfase é a sensibilização dos pacientes aos benefícios em tomar a medicação diariamente e às conseqüências da interrupção do tratamento.

“A educação do paciente funciona melhor”, disse Genevier.

Monika Juma é uma das pacientes da Casa Azul que seguem o difícil tratamento da MDR, que dura dois anos; ela começou o tratamento há um mês e meio.

“Eu moro a quarenta minutos a pé da Casa Azul, e tenho que vir de manhã e à noite receber o tratamento”, disse ela.

Toda manhã ela recebe uma injeção, e toma um sachet de remédio com um suco ácido e 16 comprimidos. À tarde ela volta para tomar mais 5 comprimidos e um outro sachet.

Juma também é seropositiva e toma medicação antiretroviral (ARV). Sua filha e sua neta de 5 anos também tem TB. Embora os médicos suspeitem que sua neta tenha MDR-TB, a expectoração ainda não confirmou o diagnóstico.

Apesar da complexidade do tratamento, Juma não faltou nenhuma vez; ela sabe quais seriam as conseqüências de deixar de tomar uma dose dos remédios. Até agora os efeitos colaterais foram mínimos.

O governo queniano não fornece tratamento para a MDR-TB, que custa 300 vezes mais caro do que o tratamento da TB comum: seis mil dólares norte-americanos contra vinte.

Muthama disse que o governo está trabalhando na luta contra a MDR-TB: “Aumentamos o número de centros de tratamento para 1.800. Os pacientes são testados após um mês e meio para se estabelecer se estão reagindo bem, e também para detectar cepas resistentes”.

Trabalhadores da saúde e activistas estão preocupados, porque a não ser que se consiga controlar a MDR-TB, o Quênia poderá enfrentar formas mais virulentas de TB, parecidas com a TB extremamente resistente detectada na África do Sul, que levou à morte de 200 pessoas.

Na lista da Organização Mundial da Saúde das Nações Unidas, dos 22 países que suportam o fardo de 80 por cento dos casos de TB no mundo, o Quênia ocupa o 10° lugar.


Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
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