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UGANDA: Campanhas contra sexo entre gerações


Photo: PSI
Cartaz da campanha contra sexo entre gerações da organização não-governamental PSI: "Você pode querer o telefone, os jantares e as roupas bonitas... mas você precisa do HIV?"
NAIROBI, 13 Setembro 2007 (PlusNews) - Em muitas partes do Uganda, como em muitas partes do mundo, é aceitável que um homem seja muitos anos mais velho que sua esposa. Por isso, quando a Serviços da População Internacional (PSI, em inglês), uma organização não-governamental (ONG) de marketing social, lançou recentemente uma campanha contra sexo entre diferentes gerações no país, um inflamado debate teve início.

“É verdade que é a norma social homens mais velhos casarem com mulheres mais jovens, mas o PSI está a desafiar esta norma, a menos que seja uma relação marital”, disse Julius Lukwago, gestor de comunicação da PSI Uganda.

Para o propósito da campanha, o PSI definiu sexo entre diferentes gerações como uma relação não-marital entre uma jovem entre 15 e 24 anos e um homem pelo menos 10 anos mais velho do que ela.

O objectivo da campanha da PSI – veiculada no rádio, televisão e cartazes, e expandida a “Clubes de Pessoas Determinadas” nas universidades – é reduzir novas infecções pelo HIV entre jovens mulheres vulneráveis.

A seroprevalência entre moças entre 15 e 24 anos é quatro vezes maior que entre rapazes da mesma idade. Em Uganda, a seroprevalência entre homens atinge o pico no grupo dos 35 a 44 anos, onde se encontra a maioria dos sugar daddies – homens mais velhos que namoram e sustentam meninas muito mais jovens.

Um estudo de 2003 da universidade norte-americana Johns Hopkins concluiu que a diferença de idade entre as jovens e seus parceiros era um factor de risco de HIV significativo, sugerindo que o alto nível de infecção pelo HIV entre as raparigas era causado, pelo menos em parte, por transmissão por parceiros mais velhos.

Mas muitos ugandeses dizem que a campanha da PSI está a atacar relações “normais”, já que uma diferença de 10 anos entre um casal não é incomum. “Em alguns cartazes, o homem aparenta ter trinta anos e a rapariga parece estar na universidade – esta é a relação típica”, disse Denis Jjuuko, da Prime Time, uma empresa local de relações públicas.

Jjuuko salientou que os homens ugandeses tradicionalmente sustentam suas esposas ou parceiras, e que a dinâmica económica de uma relação de sugar daddy está perfeitamente dentro das normas sociais. “Eles precisam abordar as causas do fenómeno sugar daddy, que são as dificuldades económicas – pobreza”, disse.

Patricia Wamala, da ONG para juventude e saúde reprodutiva Fundação Straight Talk, parceira da PSI na campanha, disse que o enfoque da iniciativa era menos sobre a diferença de idade e mais sobre as dinâmicas de poder na relação entre diferentes gerações.

''Eles precisam abordar as causas do fenómeno sugar daddy, que são as dificuldades económicas - pobreza.''
“Os homens pressionam as meninas a fazer sexo, muitas vezes sem protecção, presenteando com propinas escolares e dinheiro – é mais este o problema que a diferença de idade”, disse. “No entanto, uma menina de 15 anos não tem capacidade para tomar decisões informadas quando se trata de sexo.”

A Straight Talk também está a estender a campanha às escolas secundárias, com alvo principalmente nas raparigas maiores, e a formar monitores para ensinar as estudantes sobre planejamento de vida, sexo e sexualidade, e estabelecimento de objectivos.

Mudar as percepções da sociedade

Se é fácil chegar às meninas através das escolas, Lukwago, da PSI, admitiu que é muito mais dificil chegar aos sugar daddies. “É um desafio, porque é difícil identificar estes homens mais velhos”, disse.

“Contudo, durante as discussões do nosso grupo focal, concluímos que o que tem impacto sobre eles é a idéia de suas próprias filhas se envolverem em relações semelhantes”, comentou. “Assim, em nossa campanha na rádio e na televisão mandamos a mensagem de que um outro homem pode ser o sugar daddy de sua filha.”

Jovens meninas precisam desenvolver auto-estima e auto-valorização fortes para resistir aos avanços de homens mais velhos, e a PSI atraiu patrocinadores que oferecem estágios a membros de “Clubes de Pessoas Determinadas”.

“Damos a estas meninas uma oportunidade para trabalhar com empresas como Coca-Cola, Total e Banco Stanbic para que elas saibam o que é um ambiente de trabalho e desenvolvam o desejo por esse tipo de rendimento, em vez de dinheiro do sugar daddy”, disse Lukwago.

A PSI também estava a encorajar discussões francas sobre sexo entre pais e seus filhos adolescentes, tradicionalmente um tabu na maioria das culturas do Uganda, para construir uma rede de apoio a adolescentes.

“Tenho andado envolvido em dar estágios a estudantes universitárias, mas elas desprezam alguns trabalhos menores, como na indústria de serviços de alimentação”, disse Jjuuko. “Elas precisam ser encorajadas a começar a gerar seu próprio rendimento, e a aprender que a pessoa deve começar de baixo e ir subindo.”

David Kasasa, deão dos estudantes da Universidade Nkumba do Uganda, concordou, e disse que o desejo das meninas por bens materiais é o que as empurra para relações com homens mais velhos. Relações entre diferentes gerações são muito comuns em sua universidade.

“Elas querem viver acima de seu padrão; elas querem os telefones celulares, as roupas e os penteados que este dinheiro lhes dá”, disse. “Os ´Clubes de Pessoas Determinadas´ é uma boa iniciativa, porque as meninas vêem que podem conseguir estas coisas sozinhas, sem precisar de um homem.”

Kasasa disse que a frequência aos encontros do "Clube das Pessoas Determinadas" na universidade aumentou significativamente desde o lançamento da campanha.

Susan Kaneche*, uma estudante do segundo ano de administração pública na Universidade Cristã do Uganda, disse acreditar que a campanha será efectiva porque fez as meninas pensarem sobre as consequências de seus actos.

“Na TV, tu vês este homem, e quando eles dizem que ele tem HIV tu ficas com medo do que podia acontecer se tivesses uma relação com ele”, disse. “Isso faz-te olhar para além do telefone e das roupas bonitas que ele pode te comprar.”


Tema(s): (IRIN) Artes/Cultura, (IRIN) Gênero, (IRIN) Prevenção, (IRIN) Juventude

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
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