ÁFRICA AUSTRAL: PlusNews lança livro de fotos
Photo: Eva-Lotta Jansson/IRIN |
Lineo Makojoa, 15, de Ha Majoro Village, Lesoto, prepara o jantar para seus avós e seu irmão mais velho. Os pais dela morreram em decorrência da Sida. |
JOHANNESBURG, 29 Junho 2007 (PlusNews) - O termo “órfão da Sida” é enganoso. Ele sugere que a criança é seropositiva, o que nem sempre é o caso, e perpetua o estigma e a discriminação de que são vítimas as crianças afectadas pelo HIV/Sida.
O termo “crianças órfãs e vulneráveis” é mais comumente usado para melhor exprimir o impacto devastador da pandemia nas famílias, mesmo antes da morte dos pais.
Define-se geralmente “órfão” toda criança menor de 18 anos que perdeu um ou ambos os pais. Daí pode ser “órfão” ou “duplo órfão” respectivamente.
Cerca de 50 por cento dos órfãos têm entre 10 e 14 anos; 35 por cento, entre cinco a nove anos, e 15 por cento entre zero a quatro anos.
Tragicamente, crianças seropositivas não sobrevivem o tempo suficiente para que se possa avaliar sua proporção.
Em países como Angola, Malauí e Zâmbia, a maioria dos órfãos está em centros urbanos; na Namíbia, Zimbabwe, Botswana, Lesoto, Suazilândia e África do Sul, eles vivem principalmente em zonas rurais, consequência da migração dos pais doentes que voltam a seus vilarejos natais para morrer.
Grande parte dos órfãos vive com o pai ou a mãe que sobreviveu, mas as mulheres são mais suscetíveis de assumir não somente a responsabilidade de suas próprias crianças, mas também de outros órfãos.
Os homens geralmente são mais bem preparados para cuidar de meninos órfãos do que de meninas, e os avós são os “salva-vidas” quando não há outra opção.
A Sida empobrece as famílias, e as famílias dirigidas por mulheres são as mais pobres de todas. Bens de produção tais como animais de transporte geralmente são vendidos, o que compromete o cultivo e agrava a crise.
Trauma psicológico
A drástica diminuição do rendimento familiar e a carga de trabalho adicional que incumbe às crianças reduzem suas chances de ir à escola; por outro lado, a ansiedade em relação aos adultos doentes e o trauma da perda de um dos pais pode fazer com que as crianças tenham dificuldades em acompanhar o ritmo da classe.
Segundo um relatório do Congresso norte-americano, “é comum que os professores relatem que os órfãos sejam distraídos, tenham uma frequência irregular, venham à escola atrasados e sem preparação, ou não participem nas aulas.”
O impacto psicológico da perda de um dos pais é amplificado se os irmãos são separados quando as famílias dividem a responsabilidade de sua educação.
Ao viver separados em novas famílias estas crianças podem sentir falta de amor e atenção. Meninas correm um risco maior de abuso sexual, mas são pressionadas a manter o silêncio porque não têm com quem contar.
Novas pesquisas sugerem que a pobreza é o factor mais importante que afecta a educação das crianças, órfãs ou não.
Um estudo efectuado na província sul-africana de KwaZulu-Natal, que testou as teorias mais comuns sobre o bem-estar das crianças órfãs, demonstrou que não havia uma diferença significativa na maneira como a família próxima cuidava das crianças, que elas tivessem ou não perdido pai ou mãe.
Segundo Timothy Quinlin, director da Divisão de Pesquisa da Economia de Saúde e HIV/Sida da Universidade de KwaZulu-Natal, “as condições de vida de uma criança podem ser muito ruins somente porque os pais são pobres.”
Estudos sobre crianças afectadas pelo HIV/Sida têm tido a tendência de basear-se em índícios casuais e a concentrar-se no facto de que os órfãos representam uma ameaça para a sociedade por constituirem uma geração agressiva e mal-ajustada.
O que as pesquisas psicosociais existentes revelam é que crianças de famílias afectadas pelo HIV/Sida mostram mais sinais de depressão, ansiedade, reações psicossomáticas e stress pós-traumático; elas são também mais suscetíveis de ter uma baixa auto-estima e de adoptar comportamentos agressivos.
A pobreza acentua a vulnerabilidadedas destas crianças: um rápido estudo na Zâmbia mostrou que existe um grande número de órfãos entre os trabalhadores do sexo e as crianças de rua.
A exploração do trabalho infantil também preocupa. O problema não é a ameaça que estas crianças representam para a sociedade, mas o perigo que elas correm por serem negligenciadas e discriminadas por esta mesma sociedade.
O que precisa ser feito?
A Convenção sobre os Direitos da Criança reconhece os direitos das crianças e afirma que os governos são os principais responsáveis em fazer com que estes direitos sejam respeitados.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância evidenciou cinco prioridades para que este objetivo seja atingido:
- aumentar a capacidade das famílias – e não das instituições – de proteger e cuidar dos órfãos e outras crianças vulneráveis pour causa do HIV/Sida;
- mobilizar e melhorar as respostas comunitárias;
- garantir o acesso dos órfãos a serviços essenciais, principalmente à educação;
- garantir a protecção dos governos às crianças mais vulneráveis;
- sensibilizar as populações a fim de criar um ambiente sustentador para as crianças afectadas.
Estas ações corretivas devem ser acompanhadas de um melhor acesso aos medicamentos antiretrovirais que permitem manter os pais vivos por mais tempo e de programas de prevenção mais eficazes para evitar, em primeiro lugar, a infecção pelo HIV.
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Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento
[FIM] |
[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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