BURUNDI: Vida nas ruas, drogas e sexo sem protecção

Photo: Manoocher Deghati/IRIN  |
Os noviços procuram ajuda dos jovens mais velhos, mas alguns acabam por ser vítimas de abuso sexual dos seus protectores. |
BUJUMBURA, 17 Julho 2007 (PlusNews) - Milhares de crianças e adultos vivem nas ruas de Bujumbura, capital do Burundí, onde diariamente lutam por comida e um abrigo para dormir. Para escaparem da dura realidade de suas vidas, muitos deles acabam por se refugiar nas drogas e no sexo.
Innocent Bagayuwitonze, 26 anos, vive nas ruas há 12. Ele contou a IRIN/PlusNews que usa o magro salário que recebe como trabalhador ocasional para comprar sexo. Como ele não pode pagar a mesma tarifa que os outros homens, ele só tem sorte quando a noite foi particularmente difícil para elas.
“Nós [homens e meninos de rua] oferecemos mil francos [US$ 1]”, disse ele. “Mas negociamos com elas quando elas não conseguem atrair os clientes ricos.”
Bagayuwitonze e outras pessoas que vivem nas ruas as vezes ficam bêbados ou drogados nas noites, e raramente usam preservativos, correndo assim um maior risco de contrair o HIV.
“Quando eu negocio um passe e a moça aceita, eu não penso em usar um preservativo”, disse.
A violência sexual também é comum, já que estas pessoas que vivem nas ruas de Bujumbura são vulneráveis às agressões sexuais e geralmente não têm com quem contar.
Os noviços habitualmente procuram a protecção dos jovens mais velhos e mais experientes, o que freqüentemente significa aceitar uma relação sexual com o protector.
Olivier Ndimubandi, 12 anos, contou a IRIN/PlusNews como foi humilhantemente estuprado por seu protector, na presença de outros meninos de rua.
Ele ficou ferido, mas disse que não confiava nas organizações não-governamentais (ONGs) que lhe ofereceram apoio, e não recebeu nenhum cuidado médico.
O grande número de estupros que aconteceram na capital em 2005 foi imputado aos moradores de rua, o que fez com que o governo decidisse colocar todas as crianças de rua em um centro de reabilitação, mas alguns meses depois eles estavam de volta às ruas.
Dr. Cyrille Ntahompagaze, do centro médico Marthe Robin, em Bujumbura, criado pela Organização Humanitária pela Protecção e Desenvolvimento da Infância em Dificuldade, uma instituição não-governamental que cuida dos moradores de rua da cidade, admitiu que a combinação letal de drogas, álcool e sexo torna os mais de cinco mil moradores de rua da capital mais vulneráveis ao HIV.
“Nós recebemos cerca de 80 crianças de rua por mês, e só no mês de junho tivemos três casos de doenças sexualmente transmissíveis, o que indica que eles tinha tido sexo sem protecção”, disse ele, acrescentando que era difícil acompanhar estes pacientes por causa de seu modo de vida nômade.
Embora certas organizações tenham se esforçado em educar os moradores de rua sobre o HIV, muitos são apáticos.
“Parece que eles não se preocupam muito com sua protecção e são totalmente mal informados sobre os serviços gratuitos que têm à disposição”, disse Didier Habonimana, outro jovem que vive nas ruas, que parecia ser mais bem informado.
Bagayuwitonze, por exemplo, não sabia que tinha acesso gratuito aos serviços de saúde.
“Se um menino de rua fica infectado, ele morre rapidamente porque não tem acesso aos medicamentos”.
Ele disse que conhecia seis meninos que tinham morrido de doenças relacionadas à Sida.
Os programas do governo no Burundi, que tem uma taxa de seroprevalência de cerca de três por cento, oferecem gratuitamente testagem do HIV e aconselhamento, assim como medicação antiretroviral.
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Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento, (IRIN) Prevenção
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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