CAMARÕES: Petróleo complica Kribi

Photo: Jo Foster  |
Petróleo iludiu os residentes de Kribi... |
KRIBI, 14 Março 2006 (PlusNews) - Os habitantes de Kribi, uma das estações balneárias mais reputadas do golfo da Guiné, tinham esperança de que a construção do terminal petrolífero Chade-Camarões resolveria tudo: o desemprego, a pobreza, o isolamento. Era ilusão.
"Ai, ai, ai, o pipeline ! Ele trouxe mais lágrimas que sorrisos", diz Louis Nzié Owona.
Nzié, professor de contabilidade, é presidente do comité de luta contra a SIDA no colégio Saint Joseph, em Kribi, com 700 alunos.
O professor Nzié, habituado à precocidade sexual dos jovens de Kribi, ainda está perplexo: “Jovens mulheres vieram do país inteiro; a cada etapa das obras, elas se colocavam à disposição dos homens, nos hotéis, em todos os cantos escuros”.
Os 1.070 quilómetros de oleodutos que ligam os jazigos de petróleo de Doba, no sul do Chade, ao terminal marítimo na baía de Kribi, nos Camarões, foram construídos entre junho de 2001 e julho de 2003. O terminal, destinado a receber 225.000 barris de petróleo, por dia, foi inaugurado em Outubro de 2003.
Segundo activistas camaroneses, embora as companhias petrolíferas, lideradas pela companhia americana ExxonMobil, tenham sensibilizado os seus empregados sobre os riscos do HIV, elas deixaram de lado as populações das proximidades.
“Nós esperávamos que houvesse mais campanhas de sensibilização para preparar as populações a este afluxo de trabalhadores estrangeiros, mais bem remunerados e solteiros”, diz Valery Nodem, coordenador da Rede de Luta contra a Fome nos Camarões (Relufa).
A Relufa defende mais de 400 queixas contra o consórcio das companhias petrolíferas, acusado de nem sempre ter respeitado as condições de indemnização a favor dos vilarejos e das pessoas que se encontravam no caminho do oleoduto.
Segundo Nodem, a população de Kribi aumentou mais de dez vezes num período relativamente curto; “Muitas casas foram transformadas em motéis, isso mudou muito os hábitos, e os habitantes estavam mal preparados”.
A maioria das jovens partiu após a inauguração do terminal.
Os 50.000 habitantes da pequena cidade, não longe da Guiné-Equatorial, vivem exclusivamente do turismo; uma clientela de expatriados, de Camaronenses ricos e de estudantes.
No fim de semana, a noite, as moto-taxis fazem um vaivém incessante entre as casas nocturnas e os grandes hotéis, invadidos por moças em busca de dinheiro, e a praça Kinge, bem conhecida dos noctâmbulos e das prostitutas que vem “rodar a bolsinha” na fumaça dos churrascos e ao ruído dos radio-cassetes.
“Estas moças gostam de vida fácil, um dia é um homem, outro dia um outro; funcionam, principalmente nos hotéis”, explica Marthe, que ganha 40.000 francos CFA (73 dólares) por mês limpando quartos.
“É impossível combater o turismo sexual com tanta pobreza”, diz Nzié. “Se uma moça ganha 20 dólares com um turista, que tipo de profissão poderá exercer depois?”
Mesmo se a maioria dos habitantes de Kribi já ouviu falar da epidemia, raros são aqueles que vão espontaneamente ao hospital distrital, o único centro de despistagem.
O preço de um teste de despistagem, 1.000 francos CFA (1,8 dólares), desencoraja os jovens. Os melhores resultados são obtidos durante as campanhas organizadas pelo Ministério da Saúde, que envia técnicos e reagentes às privíncias.
O hospital testou 1.731 pessoas de 18 e 40 anos em 2005, contra 274 o ano anterior. E a taxa de infecção foi de nove por cento, em 2005, mais alta do que a média nacional de 5,5 por cento.
Segundo o professor Nzié, apesar de estes números serem alarmantes, desde 2004 nenhum financiamento público foi posto à disposição dos vinte comités locais organizados pelo Comité Nacional de Luta contra a SIDA.
“Eu recebi 500.000 francos CFA (90 dólares) em 2003 para formar educadores e comprar o material de documentação e preservativos para os alunos, 250.000 em 2004, e depois mais nada”, explica.
Construído sobre a areia e sob ventos marinhos, a cidade é rodeada de terras pouco férteis. Tudo vem do exterior e o custo do transporte aumenta a factura.
Segundo os habitantes de Kribi, os preços não baixaram depois da inauguração do terminal e da partida dos estrangeiros.
Joseph, que tem uma filha de 14 anos que deu à luz há alguns meses, não tem mais ilusões: “Eu tinha lhe dito que a escola devia ser seu primeiro marido, mas ela já sabe que vai encontrar os estrangeiros nas casas nocturnas e não vai encontrar emprego em Kribi. O petróleo, nós o vemos partir...e de longe.”
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Tema(s): (IRIN) , (IRIN) Prevenção, (IRIN) Juventude
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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