ÁFRICA-ÁFRICA AUSTRAL: Um convite para entrar em Nosso Mundo
Photo: Greg Marinovich/South Photographs |
Nosso Mundo: Sida e Infância na África Austral traz histórias como a de Sifiso Hlongwe, de 16 anos, que perdeu a mãe em consequência da Sida em KwaZulu-Natal, África do Sul |
JOHANNESBURG, 28 Junho 2007 (PlusNews) - “Minha irmã tem seis anos. Não há adultos morando conosco. Precisamos de uma pia no banheiro e roupas e sapatos. E água também, dentro de casa. Mas especialmente, precisamos de alguém que nos coloque para dormir à noite.”
É com essa frase que Apiwe, de 13 anos, abre o livro Nosso Mundo: Sida e Infância na África Austral (Our World: Aids and childhood in southern África, em inglês). O livro é uma colecção de histórias de vidas atingidas pela Sida e o preço exorbitante que a infância africana paga diariamente por causa da doença.
Dividido em quatro capítulos – Doença, Tratamento, Sobrevivência e Mãos que Ajudam –, a publicação traz o drama do vírus HI e da Sida a partir dos olhos de crianças e adolescentes, literalmente.
O livro inova ao munir alguns de seus protagonistas com uma câmera fotográfica descartável para que eles registem a própria realidade, com todos seus personagens, dificuldades e alegrias.
O resultado é uma documentação minuciosa e sem cortes da vida desses jovens. “Se minha mãe e meu pai estivessem vivos hoje, eu diria a eles: ´A vida tem sido muito difícil desde que vocês foram embora´.”, resume Brighton Gweshe, de 16 anos.
Desde que ficou órfão há oito anos, Gweshe cuida de seu irmão mais novo, Collins. Como ele, muitos outros adolescentes se tornaram responsáveis pela família após a morte dos pais.
O livro também captura momentos decisivos nas vidas dos atingidos pela epidemia, direta ou indiretamente: a morte de pais e filhos, a luta de crianças e adolescentes abandonados à própria sorte e as diferentes formas encontradas para se conviver com a situação.
A foto de capa mostra a reviravolta que a Sida traz à vida dessas crianças: Sifiso Hlongwe, de 16 anos, passa a roupa que usará no funeral de sua mãe, que morreu em consequência da Sida.
Photo: Eva-Lotta Jansson/IRIN |
Muitos adolescentes se tornam chefes de família depois da perda dos pais em decorrência da Sida. Lineo Makojoa, de 15 anos, cozinha para seus avós e seu irmão mais velho em Lesotho |
Essas histórias dão rostos às estatísticas por trás da epidemia. A Sida já matou mais de 25 milhões de pessoas desde seu início e mantém 40 milhões de pessoas reféns de seus efeitos. A África concentra cerca de 65 por cento dos casos de HIV no mundo e as crianças têm sido especialmente afectadas. Muitas se tornam chefes de família, cuidando de pais doentes ou irmãos mais novos. No continente africano, mais de 2 milhões de crianças são seropositivas e 500 mil crianças abaixo de 15 anos precisam de tratamento.
Diário de bordo
Mas mostrar que nem todas as histórias precisam ter um fim triste é um dos objectivos do livro. Desejos como “Eu quero ser médico”, que é uma aspiração de vários jovens, se tornaram mais palpáveis, graças ao advento dos antiretrovirais, e a acção de indivíduos e organizações. ONGs, igrejas e comunidades têm provado que é possível proporcionar assistência, educação e alguma perspectiva de futuro a essas crianças.
A última parte do livro foca exactamente nesse aspecto da resposta à Sida: a fundamental actuação de facilitadores e voluntários, numa espécie de diário de bordo.
O que fica claro é que quando se trata da reacção ao HIV, trabalho, obstáculos e comprometimento andam de mãos dadas. Muitos deles são tão pobres quanto seus clientes e enfrentam todos os tipos de percalços para chegar às comunidades ou prover atendimento.
“Mas é uma cura, sabe? É uma forma de cura; é uma maneira de aliviar o stress. De verdade. Mesmo quando estou cansada, sei que se for ao coral, vou cantar e ficar bem”, diz Khululiwe Mtshali, facilitadora da Cruz Vermelha, sobre as actividades do coral da organização.
Para alguns facilitadores, a Sida foi a mola propulsora para uma vida dedicada a essas vítimas. O ex-menino de rua Venancius Rukero, seropositivo, encontrou na doença sua vocação: montou um orfanato em Windhoek, capital da Namíbia, em que abriga também crianças seropositivas.
“Eu vi que o HIV não precisa dar um fim à sua vida; para mim, foi apenas o começo dela”, diz.
Ao unir dois pontos da mesma história Nosso Mundo: Sida e Infância na África Austral faz uma dupla conquista: pinta um retrato marcante e fiel do que é ser uma criança entre os destroços deixados pela Sida, mas traz também a janela de possibilidade de que as coisas podem ser diferentes.
O livro Nosso Mundo: Sida e Infância na África Austral é uma parceria entre as Redes Regionais Integradas de Informação do Gabinete para Coordenação de Assuntos Humanitários da Organização das Nações Unidas e a Federação Internacional da Cruz Vermelha.
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Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento, (IRIN) Prevenção, (IRIN) Estigma/Direitos Humanos/Leis , (IRIN) Juventude
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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