ÁFRICA AUSTRAL: Falta de trabalhadores da saúde é obstáculo contra ampliação do tratamento antiretroviral
JOHANNESBURG, 29 Maio 2007 (PlusNews) - A escassez de trabalhadores da saúde está a comprometer tanto a qualidade como a disponibilidade dos cuidados de HIV/Sida na África Austral, alertou na última quinta-feira a organização internacional humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF).
Num relatório (ler) sobre esta situação em Moçambique, Lesotho, Malawi e África do Sul, a MSF alerta que mais de um milhão de pessoas necessitam de tratamento antiretroviral (TARV) nestes países e, devido à falta de recursos humanos, grande parte destes doentes não está a ser contemplada.
Em Moçambique, onde a seroprevalência é de 16.2 por cento para uma população de 19.8 milhões, existem pouco mais de 600 médicos, sendo que a metade trabalha na capital Maputo.
Com isso, é muito comum nas zonas rurais a sobrecarga dos trabalhadores da saúde e a superlotação das clínicas, informa o relatório.
“Este é o principal obstáculo para o avanço do TARV aqui”, disse David Nhantumbo, técnico de medicina da MSF em Moçambique.
Com a meta de passar dos actuais 57.440 a 95 mil seropositivos em tratamento até o final deste ano, o Ministério da Saúde de Moçambique estima que seriam necessários mais 130 médicos, 125 técnicos de medicina, 580 enfermeiras e auxiliares de enfermagem, 90 farmacêuticos e 29 profissionais de laboratório.
“Todos os enfermeiros do país (4.220) deveriam estar aptos a fazer o tratamento (antiretroviral)”, comentou Nhantumbo.
Segundo o documento da MSF, a falta de médicos na África Austral – menos de dois para cada 10 mil habitantes – faz justamente com que outros profissionais de saúde, como os enfermeiros, assumam vários cuidados de saúde. Mesmo assim, ainda não é suficiente.
Rachel Cohen, chefe da missão da MSF no Lesotho, atribuiu parte do problema a expansão dos esforços de tratamento na região, que provoca migração do pessoal para países que oferecem melhores salários e menor carga de trabalho.
“No Lesotho, por exemplo, existem apenas 89 médicos, 80 por cento dos quais são de outros países africanos que aguardam certificação na África do Sul para melhores salários”, disse ela à IRIN/PlusNews.
O Lesotho, além de ter a terceira mais elevada taxa de seroprevalência no mundo, com 23.2 por cento para uma população de 1.8 milhão, é também classificado como 149º mais pobre, numa lista de 170 países.
Verónica Chifaka, uma enfermeira chefe que trabalha com a MSF no Malawi, onde a seroprevalência é de 14.1 por cento para uma população de 13 milhões, diz que a taxa de vagas de enfermagem nas zonas rurais é de 60 por cento.
“O pouco pessoal que temos disponível não só está sobrecarregado de trabalho, mas está também a morrer de doenças relacionadas ao HIV.”
Mesmo na África do Sul (seroprevalência de 18.8 por cento e população de 46.9 milhões) que os trabalhadores da saúde são mais bem pagos do que na maioria de outros países da África Austral, a distribuição desigual e o a insuficiência de pessoal está a causar atrasos na expansão do tratamento.
O chefe da missão da MSF na África do Sul, Eric Goemaere, disse que o financiamento restrito dos doadores não está a ajudar a situação.
“Apesar do vasto conhecimento da crise pelos doadores, eles não mostram vontade de cobrir os ‘recorrentes custos’ dos salários do pessoal da saúde. Em vez disso, eles constroem mais clínicas sem pessoal para lá trabalhar.”
Dr. Goemaere acrescentou ainda que as pessoas seropositivas não precisam só de medicamentos e clínicas, mas de trabalhadores de saúde treinados e motivados para diagnosticar, monitorar e prestar-lhes cuidado.
“A presente participação dos doadores equivale a arrumar as cadeiras enquanto o Titanic está a afundar”, finalizou.
Número de trabalhadores da saúde para cada 100 mil habitantes
País
|
Médicos
|
Enfermeiros
|
Outros
|
Moçambique
|
2.6
|
20
|
34
|
Lesoto
|
5
|
62.6
|
68.16
|
Malawi
|
2
|
56.4
|
58
|
África do Sul
|
74.3
|
393
|
468
|
Estados Unidos
|
257
|
901
|
1147
|
Reino Unido
|
222
|
1170
|
1552
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Mínimo Indicado pela Organização
Mundial da Saúde
Fonte: MSF
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29
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100
|
228
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Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento
[FIM] |
[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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