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SENEGAL: A clínica da meia noite


Photo: IRIN
Clandestina mas protegida
DAKAR, 8 Março 2006 (PlusNews) - Eram 23 horas quando a camioneta branca reconvertida em ‘clínica ambulante’ entrou numa rua escura de um bairro popular da capital senegalesa. Dentro dela, um ginecologista e uma animadora vão acolher as trabalhadoras do sexo clandestinas, que já os esperam.

«Quando o camião está para vir, a animadora telefona-me e eu aviso as raparigas», explica Aicha que, aos 34 anos, é a mais antiga do grupo de clandestinas que apareceu nessa noite para a consulta.

Esta clínica ambulante foi colocada em operação, há três anos, pela organização Enda-Santé, para oferecer consultas médicas gratuitas sobre doenças transmissíveis sexualmente (DTS) e HIV/SIDA às profissionais do sexo clandestinas, que não têm acesso aos serviços de saúde, por não constarem do registo nacional das prostitutas.

Desde 1969 que as trabalhadoras do sexo são, em princípio, obrigadas a possuir um boletim de saúde para operar legalmente. Assim, as autoridades de saúde podem assegurar o acompanhamento médico destas profissionais, que se devem submeter à exames de dois em dois meses para detectar DTS ou infecção pelo HIV.

Contudo, segundo um inquérito efectuado pela Enda-Santé, 80 por cento das profissionais do sexo de Dakar trabalham na clandestinidade. Algumas são imigrantes ilegais, outras são menores de idade. A idade mínima para o registo sanitário é 21 anos.

Além dos problemas legais, muitas dizem ser alvo de estigmatização nos centros de saúde ou por parte da polícia.

«Antes de serem trabalhadoras de sexo elas são mulheres, mães de família, rejeitadas pelas suas famílias e comunidades», explica Daouda Diouf, coordenador do programa da Enda-Santé.

Estas mulheres são particularmente vulneráveis ao HIV. Segundo o estudo sentinela de 2004, a taxa de infecção por HIV entre as profissionais do sexo é de 20.9 por cento, em Dakar, e 30.3 por cento, em Zinguinchor, na Casamança, sul do país.

No entanto, a taxa nacional de prevalência é de 0,7 por cento.

Ir ao encontro delas

Faz já 10 anos que Amy, animadora da organização, e quatro outras trabalhadoras sociais trabalham com estes grupos de mulheres em Dakar e arredores, bem como em M’bour, uma localidade turística costeira, 80 quilómetros a sul da capital.

O primeiro desafio foi ganhar a confiança delas, lembra Amy.

«No início elas vinham com artimanhas para nos testar, estavam muito reticentes e tinham preconceitos sobre a clínica», diz Amy. «Eu tive que as chamar uma a uma para explicar que se tratava apenas de uma consulta médica gratuita».

Depois de conquistada a confiança, as coisas passaram a andar muito depressa.

«Existe uma rede de comunicação extraordinária entre as raparigas, que já ouviram falar de nós de uma ponta à outra da cidade. Agora, se a clínica demora a chegar, as raparigas telefonam-me. Algumas chegam mesmo a inventar doenças para vir até à clínica», conta.

A clínica ambulante percorre as ruas da capital quatro vezes por semana e atende, regularmente, 2 000 trabalhadoras de sexo clandestinas.

«Em 90 por cento dos casos lidamos com vaginites associadas à infecções», explica o ginecologista Sédouma Yatera.

Fatou, de 29 anos, apareceu naquela noite na clínica ambulante. Omitindo o seu apelido, ela disse que abandonou a sua aldeia para vir ganhar a vida na cidade.

“Antes [da clínica ambulante] eu passava muito mal antes e depois do período e também durante as relações. Trataram-me e agora já não tenho problemas», disse.

O tratamento das DTS é oferecido gratuitamente, bem como os preservativos masculinos e femininos, o que dá uma oportunidade para discutir comportamentos sexuais de risco.

«As raparigas contam-nos que utilizam sempre preservativos com os clientes, mas não com os seus companheiros, que muitas vezes têm três ou quatro parceiras», explica o doutor Yatera.

Presentemente, a clínica ambulante não faz a despistagem do HIV, mas conta iniciar este ano. Por enquanto, as equipas mandam as mulheres ao centro de despistagem do hospital de Fann, em Dakar.

Os medicamentos antiretrovirais e os exames biológicos associados ao tratamento da SIDA são gratuitos, no Senegal, desde 2004.

Noite e dia

As animadoras também se encontram com as trabalhadoras de sexo clandestinas durante o dia.

«Há sempre problemas a resolver – com os clientes, entre elas, com a polícia. O meu telemóvel está ligado 24 horas por dia», diz Amy. “Somos maternais com elas, pois é raro que alguém as escute quando querem contar os seus problemas familiares».

O programa prevê também visitas domiciliárias e formação sobre saúde reprodutiva através de filmes de sensibilização.

Além de ter criado um elo social com um dos grupos mais estigmatizados do Senegal, a equipa da Enda-Santé congratula-se de ver que as mulheres, com acompanhamento regular, já não se debatem com problemas de saúde recorrentes.

«As jovens que não sabiam nada dos problemas da SIDA, há apenas alguns meses, vêm agora buscar preservativos e muitas delas foram já fazer a despistagem», conclui Amy.


Tema(s): (IRIN) , (IRIN) Prevenção

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
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