NIGÉRIA: "Adeus amanhã", novo filme de Nollywood

Photo: KOOR  |
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LAGOS, 13 Outubro 2006 (PlusNews) - A nigeriana Hilda Dokubo não imaginava que o seu papel de jovem seropositiva num filme faria com que fosse estigmatizada como a sua personagem, mas a experiência a convenceu do impacto que o cinema pode ter na resposta à Sida.
“Muitos dos meus amigos pensaram que eu tinha Sida, porque tinha perdido muito peso para representar a imagem de uma vítima da Sida, para que as pessoas entendessem a mensagem”, contou Dokubo, no lançamento do filme “Goodbye tomorrow” (Adeus amanhã).
“Foi tão difícil que eu tive que fazer um teste de despistagem para me convencer”.
Dokubo colocou o resultado do teste numa moldura e pendurou na parede, “para que não me perguntem mais, para saberem que eu não tenho HIV/Sida”.
Produção de Nollywood, como a indústria do cinema nigeriano é chamada, “Goodbye tomorrow” foi estreado no recém terminado Festival Cinema para a Sida, em Abuja, capital da Nigéria
O festival, apoiado pelo Comité Nacional de Luta contra a Sida (Naca), Ministério da Saúde e coligação Iniciativa Global de HIV/Sida da Nigéria, reuniu, em cerca de uma semana, profissionais internacionais de cinema engajados na luta contra a epidemia.
O Presidente da Associação de Actores da Nigéria em Abuja, Dan Amedu, explica que o seu movimento decidiu esclarecer o público sobre os perigos da epidemia.
Realizador e actor de uma dezena de filmes de “Nollywood”, Amedu diz que deve constantemente justificar o engajamento da associação: contrariamente aos boatos, os seus membros agem contra a Sida porque “têm sentimentos”, e não porque estão infectados.
Vozes de África
O produtor e encenador nigeriano Lancelot Oduwa Imaseun lamenta que o continente não utilize suficientemente os meios de comunicação, incluindo o cinema, para enviar “sinais positivos” ao Ocidente e romper a imagem negativa de África no exterior, principalmente no que diz respeito ao HIV/Sida.
Apesar do dinamismo de Nollywood, “a autêntica voz de África”, segundo Imaseun, poucos profissionais de cinema na Nigéria se lançam na produção e direção de filmes, que abordam o HIV/Sida, como afirmaram vários participantes do festival.
Para Dokubo, esta ausência vem do facto de que os profissionais de cinema na Nigéria esperam, muitas vezes, subvenções para fazerem filmes sobre a Sida.
“Nós não recebemos subvenções do governo para trabalhar em filmes de amor, que vendem bem no mercado, então porquê não podemos ver além Naca e outros para fazer filmes sobre HIV/Sida”, questiona a actriz.
A falta do engajamento do cinema na luta contra a Sida é ainda mais sentida, porque o impacto desta arte sobre o público é real, diz Dokubo, contando a estória de um jovem que lhe abordou, na rua, após o lançamento do filme.
“Ele contou que já tinha convidado a sua namorada a passar a noite com ele antes de levá-la a assistir o filme `Goodbye tomorrow´. Ele disse que depois de ter visto o filme, não tinha podido tocá-la, porque tinha medo que ela lhe transmitisse o HIV/Sida”, acrescenta a actriz.
Convencida do papel que o cinema pode desempenhar na luta contra a epidemia, a jovem exorta os profissionais do sector a engajarem-se mais, chamando os actores a não terem medo de ser associados a tais filmes.
“Eles acham que isto vai estigmatizá-los, todo mundo quer fazer o papel de uma moça limpa ou um moço com a barba bem feita...mas isto não vai nos ajudar”, observa.
“As actores são pessoas que entram na casa dos outros sem bater a porta. As pessoas os vêem, os apreciam pelos personagens que representam nos filmes. É desta maneira que nós podemos ajudar a trazer muitas mudanças”.
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Tema(s): (IRIN) Artes/Cultura, (IRIN) Estigma/Direitos Humanos/Leis
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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