MOÇAMBIQUE: Infecções de transmissão sexual tratadas, HIV barrado

Photo: Lucas Bonanno/PlusNews  |
Testar e tratar as infecções sexuais são passos essenciais no percurso contra a Sida. |
MAPUTO, 28 Agosto 2007 (PlusNews) - Uma média mensal de 40 mil infecções de transmissão sexual (ITSs) foram registadas pelo sistema de saúde público moçambicano nos primeiros cinco meses deste neste ano, ou seja, aproximadamente 14 por cento a mais que no mesmo período em 2006.
O Ministério da Saúde considera positivo este aumento de diagnósticos, já que quando descobertas essas infecções podem ser tratadas. A maior disponibilidade de consultas e divulgação de informações também contribuem para o aumento no número de diagnósticos, segundo o Plano Estratégico Nacional de Combate ao HIV/Sida (PEN).
Apesar disso, acende-se o sinal de alerta para a propagação dos casos de úlceras genitais, provocadas pela sífilis, cancro mole e herpes.
Este grupo de doenças, que somam quase 40 por cento do total diagnosticado, se manifesta com feridas no órgão sexual da mulher e do homem que, em relações sexuais sem camisinha, aumentam as chances de contrair o HIV.
“Ter uma úlcera genital, é como abrir uma porta para o HIV e dizer entra”, disse a chefe do Programa Nacional das ITSs, Felibela Gaspar.
Numa análise feita em 2003, as úlceras genitais aparecem como as mais freqüentes na região Centro do país, com 44 por cento das ITSs diagnosticadas.
Não por acaso, segundo Gaspar, a maior seroprevalência em Moçambique está no Centro, com 20.4 por cento, enquanto que a média nacional é 16.2.
Para uma população de 19.8 milhões, Moçambique registou somente entre Janeiro e Maio desde ano, mais 201 mil casos de ITSs.
Além de contribuir para o avanço do HIV, estas infecções, quando não tratadas, podem causar infertilidade para homens e mulheres, má formação do feto com decorrência de morte da gestante e câncer no colo do útero, entre outros problemas.
A ausência de sintomas da ITSs entre as mulheres provoca um retardamento no diagnóstico e maior dificuldade no tratamento.
Parceiros se esquivam...
Junto às fronteiras da África do Sul e da Suazilândia, na província de Maputo, está o distrito de Namaacha, cuja população é de aproximadamente 40 mil. No centro de saúde distrital, a técnica de medicina Fernanda Meia atende todos os dias cerca de 20 infecções sexuais.
Meia diz que uma das maiores dificuldades é fazer com que os pacientes tragam seus parceiros ao centro de saúde.
“As mulheres, principalmente, vêm, fazem o teste, o tratamento e não contam aos seus maridos”, comenta. “Têm medo de assumir que estão com uma doença sexual e serem abandonadas”, acrescenta.
Do total de ITSs diagnosticadas no país, apenas 30 por cento foram indicações dos parceiros.
Ter uma úlcera genital, é como abrir uma porta para o HIV e dizer entra. |
Outro obstáculo para a referência de parceiros é o fato de, em Moçambique, ITS serem imediatamente consideradas “doenças de mulheres” – transmitidas aos homens por suas parceiras. Não se leva em conta a possibilidade de o próprio homem ter transmitido a doença, segundo o PEN.
... e os jovens também
As cores vivas das paredes, o filme na TV e as embalagens de camisinhas penduradas nos murais diferem na primeira vista o departamento de Serviços Amigos do Adolescente e Jovem (SAAJ) das outras repartições do Hospital Central de Maputo.
“Fiz amigos aqui. Venho fazer meu tratamento (antiretroviral) com prazer”, disse um jovem de 18 anos, que omitiu o nome.
Criar centros de saúde atractivos foi uma das formas que o governo, com apoio de agências internacionais, encontrou para responder a pouca procura por testes e tratamentos de infecções sexuais pelos jovens, problema apontado pelo PEN.
“Os jovens são mais rebeldes”, explica a directora do SAAJ no Hospital Central de Maputo, Nafissa Osman.
Segundo ela, eles têm vergonha e, nos caso das jovens, medo que os adultos critiquem que com baixa idade já estão a fazer sexo.

Photo: M.Sayagues/PlusNews  |
Tornar as clínicas mais atraentes para os jovens encoraja-os a tratar as infecções de transmissão sexual. |
Mas no SAAJ, os jovens se identificam com o jeito descontraído dos atendentes , que muitas vezes têm a mesma idade; e criam amizade com os outros pacientes, comenta Osman.
O seu SAJJ atende actualmente 1800 rapazes e raparigas, sendo 511 deles seropositivos. No mês de Junho, registou-se 109 casos de infecções sexuais que não são do HIV.
A serem criados desde 1998, os SAAJs já somam 160. Estes serviços oferecem gratuitamente ou a baixo custo, tratamento da Sida e de outras doenças sexuais, apoio psicológico e aconselhamento para a saúde sexual e reprodutiva.
Resposta nacional
Se para os jovens o governo está a investir nos SAAJs para enfrentar as infecções sexuais, para a população em geral criou se um plano nacional.
O governo identificou as províncias de Gaza, Nampula, Manica, Zambézia, Tete e Inhambane como as que mais precisavam de profissionais preparados para diagnosticar e tratar as infecções sexuais e formou 334 médicos, técnicos de medicina e enfermeiros.
Mais de quatro mil manuais com sintomas e tratamento das ITSs foram distribuídos para todas as Direcções Provinciais de Saúde.
Nas províncias de Tete e Sofala, onde se observava uma falta de técnicos aptos a fazerem o teste da sífilis, foram capacitadas em teste rápido desta infecção 46 enfermeiras de saúde materno infantil.
Apenas no primeiro semestre deste ano o Ministério da Saúde distribuiu mais de 18 mil camisinhas por todo o país.
“Temos que ter um programa forte”, diz Gaspar.
Segundo ela, ao lado da promoção da camisinha, redução de parceiros, e fidelidade, entre outros métodos de prevenção do HIV, tem que se destacar o tratamento das infecções sexuais.
“Só assim, conseguiremos dar uma resposta eficaz contra a epidemia de Sida”, finaliza.
lb/ll/mm
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Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento, (IRIN) Prevenção
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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