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MOÇAMBIQUE: Sida não é só doença de africanos pobres


Photo: L.Bonanno/PlusNews
“Os musculosos também têm HIV, por isso camisinha sempre.”
MAPUTO, 20 Julho 2007 (PlusNews) - O porto-riquenho Carlos Cordero, 44 anos, está em Moçambique há um mês. Já fez palestras, concedeu entrevistas e nesta semana esteve num popular programa de TV. Desde então, quando sai às ruas de Maputo é parado por pessoas que pedem um abraço, aperto de mão e fotos com sua companhia.

“Você mudou meu jeito de ver a vida”, disse uma jovem de 28 anos que ligou para Cordero no programa de TV. Ela tinha acabado de descobrir ser seropositiva e estava em depressão, mas viu nele uma fonte de inspiração para enfrentar a Sida.

Carismático, de voz forte e corpo malhado, Cordero não é músico, actor, nem esportista. Ele é um activista a viver com HIV.

A organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) o convidou para vir a Moçambique ajudar a diminuir o estigma e incentivar a adesão ao tratamento antiretroviral.

Nesta semana, a sala de reuniões do escritório da MSF em Maputo ficou pequena para acomodar as dezenas de activistas e seropositivos que vieram para um encontro com Cordero.

“Ver que o senhor, um estrangeiro, também tem Sida é muito diferente pra gente. Achávamos que esta era uma doença de moçambicanos, de pobres...”, disse Adriano Pelembe, da associação de pessoas vivendo com HIV/Sida Tineme.

Até agora, nenhuma pessoa branca assumiu publicamente que tem HIV em Moçambique. Daí o impacto da presença de Cordero, além da sua simpatia e ar saudável.

Na reunião no MSF, Maria Feliciana, do programa de educação sexual para jovens Geração Biz, admirou o estado físico do activista.

Em resposta, Cordeiro tirou a blusa e mostrou os braços: “Aparento ter HIV? Não. Mas tenho. Por isso não se pode escolher com quem vamos usar preservativo ou não. É preciso usar sempre.”

Cordero, que já teve vários efeitos colaterais provocados pelos medicamentos antiretrovirais, deu a sua receita:

“Para anemia, como muitos vegetais verdes que têm ferro. Para pedras nos rins, tomo mais de dois litros de água por dia. Contra a lipodistrofia (excesso de gorduras em partes específicas do corpo), todo dia, faço 200 abdominais e 60 flexões de braço, mas têm que ser pela manhã, porque se deixo pra tarde fico com preguiça e o HIV adora pessoas preguiçosas”, contou.

Mosquito estava dentro da rede

Cordero é activista contra a Sida desde 1988, mas apanhou o HIV em 1992.

“Fui estúpido”, disse ao PlusNews. “Eu tinha todas as informações e cai.”

''... HIV adora pessoas preguiçosas.''
Na ocasião, ele estava apaixonado e depois de fazer o teste do HIV com sua namorada, e ambos diagnosticados negativos, eles decidiram deixar de usar camisinha.

Cordero diz que foi fiel, mas depois que terminou o namoro decidiu repetir o teste e viu que estava infectado.

“Foi como se estivesse a usar uma rede mosqueteira com um mosquito já dentro”, referiu se à decisão que tomou com sua namorada.

Em tratamento antiretroviral há 11 anos, Cordero trabalha, além da MSF, com o Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/Sida e já particpou em três documentários no Congo e na Etiópia.

Graduado em Marketing, Cordero está casado há 14 anos com uma uruguaia seronegativa e não tem filhos por “ser egoísta”, segundo ele. “Não quero dar o risco de ninguém contrair um vírus que é só meu”, brinca.

Seropositivos nas mesas de decisões

O tema central do encontro no MSF foi o activismo. A maioria dos participantes fez referência aos vários problemas dos moçambicanos vivendo com HIV e Sida: falta de medicamentos, de alimentos, de dinheiro do transporte para ir ao hospital, entre outros.

Como problema ou solução destes problemas aparecia sempre o governo. Alguns o culpavam, outros o defendiam.

Photo: L.Bonanno
Cordero partilhou o que ele chamou de “Moçambolo” - bolo de laranja e banana - para provar que não se transmite HIV pela comida.


“Pelo menos temos os medicamentos gratuitamente. O governo está a tentar”, conformou se Victoria Chembene, da Associação de Pessoas Vivendo com HIV e Sida Kindlimuka (Despertar, em língua local Shangana).

Mas nas respostas de Cordero, em “portunhol” (algumas palavras em português e outras em espanhol), estava a responsabilidade dos seropositivos liderarem causa própria.

“Nós temos que estar na mesa de decisões”, disse Cordero.

O activista lembrou que em 1987, quando apareceu o primeiro remédio contra a Sida, o AZT (Zidovudina), a preços astronômicos, um grupo de nove activistas interrompeu a Bolsa de Valores em Nova Iorque como protesto para exigir a diminuição do preço. No dia seguinte, o preço caiu.

Segundo Cordero, o motor deste episodio foi a vontade de viver daquelas pessoas.

“Desde então, tenho um sonho: fazer dos infectados parte da solução e não do problema contra a Sida”, comentou.

Em Moçambique são aproximadamente 1.6 milhão de seropositivos. Cerca de 250 mil precisariam de tratamento antiretroviral urgentemente, mas pouco mais de 54 mil recebem, já que faltam recursos humanos e infraestrutura sanitária, principalmente nos distritos rurais.

Cordero disse aos moçambicanos que se ele já tomou 21 comprimidos diários, os que hoje tomam apenas dois têm a obrigação de continuarem o tratamento para não criarem resistência aos remédios.

''Foi como se estivesse a usar uma rede mosqueteira com um mosquito já dentro.''
A jovem Alice Muchama contou que, depois de ouvir Cordero na TV, uma grande amiga com Sida resolveu começar o tratamento.

Cordero ficará em Moçambique ainda um mês. Além de Maputo, ele vai levar seu dinamismo de enxergar a vida à província de Niassa.

lb/ms


Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento, (IRIN) Prevenção, (IRIN) Estigma/Direitos Humanos/Leis

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
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