SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE: Violência doméstica e HIV nos ecrãs da TV

Photo: Robert Powell/IRIN  |
A população não está habituada a ir ao cinema. |
SÃO TOMÉ, 14 Março 2007 (PlusNews) - Depois de abordar a Sida, o cineasta Januário Afonso quer promover em São Tomé e Príncipe uma discussão sobre a violência doméstica. “Vosso amor, meu sorriso” é o nome do seu novo filme que deve estrear neste mês.
Na trama, Brandão agride constantemente sua mulher Eduarda até que numa noite de briga, o filho deles, Isma, de nove anos, foge de casa por não suportar mais este problema.
O garoto é pego pelo Centro de Cuidados aos Menores e acaba por transformar a violência em seu lar como um caso de justiça nacional.
“Vosso amor, meu sorriso” está a ser produzido desde 2003 e teve a estréia atrasada por problemas financeiros e pela morte, em 2006, da Eduarda do longa-metragem, a psicóloga e professora do ensino secundário Guiomar Costa.
O realizador teme que o lançamento do filme crie uma polémica sobre a actriz protagonista.
“Certamente os familiares e amigos não vão gostar de ver a imagem dela”, diz Afonso ao PlusNews.
Assim como Costa, todos os actores do filme não são profissionais.
Segundo Afonso, conseguir financiamento é a maior dificuldade em se fazer um filme em São Tomé e Príncipe.
“A população não está habituada a ir ao cinema aqui”, comenta.
Há uma sala de projeções, o Cinema Marcelo da Veiga, no centro da capital, São Tomé, mas desde a sua reabilitação em 2001, o local nunca foi aberto para a exibição de filmes.
“Vosso amor, meu sorriso” contou com patrocínio do Centro Cultural da Aliança Francesa, e de vários empresários e indivíduos.
O fogo do apagar da vida
Em Julho de 2002, Afonso lançou seu primeiro longa-metragem que teve como tema o tabu a cerca do HIV em São Tomé e Príncipe.
Para uma população de aproximadamente 140 mil pessoas, o arquipélago tem uma seroprevalência de 1.5 por cento, segundo dados do Programa Nacional de Luta contra a Sida (PNLS).
“Havia muito silencio e queríamos dizer ao público que Sida também está aqui entre nós”, diz Afonso ao PlusNews.
“Imprudência, o fogo do apagar da vida” narra a história de Katia (Celina Lima), uma jovem mãe que abandona os estudos para vender sexo nas discotecas e acabou por se infectar com o HIV.
O filme teve uma influência tão directa que muitas pessoas associaram a vida dos personagens com a real dos actores.
Celina Lima, actualmente em Cuba a estudar, foi chamada por muitos de prostituta e de seropositiva, e alguns familiares a acusaram de manchar o nome da família, diz Celmira Fernandes, que também participou do longa-metragem.
O mesmo aconteceu com Afonso, quem no filme faz o papel de um cliente da Katia que foi infectado pelo HIV por não ter usado o preservativo.
“Nas ruas, ouvíamos más coisas, palavras insultuosas”, lembra.
Afonso explica os são-tomenses têm dificuldade para separar a ficção da realidade, por falta de hábito de ir ao cinema.
Antiretrovirais amigos
Segundo Fernandes, muitos são-tomenses pediram um outro filme contra a descriminação dos seropositivos.
Depois do filme, “as pessoas começaram a pensar mais na prevenção”, acredita Afonso.
Em 2005, o cineasta foi convidado pelo PNLS para realizar uma dramatização sobre os antiretrovirais.
O vídeo de 30 minutos “Antiretroviral, um amigo” destinava-se a sensibilizar a população sobre os benefícios do tratamento antiretroviral, pois segundo Afonso, “ter o HIV não significa vida acabada.”
Os dois filmes sobre a temática da Sida são regularmente transmitidos na Televisão São-tomense.
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Tema(s): (IRIN) Artes/Cultura
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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