MOÇAMBIQUE: Investimento contra a Sida, retorno garantido
MAPUTO, 12 Setembro 2007 (PlusNews) - A impressão que se tem ao entrar na sede da CETA – Construção e Serviços, em Maputo, é de se estar um centro de saúde. As caixas de camisinha na mesa da recepção e os cartazes espalhados pelos corredores em nada lembram uma construtora de casas, escolas e estradas, a principal atividade da empresa.
A ênfase em saúde e prevenção se justifica.
“Há dez anos perdi meu melhor mecânico de caminhões e meu melhor operador de laboratório (de asfalto) para a Sida. Ou eu fazia algo para minimizar esta epidemia, ou meu lucro seria minimizado”, disse o engenheiro e director geral da CETA, Antonio Romeu Rodrigues.
Com o final da guerra civil em 1992, a economia moçambicana se expandiu rapidamente: gás, alumínio fundido, açúcar, turismo e construção de casas e estradas contribuíram para um crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) entre seis e oito por cento.
Entretanto, com uma seroprevalência de 16.2 por cento entre adultos de 15 a 49 anos, Moçambique está vendo uma fatia significativa de sua força de trabalho comprometida.
Até 2020, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima uma diminuição de 17 por cento na força laboral moçambicana em conseqüência da Sida.
A epidemia afecta também os gastos domésticos. Quando há um seropositivo na família, grande parte da renda é destinada a melhores alimentos, remédios e, eventualmente, funerais, aponta a OIT.
A organização estima que o crescimento anual do PIB de Moçambique pode ser de até um por cento menor em decorrência da Sida. Em 2006, o PIB foi de cerca de US$ 7 bilhões.
Empresários reagem
Em 2005, Rodrigues ajudou a fundar a Associação dos Empresários Contra o Sida (Ecosida), que hoje tem como membros 45 empresas privadas.
Cornélio Balane, director executivo da associação, explica que a Ecosida começa mostrando aos empresários que “a perda ou a ausência de profissionais é igual à baixa nos lucros.” Depois, se propõem campanhas educativas e o tratamento antiretroviral (TARV).
Na CETA, 35 trabalhadores e cinco esposas de funcionários recebem ARVs graças a uma parceria com alguns hospitais públicos, que recebem ajuda financeira da empresa.
Ou eu fazia algo para minimizar esta epidemia ou meu lucro seria minimizado. |
“Em Moçambique falta mão-de-obra qualificada. Por isso, perder repentinamente um profissional em quem investimos e treinamos por 15 anos é um prejuízo inexplicável”, disse Rodrigues.
A CETA tem cerca de 2700 trabalhadores fixos e temporários nas 11 províncias.
A Agrifocos, produtora de adubos e fertilizantes químicos em Maputo, se tornou membro da Ecosida no ano passado, e está a usar alguns trabalhadores como activistas.
Por meio de conversas informais eles procuram conscientizar seus colegas sobre a prevenção do HIV e o tratamento da Sida.
“Se houver algum seropositivo, queremos ajudar no tratamento antiretroviral”, disse Luiza Faira, uma das responsáveis pelo departamento de saúde desta empresa.
Apoio do patrão conforta o empregado
Nas empresas em que a Ecosida actua, Balane disse que já se percebe, segundo relatos dos trabalhadores, menor preconceito e grande procura por testagens do HIV.
Testes voluntários que seguem palestras contam com grande participação dos funcionários e cerca de 90 por cento dos testados vão buscar o resultado.
Henriqueta Cuna, 33 anos, é maquinista na Catucha Trading, empresa em Maputo que fabrica materiais para conferências e festas, como pastas, bolsas plásticas e aventais.
Seropositiva, ela perdeu seu marido há três meses. Uma de suas duas filhas, de seis anos, também está infectada.
Seja por conta de seu próprio tratamento ou para levar sua filha ao hospital, Cuna precisa se ausentar do trabalho freqüentemente. Suas faltas, porém, não se transformam em descontos na folha de pagamento.
Segundo Bernardo Jambane, ponto focal para o HIV na empresa, além de ser tolerante com as faltas por razões médicas, a Catucha também referencia o Hospital do Polana Caniço, em Maputo, para o tratamento da Sida.
O próximo passo é dar cestas básicas alimentares a Cuna e outros seropositivos que forem diagnosticados.
Cumprindo a lei
Um dos principais objectivos da Ecosida é fazer com que todas as empresas cumpram a lei criada em 2002 sobre HIV no local de trabalho.
Photo: M.Sayagues/PlusNews |
Iniciativa da Ecosida tem estimulado funcionários à testagemn voluntária para HIV |
Esta lei proíbe a testagem obrigatória do HIV a um funcionário, reprime o preconceito por parte do empregador e dos companheiros de trabalho, impede a demissão de alguém por estar infectado, e exige assistência médica para seropositivos.
Segundo Balane, as empresas que são membros da Ecosida caminham para o cumprimento desta lei, mas a maioria das outras ainda não.
“Os empresários temem os gastos com projectos contra a Sida e os trabalhadores o estigma de assumirem que são seropositivos”, disse ele.
Rodrigues, que procura seguir a lei rigorosamente, dá um recado a outros empresários: “Gastar com Sida é investimento, não prejuízo.”
O gasto que ele tem com o transporte para o hospital e outras despesas com funcionários seropositivos sai mais barato do que perdê-los.
“Mais cedo ou mais tarde, todo empresário vai constatar que é melhor pensar na boa saúde dos seus funcionários do que lamentar a má saúde das finanças da sua empresa”, finalizou.
(lb/ll/ms)
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Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento, (IRIN) Economia/Negócios, (IRIN) Prevenção, (IRIN) PVHS/ONGs, (IRIN) Estigma/Direitos Humanos/Leis
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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