SENEGAL: Faltam doadores e testes sofisticados nos bancos de sangue

Photo: Siegfried/IRIN  |
Existem cerca de 40 mil doadores de sangue no Senegal, mas a Organização Mundial da Saúde informa que seriam necessários 200 mil para tratar correctamente os doentes neste país |
DAKAR, 3 Julho 2007 (PlusNews) - Apesar de adoptar uma política voluntarista e de ter uma importante rede de bancos de sangue, o Senegal continua a sofrer da escassez de doações de sangue e das condições precárias de colheita, de testagem para o HIV e outras doenças, e de transfusão.
A comemoração do Dia Mundial do Doador de Sangue, 14 de Junho, no Centro Nacional de Transfusão Sanguínea (CNTS) de Dakar, a capital nacional, marcou o lançamento de uma campanha de 15 dias de sensibilização e de informação na tentativa de diminuir a escassez crônica de sangue nos hospitais do país.
“No Senegal o número anual de doadores de sangue é de 40 mil; no entanto, segundo a Organização Mundial da Saúde, seriam necessárias 200 mil doações para tratar correctamente os doentes neste país”, disse o Professor Saliou Diop, responsável pelo serviço de transfusão sanguínea do CNTS.
Embora o Senegal seja “bom aluno” em matéria de transfusão sanguínea, já que adoptou uma política nacional de doação de sangue em 1990 e possui uma boa infraestrutura, vantagens que a maioria dos países da África Ocidental não possui, os resultados ainda não são satisfatórios.
Dos 14 bancos de sangue de todo o país, o CNTS de Dakar é o único que funciona principalmente graças aos doadores voluntários.
A doação de sangue não faz parte dos hábitos... |
“Mais de 90 por cento de nossos doadores são voluntários, ou seja, são considerados como doadores de baixo risco”, explicou Diop. “O CNTS é o banco de sangue mais antigo e mais importante do Senegal, as pessoas confiam em nós. Em Dakar, as pessoas têm uma melhor educação e são mais bem informadas do que no resto do país.”
Fora de Dakar, por falta de um programa de doação de sangue bem organizado e baseado no voluntariado, as doações são mais raras. Mais de 60 por cento dos doadores são “familiares” segundo Diop, o que abre uma brecha a doações remuneradas, um sistema oculto e perigoso já que certas famílias pagam terceiros para doar sangue, sem conhecer suas condições de saúde.
Ora, “os centros rurais enfrentam graves dificuldades financeiras, muitos não contam com um médico em tempo integral e são os enfermeiros que assumem os exames médicos de rotina e também as colheitas”, disse ele.
Cyrille, estudante da faculdade de Direito em Dakar, doou sangue quatro vezes este ano. Segundo ele, as campanhas de promoção da doação de sangue não são suficientes e precisa-se de um trabalho de sensibilização mais aprofundado.
“Até os estudantes, que são bem informados graças às campanhas de informação organizadas regularmente pelas associações de estudantes, hesitam em doar sangue”, constata ele. “A doação de sangue não faz parte dos hábitos, a cultura e a religião podem às vezes ser um obstáculo. Muitas pessoas têm medo de fazer o teste de despistagem do HIV e de descobrir que são seropositivas.”
Um processo complicado
Em 2006, cerca de 15 por cento das bolsas de sangue colhidas no Senegal foram destruídas. A infecção mais comum é a hepatite B, que é despistada em 12 por cento das doações, a hepatite C em 0.4 por cento das doações e a sífilis e o HIV, que representam cada um 0.3 por cento dos lotes.
Segundo as autoridades, a seleção do sangue no Senegal, cuja seroprevalência nacional é de 0.7 por cento, é feita unicamente pelo teste ELISA, explicou Diop.
O teste ELISA é uma técnica chamada imuno-enzimática, que permite detectar a infecção pelo HIV, mas que necessita dum teste de confirmação para excluir os casos de “falsa seropositividade.”
Em vários países da Europa este teste geralmente é completado por outros testes para o HIV e a hepatite C, que permitem obter resultados mais precisos, mas no Senegal “nós não temos recursos para utilizar técnicas mais aperfeiçoadas”, que são mais caras, disse Diop.
O sangue deve ser utilizado de maneira apropriada para evitar-se desperdícios... |
A terceira etapa da coleta das doações de sangue é a “separação dos constituintes do sangue – plasma, glóbulos vermelhos e plaquetas”, explicou ele.
“Ela permite explorar ao máximo o sangue colhido”, explica Diop. “No Senegal esta separação não é feita em número suficiente. Separamos somente 22 por cento do sangue colhido; na França, por exemplo, 99 por cento do sangue é separado.”
A última etapa é a transfusão sanguínea. Segundo Diop, “o CNTS não tem condições de controlar todas as transfusões sanguíneas efectuadas no país, embora esta etapa seja muito delicada e problemática. O sangue deve ser utilizado de maneira apropriada para evitar-se desperdícios.”
“Faltam recursos para os centros de transfusão sanguínea”, conclui Diop. “Os provedores de fundos ajudam os países cuja seroprevalência é elevada, o que não é o nosso caso. Nós não podemos organizar o número necessário de campanhas de informação e de incitação.”
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Tema(s): (IRIN) Média
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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