MALAUÍ: Lentidão na prevenção da transmissão vertical
Photo: IRIN |
Novidade: envolvimento dos homens na gravidez das suas esposas |
ZOMBA, 11 Dezembro 2006 (PlusNews) - Apesar de haver meios que reduzem a menos de um por cento a transmissão vertical do HIV, esta infecção é a segunda mais comum no Malawi, atrás apenas do sexo desprotegido.
Estima-se que anualmente 30 mil bebés sejam infectados por suas mães.
Em 2005, 5.054 mulheres receberam o Nevirapine, um medicamento antiretroviral (ARV) que reduz em 40 por cento os riscos de infecção mãe-filho. É quase o dobro do número de mulheres que receberam esta profilaxia em 2004.
Entretanto, segundo o Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/SIDA (Onusida), apenas três por cento das mulheres grávidas no Malawi que participaram do Programa de Prevenção da Transmissão Vertical (PTV).
“É verdade que não progredimos muito em comparação aos programas de tratamento, cuidado e apoio”, diz o coordenador do PTV do governo, Michael Eliya.
Uma das razões disso foi a demora em encontrar alguém para supervisionar o programa, explica.
Eliya ressalta ainda que apenas 22 por cento dos 542 centros de saúde que fornecem atendimento pré-natal oferecem PTV.
No Hospital Distrital de Zomba, 70 quilómetros a leste da cidade comercial de Blantyre, onde 250 mulheres dão à luz mensalmente, a coordenadora do PTV, Margaret Chindiwo, dirige o programa num escritório emprestado com o auxílio de somente um assistente de supervisão de saúde, categoria mais baixa da área.
Oficialmente, a política nacional é de fazer o teste de HIV a todas as mulheres grávidas, excepto se recusarem.
Mas na verdade, diz Chindiwo, muitas mulheres só vão ao hospital para ter o bebé, sendo tarde demais para testá-las.
Segundo Chindiwo, algumas mães recorrem ao atendimento pré-natal nos centros de saúde locais, mas nem todos os centros oferecem testagem de HIV, muito menos PTV.
Apoio dos homens...
Em Zomba, a organização médica humanitária Dignitas International, com sede no Canadá, promove um maior envolvimento dos homens no PTV.
A coordenadora desse programa, Isabelle Mayuni, informa que a maioria das mulheres não se abre com seus maridos por medo.
“As mulheres no Malawi dependem dos seus maridos para tudo, elas não têm poder algum. Eu vi mães que foram abandonadas por seus maridos quando revelaram a seropositividade”, explica.
Sem o apoio dos maridos, as mulheres raramente são capazes de seguir os conselhos sobre a alimentação ou evitar uma outra gravidez.
Espera-se, diz Mavuni, que se os homens forem encorajados desde cedo a acompanhar as suas esposas às clinicas pré-natais, eles irão apóia-las se o teste for positivo.
Recentemente, Mayuni falou com 30 pais da vila, mas o envolvimento na gravidez das suas esposas era um conceito desconhecido.
Agora, com a aprovação implícita de um grupo de anciãos locais presentes no debate, Mayuni encorajou-os a acompanharem as suas esposas às clínicas pré-natais e ao hospital no dia do parto.
Alguns pareciam indecisos. Um deles manifestou o seu medo de que a equipa médica da clínica o obrigasse a tomar algum remédio para evitar que ele engravidasse a sua esposa.
Um outro perguntou o que deveria fazer se não pudesse levar sua esposa ao hospital a tempo.
Mayuni explicou que as mulheres que vão a uma clínica pré-natal durante o oitavo mês de gravidez levam Nevirapina para casa.
... e das parteiras
Para aquelas que não vão às clínicas, a Dignitas ensina às parteiras tradicionais as bases da transmissão de mãe para filho.
A má condição das estradas e a falta de transporte a preços acessíveis obrigam quase a metade das mulheres malawianas a dar à luz em casa, geralmente com a ajuda de parteiras tradicionais.
Ngasamale Alabi auxilia no parto de mulheres da sua vila, há 30 anos. “Foi me revelado num sonho, ninguém me ensinou”, diz ela, na cabana degradada, que serve de sala de parto.
Desde que frequentou uma formação de dois dias para minimizar os riscos de infecção da mãe para o filho, ela encaminhou duas clientes com sinais do HIV à clínica pré-natal para testagem, e agora usa luvas nos partos.
Mayuni tem certeza de que com mais treinamento, as parteiras tradicionais poderiam também monitorizar as jovens mães seropositivas.
“As mães deveriam retornar ao hospital após o parto, e se elas não o fazem, nós deveríamos procurá-las, mas não temos pessoal para isso”, diz Sarah Nafere, coordenadora do PTV do Hospital Distrital de Nkhata Bay, ao norte do país.
O governo pretende treinar assistentes de supervisão de saúde para o acompanhamento, mas Eliya admite que eles já estão sobrecarregados.
Enquanto isso, parteiras tradicionais como Alabi ocupam uma posição privilegiada para acompanhar as jovens mães e aconselhá-las a amamentar somente até os seis meses, o que é geralmente indicado às mães malawianas HIV+.
A maioria delas não tem escolha, porque os centros de saúde não têm estoques de leite artificial.
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Tema(s): (IRIN) , (IRIN) Prevenção
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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