África English Français Subscrição IRIN Mapa do Sítio
PlusNews
Notícias e análises sobre HIV e Sida
Pesquisa avançada
 domingo 07 Outubro 2007
 
Página inicial 
África 
Compacto Semanal 
Reportagem aprofundada 
Eventos 
Empregos 
Really Simple Syndication Feed 
Acerca do PlusNews 
Doadores 
Contacto 
 
Versão impressa
AFRIQUE: Atenção para as cicatrizes das mulheres de Guiné-Bissau


Photo: IRIN
O segredo mais sagrado ao descoberto
LISBOA, 23 Fevereiro 2007 (PlusNews) - Os problemas referentes a mutilação genital feminina ganharam destaque em Portugal a partir da publicação do livro "Cicatrizes da Mulher” da jornalista Sofia Branco, em junho de 2006, que narra as tradições da excisão feminina em Guiné-Bissau e entre a comunidade guineense em Portugal.

A autora foi convidada para palestras internacionais e para entrevistas em jornais, revistas e TV. Até uma iniciativa parlamentar para proibir a excisão foi apresentada em Portugal.

Entretanto, esta idéia foi descartada, já que a comunidade guineense em Portugal considerou que uma lei específica sobre o fanado, como é conhecida a excisão em Guiné-Bissau, seria discriminação.

Branco também não é a favor de uma lei contra o fanado, pois acredita que por já existir uma lei que proíbe o atentado a integridade física, nenhum juiz dirá que a mutilação genital não se enquadra neste aspecto.

“Mais do que punir, é preciso prevenir”, diz Branco ao PlusNews.
A jornalista defende um registo nos hospitais, na altura do parto. “Este é o procedimento comum noutros países europeus”, lembra.

O registo facilita o acompanhamento médico e psicossocial das mães e a monitoria das filhas, que poderiam ser obrigadas a seguir a tradição.

Um inquérito sobre a excisão em 2003 revelou que este ritual era praticamente desconhecido no meio médico de Portugal. Branco aponta também a ausência de um código de ética médica sobre o assunto.

Grande risco do HIV

Em Guiné-Bissau, os fanados são quase sempre feitos no mato ou em barracas e as facas utilizadas pelas fanatecas (nome dado às mulheres que praticam a excisão), que vão sendo herdadas de gerações, não são esterilizadas nem descartadas, pois “perpetuam o sagrado”, segundo Branco.

Além do risco de infecção durante a excisão, o corte e as cicatrizes podem sangrar durante uma relação sexual, o que aumenta a chance de infecção do HIV.

“Há muitas mulheres em Guiné-Bissau que não se sabem bem por que têm a Sida, e o fanado poderia ser uma explicação”, diz a enfermeira e coordenadora da organização não governamental Sida-Alternag, em Bissau, Catarina Bai.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância estima que três milhões de raparigas em África e no Médio Oriente são sujeitas à mutilação genital todos os anos.

Em 30 dos 54 países africanos pratica-se este ritual, enquanto 16 aprovaram leis contra ele. O Protocolo de Maputo, um documento da União Africana, que condena essa pratica, entrou em vigor em Novembro de 2005.

No ano passado, o governo de Guiné-Bissau ressuscitou um projecto de lei que proíbe o fanado com multas e pena de prisão, elaborado em 2001 pelo Instituto da Mulher e da Criança (IMC), de parceria com organizações de direitos humanos, mas ainda não foi aprovado pelo parlamento.

Segundo Baió, a sensibilização até agora feita não tem produzido grande efeito nas fanatecas de Guiné-Bissau porque elas dependem do fanado para seu ingresso.

“Deveria haver um envolvimento de toda a sociedade, especialmente das mulheres emancipadas que passaram pelo fanado e que o não querem mais", diz.

Sofia Branco crê que esta prática é uma espécie de “identidade de etnias” e será prosseguida por mulheres mais jovens, pois se trata de um “legado sagrado que se quer transmitir”.

É por isso, explica, que muitos pais que hoje vivem em Portugal preferem que a excisão seja feita na Guiné-Bissau, no “chão da etnia a que pertencem, porque é terra sagrada”.

Para Branco, só com educação sistemática estas mulheres, na grande maioria analfabeta, poderão compreender os riscos.

“É necessário pressionar mais os poderes locais... Trata-se de um problema de saúde pública e não de sexualidade”, diz a jornalista.

Ainda este ano, o Programa das Nações Unidas para a Infância em Guiné-Bissau divulgará um estudo desenvolvido em 2006 sobre o fanado, informa a oficial de comunicação desta instituição em Bissau, Yolanda Correia.

Alternativa

Embora não seja aceito pelos mais tradicionais, a organização não governamental Sinin Mira Nassique (Pensem no amanhã para ser, na língua mandinga) propõe um “fanado alternativo” (ritual sem o corte) em Guiné-Bissau.

No fanado alternativo defende-se que se afaste o corte do clitóris pela fanateca e se mantenha a passagem ritual.

Na cerimónia tradicional, as fanadozinhas (meninas a excisar) recebem uma educação sobre comportamento, respeito em relação aos mais velhos, conhecimentos do alfabeto e transmissão de segredos mágicos dos seus grupos étnicos.

O projecto alternativo mantém tudo isto e introduz noções sobre direitos das crianças e regras de higiene, cuidados básicos de saúde e prevenção do HIV e do paludismo - sem mutilação do corpo feminino.


Tema(s): (IRIN)

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
Versão impressa
Assinaturas gratuitas
Seu endereço de e-mail:


Envie sua solicitação
 Mais sobre Afrique
16-Fev-2007
AFRIQUE:
16-Fev-2007
AFRIQUE: Corrida Solidária em prol de órfãos moçambicanos
12-Fev-2007
AFRIQUE: Ressano Garcia e Portugal em marcha contra o HIV
09-Fev-2007
AFRIQUE: Países criam rede de luta contra a Sida
18-Jan-2007
AFRIQUE: Comunidades de imigrantes africanos precisam saber da SIDA
 Mais sobre 
15-Ago-2007
ISRAEL-SUDAN: Safia A., Israel, “My husband was killed in Darfur in an attack on aid workers”
08-Mar-2007
ANGOLA: Não há feriado para a Sida entre as mulheres
08-Mar-2007
GLOBAL: Livro sobre violência sexual durante as guerras
13-Fev-2007
SOMÁLIA: Entre elas, as mulheres conversam melhor sobre a Sida
12-Fev-2007
MOÇAMBIQUE: Os contornos do corte vertical em Manica
Retroceder | Página inicial

Serviços:  África | Rádio | Filme & TV | Foto | Subscrição
Contacto · E-mail Webmaster · Termos e Condições · Feed de Notícias Feed de Notícias · Acerca do PlusNews · Adicionar aos favoritos · Doadores

Direitos Autorais © IRIN 2007. Todos os direitos reservados.
Este material chega até você via IRIN, o serviço de notícias e análises humanitárias do Gabinete para a Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas. As opiniões expressadas aqui não reflectem necessariamente a opinião da ONU ou dos Estados Membros. A republicação está sujeita aos termos e condições determinadas na página do copyright IRIN.