LESOTO: Crianças HIV+ continuam a morrer

Photo: Eva-Lotta Jansson/IRIN/Red Cross  |
Limpho e a sua avó: a ajuda chegou. |
MASERU, 2 Abril 2007 (PlusNews) - À primeira vista, Limpho Matthews, esta menina irrequieta de 7 anos, sentada na frente da casa de sua avó em Ha Makhoathi, uma cidade perto de Maseru, a capital do Lesoto, parece uma criança normal e saudável.
No entanto, os seis primeiros anos de sua vida foram miseráveis, com uma série de resfriados, asma e outras doenças. Quando sua mãe faleceu, em 2005, ela não tinha forças nem para andar.
“Os médicos diziam que era só um resfriado”, diz sua avó, Manthabiseng Matthews. “Eu corria para todos os lados procurando ajuda”.
A ajuda finalmente veio quando um funcionário da Cruz Vermelha do Lesoto deu à Matthews o dinheiro necessário para a viagem até a clínica para crianças, Baylor Children’s Centre of Excellence, em Maseru.
O Centro, um dos sete que a iniciativa Baylor International Paediatric AIDS (BIPAI) abriu na África desde 2003, é uma instalação bonita e moderna, prova do que pode ser feito quando esforços do governo são aliados à perícia e recursos estrangeiros.
O Centro foi construído pela companhia farmacêutica Bristol-Myers Squibb, com o auxílio técnico da BIPAI e um orçamento anual do governo do Lesoto.
Antes de sua abertura em 2005, havia somente dois pediatras trabalhando no Lesoto, e menos de 20 crianças sob tratamento antiretroviral.
O Centro fornece tratamento gratuito a crianças seropositivas e testagem para crianças e adultos.
Limpho agora faz parte das 344 crianças que recebem tratamento ARV no Centro Baylor, ou seja 30 por cento do número de crianças em tratamento no país.
Neste prédio espaçoso, com uma sala de espera confortável e 12 consultórios, trabalham 13 médicos, 10 dos quais cedidos pelos Estados Unidos, uma nutricionista, um farmacêutico, uma equipe de enfermeiras e quatro assistentes sociais que tratam 90 pacientes por dia.
O contraste com a maioria das instituições públicas de saúde da África, com prédios em ruínas, consultórios apertados, equipamento obsoleto e equipes sobrecarregadas é impressionante.
A diferença entre a vida e a morte
O Onusida estima que 18.000 crianças no Lesoto sejam seropositivas, mas somente 6,3 por cento recebem tratamento ARV. Limpho faz parte destas crianças porque mora perto de Maseru. Se ela tivesse nascido em uma das comunidades montanhosas e remotas do país, onde até os cuidados básicos de saúde custam a chegar, ela não teria sobrevivido.
Matumelo Rapita, de 29 anos, que vive na região montanhosa de Mapholaneng, separada da maior cidade mais próxima por 200 quilômetros de estradas sinuosas, enterrou seu filho de seis meses na semana passada.
O hospital mais próximo fica em Mokhotlong, a 25km,,mas não possui o equipamento necessário para testar bebés de menos de 18 meses para o HIV.
Rapita, esposa de um pastor de ovelhas que trabalha longe de casa durante 6 meses, foi diagnosticada seropositiva há um mês, mas não sabia como o HIV era transmitido, nem que podia ser tratado.
O recém-nascido teve uma erupção cutânea, uma tosse persistente e aftas tão graves que ele não conseguia mamar. Um médico particular lhe deu um tratamento que não funcionou. Quando ela levou o bebé para a clínica da Cruz Vermelha em Mapholaneng, ele só pesava 3,9 kg. Um conselheiro sugeriu que Rapita fizesse o teste do HIV.
“Eu só concordei em fazer o teste porque meu filho estava doente, e eu estava precisando de ajuda”, disse ela ao PlusNews, com a ajuda de um intérprete.
A ajuda que ela recebeu foi pouca, e tarde demais. Uma organização não governamental local lhe deu leite artificial, que ajudou o bebé a engordar um pouco, mas ele não foi testado.
Diagnóstico vital
Sem tratamento, a maioria das crianças infectadas morrem antes dos dois anos de idade; o diagnóstico precoce é vital. A tecnologia para a testagem de bebés de menos de 18 meses, conhecida como testagem PCR, só é disponível em alguns postos no Lesoto. As amostras de sangue são enviadas para a África do Sul e os resultados podem levar até dois meses para chegar.
Mesmo quando disponível, a testagem precoce é um desafio, segundo Rachel Cohen, de Médicos sem Fronteiras (MSF), uma organização humanitária internacional.
“Ainda é preciso muita sensibilização”, disse ela. “As doenças infantis são muito comuns aqui, então as pessoas não pensam necessariamente no HIV.”
Até os pais que suspeitam serem seropositivos geralmente não trazem as crianças para serem testadas por causa do estigma, da rejeição ou da falta de informação.
“Duas crianças faleceram em nossas enfermarias esta semana antes que pudéssemos descobrir seu estado serológico”, disse Cohen.
MSF fornece cuidados do HIV a cerca de 4.000 pessoas e tratamento ARV a mais de 1.000 pessoas, 60 das quais são crianças, em uma área predominantemente rural a 40 km ao sul de Maseru, que conta com 14 clínicas e um hospital de distrito.
O objetivo do programa é de transferir o tratamento HIV dos hospitais aos centros de saúde locais, dirigidos por enfermeiras. MSF fornece treinamento e suporte, e os médicos visitam as clínicas semanalmente, o que permete às enfermeiras de iniciar e gerir o tratamento ARV, mesmo para crianças.
“Baylor é uma boa coisa”, diz Cohen, diretora do MSF em Lesoto. “Mas este tipo de perícia deveria ser estendido a todo o país. Se eu tivesse 13 pediatras, eles estariam se revezando em visitas a todas as clínicas para encorajar e habilitar as enfermeiras, para que elas possam fazer este trabalho a longo prazo”.
A Dra. Edith Mohapi, diretora executiva do Centro Baylor, disse que seus médicos estão treinando equipes para tratarem crianças seropositivas em cinco dos hospitais de distrito do Lesoto, inclusive o de Mokhotlong.
Mas o treinamento ainda não foi estendido ao nível de cuidados básicos de saúde, que é geralmente o primeiro lugar onde os pais trazem as crianças doentes.
O governo do Lesoto fornece medicamentos ARV gratuitamente, mas a Associação Cristã de Saúde do Lesoto, que dirige cerca de 40 por cento dos hospitais e centros de saúde do país, cobra taxas dos usuários, o que representa mais uma barreira ao tratamento das crianças seropositivas.
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Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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