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ZIMBABWE: Crianças deixadas em casa pagam o preço da migração


Photo: UNICEF Zimbabwe
Um em cada 10 casos de abuso de menor notificados é de uma criança cujos pais sairam do país.
HARARE, 22 Junho 2007 (PlusNews) - Jane, 12 anos, foi deixada por sua mãe ao cuidado de uma família de confiança, quando esta partiu para a Inglaterra, há sete anos, para trabalhar como empregada doméstica. Desde então, Jane nunca mais viu sua mãe e durante este tempo tentou por duas vezes se suicidar e foi violada oito vezes pelo ex-namorado da sua mãe adoptiva.

A trágica histórica desta adolescente é apenas uma das milhares de crianças deixadas, aos cuidado de famílias amigas, por pais que procuram oportunidades melhores que as conseqüentes dos sete anos de recessão no Zimbabwe.

A taxa de desemprego actual no Zimbabwe é de 80 por cento e a inflação anual é de mais de 3.700 por cento - a mais alta do mundo.

Acredita-se que mais de um quarto da população partiu do país nos últimos anos para países vizinhos como a África do Sul, Botswana ou para mais longe como os Estados Unidos, Inglaterra, Europa e Austrália.

“A mãe de Jane preferiu-me aos seus pobres pais ou irmãs porque eu tenho um bom emprego e achou que eu garantiria um bem estar à filha dela”, disse à IRIN/PlusNews a amiga da família, que pediu o anonimato. “Mas infelizmente isso não aconteceu. O meu antigo namorado aproveitou-se da minha confiança nele e violou a menina desde tenra idade", acrescentou.

Segundo a protectora de Jane, que trabalha para uma organização não governamental local e viaja com frequência para fora do país, será muito doloroso informar a mãe, já que está pediu asilo político e não pode regressar para ver a sua única filha.

A diáspora

James Elder, o porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância no Zimbabwe, disse à IRIN/PlusNews que quando os pais deixam os seus filhos, principalmente nestes tempos difíceis onde é preciso mitigar a pobreza das famílias, aumenta a vulnerabilidade dos menores.

Mas o assunto de os pais irem para a “diáspora”, termo usado para descrever a migração em larga escala dos zimbabweanos sem os seus filhos, é parte de um problema maior, explicou Elder.

"As crianças são vulneráveis porque não têm comida, vestuário, abrigo, ou não vão à escola”, exemplifica.

Betty Makoni, directora da Rede da Rapariga (GCN, sigla em inglês), disse que a "horrível tendência" de os pais deixarem os seus filhos para procurarem emprego noutros países, aumentou a vulnerabilidade das crianças a tal ponto que um em cada 10 casos de abuso de menor notificados é de uma criança cujos pais tinham saído do país.

''...meu antigo namorado aproveitou-se da minha confiança nele e violou a menina desde tenra idade.''
Um relatório da Global Poverty Research Group (Grupo Global de Pesquisa da Pobreza), divulgado em 2006, revelou que 50 por cento dos emigrantes para a África do Sul e Botswana tinham mais probabilidade de regressar a casa uma vez por ano, mas apenas 22 por cento dos que emigraram para a Inglaterra o podiam fazer.

Enquanto que longas ausências tendem a piorar a situação das crianças, Makoni explica que mesmos os curtos períodos de ausência não garantem o seu bem-estar "porque o abuso, principalmente de natureza sexual ou física, pode acontecer numa questão de minutos."

A ausência dos pais tem um efeito psicológico negativo nas crianças, que se manifesta na perda de concentração na escola, principalmente nos irmãos mais velhos, dada a sua responsabilidade de dirigir a família.

Makoni disse ainda que a GCN já tinha lidado com muitos casos em que pais tinham abusado sexualmente das filhas ou que não conseguiam sustentá-las devidamente, preferindo esbanjar o dinheiro enviado pelas suas esposas com bebidas alcoólicas e mulheres.

Tráfico de menores

A separação da criança dos seus pais está a ser também uma oportunidade para os traficantes de menores, que oferecem assistência aos pais tentando trazer os seus filhos para o país onde residem.

Segundo testemunhas que chegaram a GCN, um casal vivendo na Inglaterra tinha aconselhado a sua filha Kirsty, 17 anos, (não é o seu nome real) a viajar para o Malawi e contactar um cidadão daquele país que tinha dito aos pais que ele podia organizar um passaporte malawiano para ela.

Entretanto, ao chegar ao Malawi, sem alojamento e com pouco dinheiro, Kirsty foi levada a um bordel e posta imediatamente a servir como trabalhadora de sexo.
Foi-lhe dito que "dormir com os influentes clientes dele" era uma pré-condição para conseguir um documento de viagem forjado.

O homem também levava o dinheiro que Kirsty ganhava.

Abuso dos dinheiros enviados

O dinheiro enviado ao Zimbabwe pelos mais de três milhões de emigrantes tornou-se o pivô da economia decrescente deste país.

Numa conferência sobre “Viver na periferia”, realizada em princípios deste ano em Stellenboch, na África do Sul, revelou que uma rede de emigrantes internacionais que enviaram dinheiro em 2005 e 2006 ao Harare e Bulawayo (a segunda maior cidade do Zimbabwe) está a melhorar a crise econômica, através de transferências monetárias e em espécie para mais de 50 por cento das famílias.

"Numa situação de hiperinflação e de taxas de câmbio paralelas, que são muito mais altas do que as taxas oficiais, o envio de dinheiro tornou-se ainda mais crucial", informa o estudo.

Enquanto a maioria dos pais envia o máximo de dinheiro possível para os protectores dos seus filhos, não há garantia de que o dinheiro será usado em benefício deles.

"O erro que os pais cometem é pensar que enviar dinheiro e telefonar de vez em quando é tudo que têm que fazer. Não lhes ocorre pensar que estão a introduzir os filhos a uma vida de imoralidade e crime", disse Makoni. "Estas crianças quando recebem o dinheiro vão trocá-lo no mercado negro e assim aprendem a dinâmica das transacções ilegais ainda em tenra idade."

A taxa de câmbio oficial para o dólar zimbabweano (Z$) é de um dólar norte-americano  (US$) para 250 Z$, enquanto que no mercado paralelo é de um US$ para trezentos mil Z$.


Tema(s): (IRIN) Prevenção

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
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