ANGOLA: O fim da dúvida e um novo começo
LUANDA, 25 Setembro 2007 (PlusNews) - Conheci meu marido aos 25 anos, em 1995, e dois anos depois, nascia meu primeiro filho, Jano.
Em 2000, comecei a ficar doente. Tive uma diarréia aguda e fiquei internada durante 15 dias. Um dia, o médico me disse que, se a diarréia não parasse, ia me levar para fazer o teste do HIV. Eu comecei a gritar, porque não podia nem imaginar ter essa doença.
No outro dia, o médico apareceu e eu menti que já estava boa. Recebi alta, mas fui para casa a rezar para que a diarréia não me atacasse no autocarro. Tinha mais medo do teste do que da diarréia, porque só o que se ouvia é que Sida mata e era doença de prostituta.
No final de 2001, fiquei grávida novamente. Durante a gravidez, tive muitas infecções e uma ameaça de aborto. Às vezes, eu me lembrava da recomendação do médico de fazer o teste de HIV. Fiz as consultas pré-natais e minha filha Elídia nasceu em uma maternidade em Luanda, em 2002, mas nunca me pediram para fazer o teste.
Meu bebé nasceu com muitas infecções e não se desenvolvia. Aos 9 meses, quando ela recebeu a vacina contra o sarampo, teve febre alta e começou a vomitar sem parar. De um dia para o outro, ela virou um esqueleto. No Hospital Maria Pia, eu passava o dia na Nutrição a dar papinha para ela. Mas não adiantou: daí a oito dias, minha filha morreu.
Disseram-me que ela morreu de desnutrição. Após a morte da minha filha, passei um ano a pensar se ela tinha ou não Sida. Mas ainda não tinha coragem de fazer o teste.
Medo paralisante
Passei o ano de 2003 a trabalhar como recepcionista na Clínica Santa Clara, sem ficar doente. Mas em 2004, a luta recomeçou. Em Fevereiro, acordei uma madrugada com uma dor na barriga que me fazia gritar. Consegui rastejar para pedir ajuda. Passei a noite curvada no hospital, sem lugar para ficar. De manhã, o médico me receitou antibióticos, que me fizeram piorar. Tive que ser operada de apendicite.
Quinze dias depois, a herpes me atacou no corpo todo. Doía tanto que eu achava que os médicos haviam esquecido uma tesoura dentro da minha barriga. Eu gritava que ia morrer o dia todo. Meu marido me abandonou.
Fiquei de cama de Fevereiro a Outubro de 2004, porque, após a herpes, tive uma diarréia tão forte que mal conseguia andar.
Mas nem assim eu tinha coragem de fazer o teste.
Foi quando apareceu na minha casa a Irmã Crista, da União Bíblica de Angola, que me convenceu a fazer o teste. Eu já sabia qual seria o diagnóstico.
Quando soube que era seropositiva, minha maior preocupação foi com meu filho. Graças a Deus, deu negativo.
Fui também conversar com meu ex-marido. Ele me disse que a culpa era minha. Algum tempo depois, quem ficou doente foi ele. A família o discriminou e ele ficou sozinho. Era eu quem ia lá dar comida, cuidar dele. A nova mulher dele e os filhos também são seropositivos. Há pouco tempo, ele soube que a primeira mulher, com quem viveu antes de mim, também morreu por causa da Sida.
Comecei a tomar ARVs em 2004 e nessa época a Irmã Crista me levou à ONG Luta pela Vidha, onde conheci outras seropositivas e resolvi ser activista.
Durante uma formação, uma colega me convidou para participar da Mwenho, uma associação de mulheres seropositivas. Em 2005, éramos poucas. Agora, somos muitas e daqui já não saio.
Hoje, estou bem. Não fiquei mais doente, meu filho está saudável e já tenho até um novo namorado. Desde que me tornei activista, muita coisa mudou. Consigo ser mais aberta sobre o assunto, a maioria dos meus familiares sabem. Eu tenho ajudado muita gente.
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Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento, (IRIN) Gênero, (IRIN) Prevenção, (IRIN) PVHS/ONGs
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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