CAMARÕES: Milagres que não curam

Photo: Alfredo Mueche/IRIN  |
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YAOUNDE, 4 Setembro 2006 (PlusNews) - Muitos camaroneses vêem o HIV/Sida como uma doença vergonhosa. Hesitando revelar ou aceitar a sua seropositividade, consultam charlatões que dizem que podem curar a doença.
Além de falharem, os curandeiros, geralmente, pioram a saúde dos seus clientes. Aconselham-lhes a interromper o tratamento antiretroviral (ARV), fazendo com que eles desenvolvam resistência a futuras medicações.
A crença de Christy, de 35 anos, que prefere omitir o seu nome real, na cura milagrosa, quase lhe custou a vida. Ela descobriu que era seropositiva, após a morte do seu esposo, um magistrado, em 2001. Ela teve duas vezes herpes zoster, uma doença de pele comum em pessoas HIV+. Um primo lhe aconselhou fazer o teste.
Assim, Christy, finalmente, soube que doença tinha causado a morte ao seu esposo e a dois de seus três filhos.
“Eu sempre fui fiel ao meu esposo. Eu pensava que a Sida só afectava mulheres que tinham se comportado mal, pessoas irresponsáveis. Foi como se o céu desabasse sobre minha cabeça”, disse.
O medo da rejeição fez com que ela não contasse a ninguém, nem mesmo aos seus pais.
Apesar de ter sido prevenida por seus médicos, ela se apegou à falsa esperança que ofereciam os médicos tradicionais desonestos, que prometiam curas milagrosas.
“Na época, eu estava desesperada. Eu teria feito qualquer coisa para me tirar daquela situação”, disse ela ao PlusNews.
Após ter visto a Madame Nacine, de Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, declarar na televisão que ela podia curar a Sida, Christy usou todas as suas economias para comprar uma passagem de avião.
No centro de Madame Nacine, em Kinshasa, vários pacientes estavam sendo tratados com o produto “milagroso”, que a curandeira dizia ter criado e usado para curar a si mesma. Christy comprou seis frascos do produto por 435 dólares americanos. Incluindo a passagem de avião, a ida a Kinshasa custou quase dois mil dólares.
Durante algum tempo ela se sentiu melhor e recuperou o apetite, mas seis meses depois, após um novo teste de HIV, ela ficou chocada ao descobrir que ainda era seropositiva.
De uma cura milagrosa a outra
Quando Christy teve uma grave infecção pulmonar, a mãe levou-a à Hope Clinic (Clinica da Esperança), em Yaoundé, a capital cameronesa, gerida pelo antigo Ministro da Saúde, o Professor Victor Anomah Ngu. Esta clínica reivindica ter descoberto uma vacina contra a Sida chamada Vanhivax.
“Eu estava quase morrendo. Qualquer chance para me sentir melhor valia a pena”, disse Christy.
Após tomar duas vacinas, a 58 dólares americanos cada, a sua condição piorou. Os médicos que estavam a tratar a sua infecção pulmonar disseram à sua mãe que a clínica não era reconhecida pelo Estado e que ela devia interromper o tratamento.
Christy finalmente começou a tomar ARVs e está feliz de tê-lo feito: “Finalmente me sinto melhor, física e psicologicamente. Eu compreendi que os ARVs são a única coisa que permite que uma pessoa viva uma vida normal por muito tempo”.
Em Janeiro deste ano, o Ministro camaronês da Saúde, Urbain Olanguena Awono, advertiu contra “os charlatões que não têm fé nem regras, mas apenas motivação para ganhar dinheiro fácil”.
A Rede para Ética, Lei e Sida, sediada em Yaoundé, concebeu um cartaz que diz: “O charlatão afirma que será morto se as pessoas souberem que ele cura a Sida”, para contrariar os médicos tradicionais sem escrúpulos e ajudar as pessoas HIV+ e suas famílias a identifica-los.
Christy, que agora faz sensibilização sobre os riscos de consultar charlatões, disse que teve sorte de sobreviver: “Se eu tivesse que recomeçar tudo outra vez, nunca mais faria o que fiz. Eu não sei como pude gastar tanto dinheiro para nada”.
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Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento, (IRIN) Prevenção, (IRIN) PVHS/ONGs, (IRIN) Estigma/Direitos Humanos/Leis
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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