BURUNDI: Prisioneiros seropositivos organizam grupo de apoio

Photo: Arthur Asiimwe/IRIN  |
Duas vezes presos – cadeia e HIV – mas sem perder a esperança |
BUJUMBURA, 7 Fevereiro 2007 (PlusNews) - Os prisioneiros seropositivos da prisão superlotada de Mpimba, em Bujumbura, capital do Burundi, descobriram que a melhor maneira de sobreviver ao encarceramento nessas condições é de apoiar-se mutualmente.
Chamada inicialmente “Mboshwe Kabiri”, que em Kirundi significa “preso duas vezes”, a associação de prisioneiros seropositivos mudou em seguida seu nome, escolhendo um outro mais otimista, “Turemeshanye”, que significa “apoiar uns aos outros”.
Georges Ndabihawe, presidente da associação, disse ao PlusNews que os membros do grupo ajudam uns aos outros a obter comida, remédios e apoio psicológico. A organização é útil principalmente porque as famílias de muitos presos seropositivos os abandonaram, sobretudo quando não esperavam que eles sobrevivessem a uma longa detenção.
A prisão foi construída para acolher 800 prisioneiros, mas acolhe atualmente mais de 3.000, e é difícil obter comida. A dieta de 350 gramas de feijão e 350 g. de farinha de mandioca por dia “não dá nem para uma criança”, disse Martin Yabu, que é seropositivo.
“Os médicos me dizem para comer bem, para me cobrir direito; às vezes eu tenho vontade de rir na cara deles”, disse Vincent Tugirimana, que também é seropositivo. Ele está preso desde o ano 2000 acusado de homicídio, mas ainda está aguardando o julgamento.
Tugirimana sempre conseguiu alguma coisa para comer na hora de tomar sua dose matinal de medicamentos antiretrovirais (ARV), mas para a dose vespertina, “só Deus sabe”, diz ele.
Segundo Baselisse Ndayisaba, coordenadora da seção burundiense da Sociedade das Mulheres contra a Sida na África (SWAA, em inglês), o problema não é a quantidade, mas a baixa qualidade da dieta da prisão.
Para fazer com que os prisioneiros seropositivos tivessem uma melhor alimentação, SWAA Burundi ajudou a associação Turemeshanye a montar um pequeno restaurante em 2006 para que eles tenham uma atividade remunerada. Os prisioneiros se revezam para trabalhar no restaurante e assim conseguem completar sua dieta.
A organização de mulheres também fornece ARVs, e duas vezes por semana leva um médico a Mpimba para tratar as infecções oportunistas. O programa de tratamento do governo não leva em conta os prisioneiros, e o grupo agora está fazendo pressão para que eles sejam incluídos no programa de distribuição nacional.
Distribuir preservativos
Apesar da associação Turemeshanye contar com 60 membros, Ndabihawe notou que o estigma ainda é muito forte na prisão, e que muitos prisioneiros hesitam em unir-se ao grupo, porque isso confirmaria seu estado serológico aos outros prisioneiros.
“Os que aceitam se revelar não tem escolha”, disse ele. “Ao invés de morrer sozinhos, eles aceitam sua seropositividade”.
SWAA Burundi está tentando lutar contra a ignorância sobre o HIV na prisão, passando regularmente documentários, que visam educar os prisioneiros sobre a pandemia, mas também evitar que aqueles que são seronegativos contraiam o vírus.
A maioria dos membros da associação tem sido treinada como conselheiros, e o presidente Ndabihawe disse que o grupo também pretende se assegurar que os prisioneiros seronegativos continuem assim.
“Alguns presos podem desenvolver comportamentos de alto risco como a homossexualidade”, diz Ndabihawe, acrescentando que as condições difíceis de vida na prisão forçam algumas prisioneiras a ter relações sexuais por dinheiro.
Os funcionários da prisão não distribuem preservativos, mas a SWAA os distribui aos prisioneiros que os pedem, na maioria mulheres.
Numa declaração feita na ocasião do Ano Novo, o presidente do Burundi, Pierre Nkurunziza disse que os idosos, crianças e pessoas sofrendo de doenças incuráveis sairíam mais cedo da prisão, mensagem que suscitou esperança entre os prisioneiros seropositivos.
Mas até que isto aconteça, Turemeshanye continuará a fazer pressão para que o Conselho Nacional de Controle da Sida lhes forneça uma melhor alimentação e acesso aos medicamentos.
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Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento, (IRIN) Estigma/Direitos Humanos/Leis
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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