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ÁFRICA DO SUL: Estudos sobre microbicidas – o que as participantes ganham?


Photo: Kristy Siegfried/PlusNews
Zanele é uma das 2.600 sul-africanas que participaram de um estudo clínico de um gel microbicida que, cientistas esperam, vão ajudar mulheres a se prevenir contra a infecção pelo HIV
JOHANNESBURG, 10 Setembro 2007 (PlusNews) - Por que uma mulher aceitaria ser voluntária para usar um produto que pode ou não protegê-la da infecção pelo HIV, submeter-se a uma longa série de exames e comprometer-se a comparecer a consultas regulares por dois anos?

As sul-africanas representam uma porcentagem significativa das milhares de mulheres no continente africano que aceitaram ser voluntárias nos ensaios clínicos de microbicidas – métodos de prevenção femininos, em forma de gel, cremes, esponjas e anéis vaginais que, esperam os cientistas, se mostrarão eficazes na proteção das mulheres contra a infecção pelo HIV e outras infecções transmissíveis sexualmente (ITS).

Alguns microbicidas provaram ser seguros e eficazes em testes de laboratório, mas antes de ser aprovados para uso pelo público em geral eles devem ser testados em mulheres em regiões do mundo onde a prevalência do HIV é suficientemente alta para produzir resultados incontestáveis.

O desafio para os cientistas é elaborar ensaios que ofereçam benefícios suficientemente atraentes para recrutar e manter as participantes, sem oferecer o que os comitês de ética considerariam como incentivo ou persuasão.

Benefícios

O Conselho Sul-Africano para Controle de Medicamentos exige que os participantes de ensaios recebam um “reembolso” de R 150 (USD$ 21) para cobrir as despesas de transporte cada vez que elas vão aos centros de pesquisa. Esta quantia é geralmente mais do que suficiente, e fornece sem dúvida uma certa motivação a mulheres desempregadas que sobrevivem com poucos recursos.

“Uma amiga me falou dos exames gratuitos e do dinheiro”, admitiu Bathabile*, 34 anos, de Soshanguve, um bairro pobre ao norte de Pretória. Ela tinha esperanças de participar do estudo de um gel microbicida, Carraguard, conduzido pelo Conselho da População, uma organização internacional sem fins lucrativos, mas foi excluída por ser seropositiva.

Zanele, 27 anos, também de Soshanguve, foi aceita e participou do ensaio do Carraguard por dois anos até a conclusão do estudo, em março deste ano. Ela gastou o resto do dinheiro do reembolso em roupas, mas disse que este não era o motivo principal de sua participação.

“Eu queria saber meu estado serológico, receber tratamento para as ITSs e fazer o teste do Papanicolau”, disse. “E eu queria ajudar outras mulheres, porque conheço mulheres que foram afetadas pelo HIV.”

Segundo Claire Von Mollendorf, da Unidade de Saúde Reprodutiva e de Pesquisa sobre o HIV/Sida (RHRU, em inglês) da Universidade de Witwatersrand, em Johannesburg, que participou de vários ensaios de microbicidas, muitas mulheres se voluntariam por motivos altruístas: “Elas querem ajudar porque todas têm membros da família que morreram por causa do HIV.”

A maioria das participantes entrevistadas por IRIN/PlusNews no Centro de Pesquisa Setshaba, em Soshanguve, um dos três locais na África do Sul onde foram conduzidos os ensaios do Carraguard, citaram os benefícios para a saúde como o motivo principal de sua participação: testagem regular do HIV, tratamento das ITSs, teste anual do Papanicolau, preservativos gratuitos e aconselhamento sobre como reduzir o risco de infecção pelo HIV.

“Sinto falta dos serviços que temos aqui”, disse Zanele. “Na semana passada fui fazer o teste do HIV em uma clínica [pública], e as enfermeiras eram grosseiras, a fila era longa, não como aqui, onde eu só teria que ter entrado e teria sido atendida prontamente.”

''Eu não teria feito a despistagem se não fosse o ensaio. Não saberia até agora que sou seropositiva.''
Rivonia, 22 anos, foi selecionada para o ensaio e usou o gel por três meses antes de ser diagnosticada seropositiva e ter que abandonar o ensaio. Apesar do choque inicial, ela não se arrependeu de ter participado. “Eu não teria feito a despistagem se não fosse pelo ensaio”, disse. “Não saberia até agora que sou seropositiva.”

Rivonia e Bathabile estavam entre as 30 mulheres – todas diagnosticadas seropositivas na triagem inicial ou que se tornaram seropositivas durante o estudo de três anos – que começaram a participar de um grupo de apoio criado pela equipe do ensaio. O grupo se reuniu semanalmente e frequentou aulas de culinária com uma nutricionista, recebeu conselhos sobre a saúde e orientações médicas, e apoio umas das outras.

Mantendo-se em curso

Para obter resultados confiáveis, os cientistas precisam que pelo menos 80 por cento das participantes usem o produto por períodos de até dois anos. No caso do Carraguard, que vem em forma de gel, muitas mulheres disseram que tinham gostado de usá-lo porque o gel agia como lubrificante, aumentando o prazer sexual para elas e seus parceiros. Outros ensaios de microbicidas receberam reações positivas como esta.

Jonathan Stadler, cientista social do RHRU que entrevistou as mulheres sobre suas experiências durante os ensaios, disse que muitas disseram apreciar o fato de que podiam estar usando um produto que poderia protegê-las contra o HIV e as ITSs.

“Num mundo de HIV e Sida, onde tudo o que conseguimos oferecer até agora foi o preservativo, o fato de de repente você ter algo que é tão mais agradável de usar e que pode ser realmente eficaz é uma idéia atraente para a maioria das pessoas”, disse.

Há indícios de que as mulheres que não contam a seus parceiros sobre a participação nos ensaios são mais suscetíveis a abandoná-lo. Segundo Khatija Ahmed, da Universidade de Limpopo, pesquisadora principal do ensaio, somente metade das 2.400 mulheres do ensaio do Carraguard em Soshanguve contaram a seus parceiros, e uma pequena porcentagem destas abandonou o estudo quando seus parceiros descobriram que estavam usando o gel.

“Ajuda se o parceiro também estiver envolvido, principalmente em termos de aderência, mas também no tratamento das ITSs, já que nós também oferecemos tratamento aos parceiros”, disse Ahmed. “Mas este é um ensaio clínico destinado às mulheres. Nós as aconselhamos a contar aos parceiros, mas é uma escolha delas, porque pessoas diferentes têm relacionamentos diferentes.”

Zanele já participava do ensaio há seis meses quando contou a seu namorado. “Eu estava nervosa porque entender estas coisas leva tempo”, disse ela. “Finalmente, ele ficou sabendo por outras pessoas que este gel existia e que as mulheres estavam sendo pagas para usá-lo, e então eu contei a ele. No começo, ele não queria usar, mas quando entendeu o propósito do gel disse: `Vamos usá-lo.´”

Algumas das mulheres que participaram do ensaio do Carraguard foram alvo de fofocas maldosas da vizinhança, geralmente em relação aos reembolsos. “As pessoas diziam: ´Por que nos pagam? Isto significa que o gel vai nos infectar´”, disse Rivonia.

Von Mollendorf comentou que a “fadiga do estudo” se estabelece após os primeiros meses do ensaio do microbicida. “O ensaio começa a ficar entediante para as participantes; por isso na metade do estudo, você começa a organizar festas ou eventos para encorajá-las a continuar. Você fornece mais informações e dados atualizados sobre outros ensaios de microbicidas.”

Resultados

O ensaio clínico do Carraguard, cujos resultados devem sair no final deste ano, é o primeiro ensaio de microbicida a completar a fase final de testagem da eficiência em humanos. “O universo dos microbicidas e todas as comunidades onde as pesquisas foram conduzidas estão esperando estes resultados”, disse Ahmed.

Os participantes, assim como a comunidade, serão informados dos resultados do ensaio, e Ahmed espera que, se o produto provar sua eficiência, estas pessoas terão acesso prioritário a este tratamento.

“O Conselho da População já está negociando com várias indústrias farmacêuticas a fabricação do produto a um custo acessível para quem precisa dele”, disse.

Zanele espera que outros ensaios clínicos sejam efetuados em Soshanguve. “Eu gostaria de participar de outro ensaio”, afirmou.

*Todas as mulheres entrevistadas preferiram omitir seus sobrenomes.


Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento, (IRIN) Gênero, (IRIN) Prevenção, (IRIN) Pesquisa

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
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