ÁFRICA AUSTRAL: O quanto sofrem as mulheres comerciantes para atravessarem a fronteira
Photo: Tsvangirayi Mukwazhi |
Heather Murape compra produtos para cabelo no Botswana e África do Sul que revende em Zimbabwe. |
JOHANNESBURG, 16 Janeiro 2007 (PlusNews) - São cerca de cem fotografias expostas na galeria do Market Photo Workshop, em Johannesburg, reportando as adversidades enfrentadas por mulheres envolvidas no comércio transfronteiriço entre a África do Sul e os países vizinhos.
Francas e emocionantes, as fotografias foram captadas por estudantes do Market Photo Workshop, de Johannesburg, em vários postos de fronteira da África do Sul.
“O que pretendemos com esta exposição é que o trabalho destas mulheres seja destacado e reconhecido”, disse Wilson Johwa, responsável da exposição, ao PlusNews.
A exposição, que conta com apoio da Organização Internacional para a Migração (OIM), espelha o quotidiano destas mulheres.
As fotografias retratam o ambiente nocturno, as longas noites que têm que passar nas fronteiras quando perdem o carro, suas frustrações, ansiedade e incerteza para além de um ambiente de promiscuidade que as torna vulneráveis ao HIV. Envolvem-se sexualmente com o pessoal dos serviços de migração que as deixa passar quando não tem dinheiro para taxas aduaneiras.
“Estas mulheres são exploradas pelo pessoal das fronteiras”, disse Johwa.
A Organização Internacional da Migração desenvolve um trabalho de advocacia junto de governos e organizações não governamentais a favor destas comerciantes.
“O que se pretende é aliviar a vulnerabilidade destas mulheres porque elas enfrentam vários problemas, como a falta de locais para acomodação quando anoitece; elas dormem nas ruas de qualquer maneira, e assim expondo-se ao HIV/Sida”, disse Reiko Matsuyama, da OIM, ao PlusNews
“Não basta distribuirmos preservativos, o mais importante é a consideração que deve haver para este grupo social porque é importante para a sociedade”, acrescentou.
Pouca informação, alto risco
Uma fotografia mostra um educador de HIV, demonstrando como usar uma camisinha com um pénis de madeira. Ele trabalha com a organização “Corredor de Esperança” junto dos negociantes e camionistas no congestionado posto de Beitbridge, entre Zimbabwe e África do Sul.
Um estudo da OIM achou que um terço das mulheres envolvidas no negócio transfronteiriço não eram capazes de explicar as formas de transmissão de HIV/Sida de mãe para o filho, e um quarto não sabia o que fazer para ter um sexo seguro.
Particularmente as mulheres de Moçambique e Malawi, países com altas taxas de seroprevalência, são as menos informadas. Moçambique tem uma taxa de 16.2 por cento e o Malawi 14.2.
As mulheres envolvidas no negócio transfronteiriços pouco exigem dos seus parceiros ocasionais o uso de meios de prevenção, segundo o estudo.
Chipo, de 44 anos, de Masvingo, Zimbabwe é um dos poucos casos de mulheres que tem informação sobre a Sida. Viúva, com dois filhos, desde 1994 vende vários produtos na África do Sul e na Zâmbia mas agora esta vende peças de artesanato no Botswana. Mas ela diz que o negócio não está a dar como antes.
“Estou muito atenta sobre as doenças que podem ser contraídas através de relações sexuais”, diz ela. “Não tenho namorado e estou mais concentrada no negócio”.
Mas outra jovem do Botswana, de 28 anos de idade, que vive em Gaborone, com seu namorado, e compra sapatos em Tanzânia para os revender no seu país, não tem informação nenhuma sobre a Sida.
O mesmo estudo aponta que o comércio transfronteiriço, a imigração, e o longo tempo passado fora de casa, aumentam o risco de contrair o HIV/Sida.
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