ANGOLA: Não há feriado para a Sida entre as mulheres
LUANDA, 8 Março 2007 (PlusNews) - O dia de hoje, Dia Internacional da Mulher, pode ser feriado nacional em Angola, mas para Maria de Lourdes Veiga - presidente do Grupo de Mulheres Parlamentares, deputada pelo Movimento Popular de Libertação de Angola, e presidente da primeira associação de mulheres seropositivas de Angola, Mwenho - não ha feriado para a sua grande preocupação: as mulheres e a Sida.
No seu escritório situado no fundo do prédio da Assembléia Nacional, Veiga percorre as razões da vulnerabilidade das mulheres ao HIV/Sida. Ela começa com uma afirmação de choque sobre a repartição entre os sexos em Angola.
“A verdade é que nós somos em número muito maior que os homens”, diz ela. “O último recenseamento foi feito em 1961, então não se pode ter certeza, se a proporção for de sete mulheres para um homem, ou até de três para um... muitos homens morreram na guerra e a maior parte dos angolanos tem muitas, muitas parceiras".
Estima-se que a população seja de cerca de 15 milhões, e 2,5 por cento são seropositivos – entre 350.000 e 400.000 angolanos.
Esposas confusas e vulneráveis
Veiga afirma que uma solução seria encorajar o uso do preservativo não somente nas relações extraconjugais mas também entre marido e esposa, mas poucas mulheres tem coragem de propor tal solução.
“As mulheres não acham que tem o direito de pedir que seus maridos usem o preservativo”, explica Lourdes Veiga. “Esta idéia é confusa para elas mesmas, porque usar o preservativo significaria aceitar que seu marido tem outra mulher".
As mulheres temem que se insistirem no uso do preservativo, seus maridos as abandonem, e elas sofreriam não só a humilhação, mas também dificuldades financeiras.
A Coligação Mundial das Mulheres, um órgão da ONUSIDA criado em 2002, aponta que, ao contrário do que se pensa, a mulher casada é ainda mais vulnerável ao vírus do que as mulheres solteiras de mesma idade.
Primeiro porque fazem sexo com muito mais frequência que as solteiras e segundo porque o uso do preservativo é muito menor nas relações sexuais estáveis que nas ocasionais.
“E todos sabemos da dificuldade que existe dessas mulheres casadas negociarem com seus maridos o uso do preservativo,” diz o coordenador nacional do Onusida, a agência das Nações Unidas especializada no HIV/Sida, o Dr. Alberto Stella.
Sexo entre jovens
Roberto Brant Campos, conselheiro do Onusida, em Luanda, está preocupado com o número de meninas que voluntariamente ou involuntariamente tem relações sexuais.
“A chance de uma menina adolescente contrair o HIV é seis vezes maior que as de um menino”, confirma Campos. “E um terço das prostitutas em Luanda são seropositivas”.
Ele acrescenta que 25 por cento das meninas de 15 anos ou menos admitem que sua primeira relação sexual foi violenta. Campos concorda com Lourdes Veiga sobre o papel da pobreza neste contexto.
“Estas meninas não podem negociar com homens mais velhos”, diz Campos. “Algumas delas aceitam fazer sexo em troca de pouco dinheiro, porque são pobres”.
Numa esquina da Maianga, um bairro residencial de Luanda, um grupo de “quatorzinhas” (jovens que trocam sexo por dinheiro ou favores) conversa com PlusNews.
Uma delas diz: “Se os homens não trazem camisinha, eu não compro. Muitos homens pagam mais sem camisinha, e eu prefiro assim.”
Ela corta a conversa para correr atras de um carro conduzido por um homem que tinha estacionado mais a frente.
A ignorância sobre a Sida coloca muitos jovens em situações de risco. Segundo Campos, somente 17% dos jovens entrevistados de 15 anos ou menos disseram ter usado um preservativo em suas relações mais recentes.
A questão é como reduzir a vulnerabilidade das mulheres e meninas ao HIV e impedir a sua propagação. Veiga acredita que a resposta esteja na educação e no crescimento econômico.
“Eu realmente não sou a favor de encorajar a abstinência”, diz ela, sorrindo. “O sexo é um prazer e uma necessidade biológica. Eu sou pelo sexo seguro com o uso do preservativo”.
Homens e mulheres, diz ela, precisam mudar suas atitudes. As mulheres devem tomar o controlo das suas vidas, em igualdade com os homens. E ela acredita que, eventualmente, os homens aceitarão esta mudança.
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Tema(s): (IRIN)
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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