BURUNDI: Igreja Católica exige testes de HIV aos noivos

Photo: IRIN  |
Jeanne Gapiya-Niyonzima critica a decisão da Igreja Católica |
BUJUMBURA, 20 Novembro 2006 (PlusNews) - No Burundi, a Igreja Católica Romana só faz o casamento de pessoas que apresentarem um certificado de testagem do HIV, uma medida controversa que está a indignar os seropositivos.
“Forçar alguém a fazer um teste é uma violação dos direitos individuais; o teste deve ser sempre um acto voluntário”, declara Jeanne Gapiya-Niyonzima, activista contra o HIV/Sida e primeira pessoa do Burundi, que revelou publicamente a sua seropositividade.
Em Março deste ano, a Igreja Católica do Burundi publicou um documento que visava a tornar obrigatória a testagem do HIV dos noivos em todo o país.
“Nós não exigimos que os casais nos informem o resultado dos seus testes, mas exigimos simplesmente que eles façam o teste e saibam qual é o estado serológico um do outro”, afirma o padre Antoine Sabushatse, porta-voz da diocese de Bujumbura, a capital.
O padre Sabushatse explica que o certificado de testagem do HIV foi tornado obrigatório em 1989, na província sulista de Bururi, após a Igreja ter notado que um grande número de soldados seropositivos que tinham voltado ao país se casava com as moças sem lhes revelar o seu estado.
Sob ordem do bispo da diocese, a Igreja começou a exigir aos noivos um certificado de teste antes da celebração do casamento, medida que agora é aplicada em todas as províncias do país.
“Se não houver abertura entre o casal, se um dos noivos esconde a sua seropositividade à sua futura esposa ou ao seu futuro marido, o sacramento do casamento é então inválido”, insiste o padre Sabushatse.
Medida estigmatizante
Jeanne Gapiya-Niyonzima enfatiza que, apesar de bem intencionada, a Igreja não dá conselhos e serviços sobre o HIV/Sida à população.
Numa altura em que a maioria dos casais tem relações sexuais antes do casamento, obrigar os casais a fazer o teste do HIV antes do matrimónio não parece ser o meio de prevenção mais eficiente, acrescenta ela.
“Qualquer um pode pagar um médico corrupto para obter um falso certificado de seronegatividade”, lamenta Niyonzima.
“Hoje, as pessoas que decidem não se casar na Igreja são imediatamente alvos de suspeitas de serem portadoras do vírus. Esta medida é estigmatizante”, acrescenta.
O padre Sabushatse reconhece que houve incidentes em que certos casais apresentaram documentos falsos.
A Igreja recomenda aos noivos que procurem médicos dignos de confiança que serão encarregues de comunicar aos padres que o casal fez o teste e conhece os resultados.
Mesmo se o resultado de um dos noivos for positivo, a Igreja celebrará a união. Não é uma questão de julgamento, mas de informação e franqueza, prossegue ele.
Apesar dos protestos de activistas, o padre Sabushatse diz que a lei sobre o certificado de testagem do HIV tinha sido bem acolhida.
“Poucas pessoas se recusam a fazer o teste. Eles presenciaram a morte de um grande número de pessoas próximas e não querem arriscar”, conclui.
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Tema(s): (IRIN) Estigma/Direitos Humanos/Leis
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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