REPÚBLICA CENTRO AFRICANA: Adolescentes que moram nas ruas de Bangui querem saber mais do HIV/Sida

Photo: A.Isabelle Leclercq/IRIN  |
Crianças no Centro ávidas em aprender sobre HIV/Sida |
BANGUI, 8 Janeiro 2007 (PlusNews) - Confrontadas com a morte de seus amigos em resultado de infecções de HIV/Sida, as crianças das ruas de Bangui, capital da República Centro Africana, não hesitam em aprender mais sobre a doença, quando lhes surge uma oportunidade.
"Vi muitos meus amigos a morrerem de Sida, eles não sabiam onde fazer o tratamento, porque eram crianças da rua", diz Bienvenu Samba, de 25 anos, que vive nas ruas de Bangui, há onze anos.
"Muitos deles eram seropositivos ou tinham doenças de transmissão sexual como a sífilis e a gonorreia", acrescentou.
A Republica Centro Africana, assolada há anos por uma guerra civil, é um dos países mais pobres do mundo.
As Nações Unidas estimam que cerca de 10,7 por cento da população, estimada em quatro milhões de habitantes, é seropositiva.
Uma pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), efectuada em 2005, aponta que três mil crianças moram nas ruas de Bangui. Metade perdeu os seus parentes. Mais de metade tem idades entre 10 e 14 anos.
O UNICEF diz que muitas daquelas crianças consomem drogas e que as raparigas são vulneráveis à exploração sexual.
"As crianças da rua são envolvidas em muitas relações sexuais e existe uma grande preocupação relacionada com a violência sexual, particularmente contra as raparigas mas também contra rapazes", diz Samba, que perdeu os seus pais e que sobrevive fazendo trabalho precário, transportando bens para o mercado.
Nos últimos cinco anos, Chantal Lagos tem juntado o dinheiro que ganha fazendo lavagem com as doações das agências das Nações Unidas e da sua igreja para alimentar e cuidar cerca de 100 crianças das ruas de Bangui.
Sexo por 30 cêntimos do dólar
"As raparigas dormem com rapazes ou com soldados que as dão entre 30 a 40 cêntimos do dólar ou que às vezes as obrigam a manter relações sexuais à força", disse Lagos, a quem as crianças chamam 'Mãe Chantal'.
"As pessoas morrem todos os dias devido à SIDA e as crianças de rua tornam-se mais novas devido a epidemia. Muitas raparigas perderam seus filhos, e isto é devido à malnutrição e a Sida."
Um Centro para Informação, Educação e Aconselhamento (CIEE), que tem como alvo jovens vulneráveis, abriu em Dezembro de 2005, em Bangui, e começou a treinar educadores de pares.
Esta iniciativa é financiada pelo UNICEF e suportada pelo Comité Nacional de HIV/Sida.
Samba foi dos primeiros. "Eu quis vir e encontrar outros jovens e receber informações sobre o HIV/Sida e outras doenças de transmissão sexual, e perceber como tomar cuidado daqueles já infectados" disse.
Os treinados responderam a um questionário que avalia a sua vulnerabilidade ao HIV/Sida.
"Dos 330 jovens com idades compreendidas entre 12 e 24 envolvidos no treinamento, quatro em cada cinco tinham tido já uma relação sexual, 43 por cento sem protecção e 45 por cento com vários parceiros", disse Igor Mathieu Gondje-Dacka, responsável do CIEE.
Os jovens também elaboraram "mapas de risco e vulnerabilidade " que os ajudassem a identificarem factores que os expusesse ao HIV/Sida e encontrar formas de lidar com os riscos. No fim do treino, os participantes tiveram testes de HIV/Sida gratuitos.
"Antes de virmos aqui, não sabíamos como protegermo-nos, mas aqui no centro ouvimos pessoas falando disso, e agora falamos disto para outras pessoas e escutam-nos", disse Samba, que já sabe como preservar o seu status de seronegativo.
"Algumas pessoas decidiram usar preservativos mas eu estava muito assustado. Muitas crianças de ruas morreram" disse. "Quero casar um dia, mas quero abster-me até lá.”
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