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SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE: Tudo que você precisa é amor - e camisinhas


Photo: Mercedes Sayagues/PlusNews
Tantos parceiros, tão poucas camisinhas
SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE, 30 Julho 2007 (PlusNews) - “Amor livre” ou melhor, “sexo livre” parece ser o lema que rege a vida das pessoas aqui. Mas os Beatles não estão tocando ao fundo e o movimento hippie dos anos 1960 não é nem uma memória distante. Esta é a África do século 21 que carrega o peso de mais de 64 por cento dos casos de HIV do mundo, segundo a Onusida.

A cantilena para profissionais de saúde hoje é sexo seguro, abstinência, fidelidade e menos parceiros.

Mas de acordo com o bispo católico português Manuel António Santos, que veio este ano para liderar uma das mais antigas dioceses na África, estas pautas parecem não ter chegado às ilhas de São Tomé e Príncipe, na costa ocidental da África.

“Já morei em muitos países, incluindo Moçambique, onde as taxas de prevalência em adultos chegam a 16 por cento. Mas nunca vi o grau de promiscuidade que vejo em São Tomé. Para ser honesto, isso me aterroriza. A Sida pode facilmente se tornar uma calamidade nacional”, diz.

António Amado Vaz, diretor executivo da Associação São-Tomense para a Promoção Familiar (ASPAF), faz coro: “É difícil achar um homem que tenha apenas uma mulher. Todos acham normal ter duas ou três namoradas porque há mais mulheres que homens no país. Mas o que ninguém diz é que as mulheres também tendem a ter dois ou três namorados porque é uma fonte de renda”.

São Tomé e Príncipe ocupa o 127o lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano, de um total de 177 países avaliados. O governo estima que metade da população vive na pobreza.

Homens e mulheres reconhecem essa realidade. “É normal para homens aqui terem uma esposa principal e várias namoradas. A vida na roça é entediante, por isso as pessoas têm filhos muito cedo”, conta o técnico administrador Onésio da Mata, de 23 anos.

Ezilda da Silva concorda. “Sei que meu marido tem outras namoradas porque já o flagrei com elas. Mas o que posso fazer? Tenho que aceitar mesmo com medo que ele traga doenças e até o HIV para casa”, diz esta empregada doméstica de 40 anos e seis filhas.

Especialistas temem que esse comportamento leve a uma escalada da epidemia. A seroprevalência – 1.5 por cento – é relativamente baixa para uma população de cerca de 160 mil, segundo dados do Banco Mundial.

''Nunca vi o grau de promiscuidade que vejo aqui. Para ser honesto, isso me aterroriza. A Sida pode facilmente se tornar uma calamidade nacional.''
“As estatísticas atuais são muito conservadoras. Oficialmente temos 260 casos (registados) de Sida no país. O que não sabemos é o número de seropositivos”, diz Vaz. “Quando vejo os níveis de pobreza e os múltiplos parceiros, temo que nos próximos cinco anos o número de seropositivos triplique.”

Segundo o Plano Estratégico Nacional de 2004, aplicando-se a projecção de 25 a 50 casos de infecção por cada caso de Sida registado, existiriam no país “entre 3.100 a 6.200 pessoas seropositivas.”

Preservativos em falta

A igreja católica e organizações que trabalham com HIV e Sida ainda não chegaram a um acordo quanto à melhor forma de se abordar a pandemia. Enquanto a primeira insiste na abstinência e fidelidade, a segunda aposta na distribuição de preservativos. O que fazer, portanto, numa sociedade tão liberal?

“Sempre digo que é melhor usar preservativos do que não se proteger. E seria ótimo se apenas preservativos fossem a solução para o problema da Sida. Mas por que mesmo com toda a ênfase no uso de camisinhas os números continuam subindo, com quase 25 milhões de infectados [na África]?”, pergunta o bispo Santos.

Ele continua: “Acho que as ONGs reforçam tanto o uso de preservativos não por ser a melhor forma de se combater o HIV, mas porque muitas são patrocinadas por fabricantes. Isso é muito perigoso. Se não começarmos (...) a ressaltar a importância de relações sexuais num ambiente amoroso e familiar, nunca combateremos a doença.”

Vaz, da ASPAF, preocupa-se com a pauta de prevenção do HIV entre as igrejas pentecostais que estão a se propagar em São Tome e Príncipe.

“Apesar de a maioria da população se considerar católica, muita gente está sendo atraída por esse movimento. E frequentemente, essas igrejas pregam o não uso de preservativos”, diz.

Para Vaz, a distribuição de preservativos é uma forma eficaz de prevenção. Hoje existem 12 postos oficiais de distribuição, que pretende-se aumentar para 100.

“Mas o problema não é a quantidade de postos, é a falta de preservativos. E a falta cria outra questão, porque as pessoas passam a achar que não adianta ir aos postos”, diz.

Segundo ele, nunca houve camisinhas suficientes no país. “Podemos dar cerca de três preservativos por pessoa por mês, mas é muito pouco num país com uma população sexualmente ativa de cerca de 70 mil”, diz.


Photo: Mercedes Sayagues/PlusNews
Múltiplos parceiros - seja por razões culturais e muitas vezes econômicas - são comuns em São Tomé e Príncipe
Segundo Vaz, os dados mostram que um homem médio usa cerca de 30 camisinhas por mês: “A diferença entre o que podemos oferecer e o que é necessário é um obstáculo na luta contra o HIV/Sida.”

A distribuição gratuita é especialmente importante num país em que preservativos são vistos como artigos de luxo. A três centavos de dólar cada, muitos preferem gastar esse valor em pão.

“Por isso precisamos garantir que haja preservativos grátis”, diz Vaz.

Mesmo assim, o uso de preservativos ainda não é consenso na população.

A secretária Domingas Branco, de 30 anos, afirma que não os usa, apesar das namoradas que seu marido tem em paralelo.

“Como mulheres, temos que nos adaptar aos tempos. Antes não sabíamos nada sobre a Sida e tínhamos muitos parceiros, mas agora precisamos nos proteger. Quando tiver alguns filhos, começarei a usar preservativo”, diz.

Médicos e ativistas ressaltam os perigos do comportamento estilo “tudo que você precisa é amor”, como cantavam os Beatles.

“Os dados que temos enganam. A não ser que os são-tomenses comecem a colaborar com os serviços de saúde, em pouco tempo, a Sida será uma realidade irreversível com terríveis consequências para o país”, diz Manuela Castro, coordenadora da ONG portuguesa Médicos do Mundo.

mj/ll/ms


Tema(s): (IRIN) Prevenção

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
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