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REPÚBLICA CENTRO AFRICANA: Amor e casamento também são para seropositivos


Photo: M. Sayagues/PlusNews
Contra os padrões e estigmas, seropositivos querem casar e ter filhos
BANGUI, 22 Maio 2007 (PlusNews) - De uma coisa Christian-Bernard e Clémentine Miangué têm certeza: não é porque são seropositivos que devem esconder-se ou privar-se da alegria de fundar uma família e criar filhos, e eles querem que isto fique bem claro.

Dia 28 de março de 2005, primeiro no cartório, depois na Igreja de Bangui, a capital centro-africana, Christian-Bernard, pai solteiro de uma moça de 25 anos, casou-se com Clémentine, mãe de um menino de sete anos. Amigos, parentes, autoridades, diplomatas e vários curiosos estavam presentes.

Esta união recebeu destaque na mídia e foi considerada como uma etapa importante na luta contra a estigmatização relacionada ao HIV neste país castigado por conflitos civis constantes, e onde a Sida continua sendo sinônimo de vergonha e de morte.

“Eu não decidi me casar para fundar uma família, mas para ter um lar como toda pessoa responsável”, explicou Christian-Bernard ao PlusNews. “Nós, pessoas seropositivas, também temos o direito de viver”.

Ele confessa ainda que o casamento é para ele uma maneira de “evitar de um dia ter vontade de se vingar tendo relações sexuais de maneira irresponsável.”

Quando evoca as relações sexuais de risco, este homem de 38 anos sabe do que está falando. Ele, que queria consagrar-se a uma vida religiosa, mudou de idéia em 1992 e decidiu fazer um curso de contabilidade.

Em 1995, com seu diploma na mão, ele foi contratado por uma empresa de Bangui, e “a loucura da juventude, uma juventude inexperiente e inconsciente” o fez perder a cabeça.

“Sendo contador, eu logo comecei a gerir muito dinheiro, eu tinha um bom salário, e isto me cegou, eu comecei a ter uma vida devassa”, conta ele. “Eu mudava de parceira sexual sem pensar e portanto a Sida já existia. E um dia, o que tinha que acontecer aconteceu.”

Golpe duro

Em 1996, Christian-Bernard ficou doente. Seu médico diagnosticou uma infecção pulmonar e receitou um tratamento de três meses, mas ele teve uma recaída que quase o levou à morte. Ele então ficou em dúvida e decidiu fazer o teste de despistagem do HIV.

Christian-Bernard recebeu a notícia de sua seropositividade como um golpe duro. Incrédulo, ele repetiu o teste várias vezes: todos confirmaram a infecção pelo HIV.

Por medo de ser rejeitado pelos colegas, ele decidiu deixar o emprego. Ele reconhece, no entanto, que nunca tinha ouvido falar de nenhuma queixa por um eventual despedimento abusivo relacionado ao estatuto serológico de um empregado que tivesse sido depositada junto à justiça centro-africana.

“Francamente, eu não sei explicar como cheguei a este ponto”, disse ele. “Eu queria evitar de ser o alvo da curiosidade de meus colegas, e portanto, desde o início eu fui acompanhado por um bom conselheiro e um bom médico.”

Para evitar a solidão, Christian-Bernard fez apelo à Associação das Pessoas Seropositivas, da qual mais tarde ele se tornou o coordenador.

Estes anos de ativismo permitiram-lhe descobrir a doença através de seminários, conferências e outras reuniões.

Chega o amor

É assim que, no âmbito de suas actividades, um dia ele encontrou Clémentine, seropositiva de 35 anos e mãe de um menino seronegativo, por quem ele se apaixonou.

Graças à experiência adquirida, Christian-Bernard compreendeu aos poucos uma coisa importante: contrariamente ao que pensam ainda uma boa parte de seus compatriotas, pode-se viver com o vírus, e viver bem. Então porque não se casar?

Dito e feito. Apesar de certas apreensões, os pais de Christian-Bernard, funcionários do sistema nacional de educação, que sempre o apoiaram desde o anúncio de sua seropositividade, assim como os pais de Clémentine, abençoaram esta união.

Esta iniciativa levou outras pessoas seropositivas a decidirem sair do anonimato; outros casais estão se preparando a celebrar seu matrimônio, embora exista uma angústia recorrente.

“O maior medo das pessoas seropositivas é de que os médicos os proíbam de ter filhos”, explicou Christian-Bernard.

Os progressos científicos permitem a prevenção da transmissão do vírus de mãe a filho, graças à coquetéis de antiretrovirais (ARV) administrados à mãe seropositiva e ao recém-nascido.

Contudo, segundo dados das Nações Unidas, no final de 2005, somente quatro por cento das 19 mil gestantes seropositivas recenseadas na República Centro-Africana tiveram acesso a esta intervenção, sem a qual entre 20 e 45 por cento das crianças de mães seropositivas correm o risco de ser infectadas pelo vírus.

''Nós, pessoas seropositivas, também temos o direito de viver.''
Com uma taxa de seroprevalência de 10.7 por cento, a República Centro-Africana é o país mais atingido pela epidemia na África Central, segundo as Nações Unidas.

Cerca de 49 mil pessoas necessitam do tratamento ARV mas somente 3.800 recebem, segundo estatísticas nacionais.

Christian-Bernard e Clémentine, que estão sob tratamento ARV há dois anos, criaram cada um sua própria associação. Clémentine é presidente da Associação das Mulheres Seropositivas e seu marido da Comunidade Centro-africana de Pessoas Seropositivas e Pessoas Afectadas pelo HIV/Sida. Os dois são membros da Recapev, a Rede Centro-africana de Pessoas Seropositivas, da qual Christian-Bernard é também presidente.

O casal tem vários “cavalos-de-batalha”: apoio nutricional a pessoas seropositivas, defesa das viúvas da Sida despojadas de seus bens apesar de uma lei recentemente votada que deveria protegê-las, ou ainda a melhora do acompanhamento dos pacientes. Combates estes que eles encaram com muita energia, já que o amor à vida é o motor do casal Miangué.


Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento, (IRIN) Estigma/Direitos Humanos/Leis

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
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