LESOTO: “Pacientes especialistas” aliviam o pessoal de saúde no tratamento da Sida
MASERU, 30 Outubro 2006 (PlusNews) - Sentada na pequena e superlotada sala de espera da Clínica de HIV/Sida Phoholong, a 40 km da capital Maseru, onde regista amostras de sangue, Miriam Phoofolo parece uma enfermeira, mas na verdade é uma paciente.
Num contexto em que a falta de trabalhadores de saúde é um problema grave e se estima que um em cada quatro adultos é seropositivo, fornecer cuidados e tratamento de Sida necessita de criatividade.
Uma nova proposta testada pela Iniciativa de HIV/Sida da Fundação Clinton, com sede nos Estados Unidos da América, consiste em treinar pacientes seropositivos como Phoofolo para ajudarem os médicos, enfermeiras e farmacêuticos em tarefas como arquivar, tirar notas de pacientes e aconselhá-los sobre como tomar antiretrovirais (ARVs).
A iniciativa “Paciente Especialista” foi lançada há um ano para coincidir com os esforços do governo do Lesoto de descentralizar a distribuição de ARVs grátis de hospitais para centros de saúde locais.
Phoofolo é uma das 10 pacientes especialistas do Lesoto, mas se a experiência tiver sucesso e obtiver mais financiamento, o programa pode ser expandido para todas as clínicas do país e até servir de modelo para outros países da região na gestão da falta de trabalhadores de saúde.
Segundo o director nacional da Fundação Clinton, Dr. Mphu Ramatlapeng, existem somente 40 médicos no país, a maioria estrangeiros que não falam o Sesotho, língua compreendida pelos 1.8 milhões de habitantes, dos quais 288 mil são HIV+.
O país não tem nenhuma faculdade de medicina, e os que são formados na África do Sul ou noutros países raramente regressam. As enfermeiras formadas no país são atraídas por outros países, que pagam melhor e oferecem melhores condições de trabalho.
Uma paciente indispensável
“Phoholong” significa “lugar onde as pessoas são salvas”, mas a clínica apenas tem uma enfermeira, uma auxiliar de enfermagem e um médico, que só fazem consultas nas tardes para atender os 995 pacientes HIV+. “Não é suficiente”, diz a enfermeira Lucy Tseka.
Phoofolo começou a trabalhar na clínica em Dezembro de 2005, após um treinamento de 10 dias em administração de ARVs. A formação, combinada com a sua experiência de vida com o HIV, nos 10 últimos anos, e o tratamento ARV, nos últimos dois, fazem dela uma pessoa indispensável.
“A Miriam nos ajuda a pesar os pacientes, a medir a temperatura, a arquivar, a aconselhar e a traduzir para o médico, quando eu não estou”, diz Tseka ressalvando que “não poderia trabalhar sem ela”.
Phoofolo recebe um pequeno salário de 500 Maluti (cerca de 65 dólares americanos), por mês, da Fundação Clinton, mas depois de vários anos gravemente doente e dependente da família, ela está contente com o vencimento e com a oportunidade de compartilhar a sua experiência com os outros doentes.
“Eu decidi trabalhar aqui, porque quero encorajar as outras pessoas que são HIV+ dizendo-lhes que a vida continua e que deve ser vivida positivamente...eu sempre lhes conto de onde vim e há quantos anos soube da minha seropositividade”, conta Phoofolo.
A coordenadora do programa “paciente especialista”, Denise Thomas, diz que pessoas como Phoofolo são um “presente” para ajudar a aliviar a pressão nas sobrecarregadas clínicas de HIV/Sida.
“Os doentes estão melhorando com os ARVs e querem partilhar as suas historias”, diz ela, sublinhando que “os pacientes especialistas têm um óptimo efeito sobre o moral dos doentes das clínicas - eles são um exemplo vivo de sucesso”.
Valorização dos doentes
A experiência também tem sido estimulante para os pacientes especialistas. A maioria estava desempregada e valoriza o salário e a credibilidade que esta oportunidade lhes confere nas suas comunidades. “Eles se tornam protectores e são procurados”, diz Thomas.
Thomas, enfermeira que trabalhou com pacientes HIV+, em Vancouver, Canada, sua terra natal, chegou ao Lesoto em Novembro de 2005 integrada na segunda iniciativa da Fundação Clinton, que junta médicos e enfermeiras experientes de outros continentes e trabalhadores locais de saúde em novas clínicas de tratamento ARV.
Ela foi mentora de Tseka nos dois primeiros meses de prescrição de ARVs. Na altura, a clínica fornecia ARVs somente a seis pacientes.
“Nós éramos realmente novatos, na altura”, lembra Tseka, “então ela me ajudou com a organização da clínica e com outras dúvidas que eu tinha. Eu frequentei um treinamento antes da abertura da clínica, mas não tinha a experiência prática”.
No final do período de orientação, 67 pacientes recebiam o tratamento. Dez meses depois, eram 400.
No primeiro ano, o programa de orientação clínica trouxe 37 médicos e enfermeiras da Europa, Canadá, Estados Unidos da América e outros países africanos como voluntários, por períodos até 12 semanas, em novos locais que administram ARVs.
Thomas, que é também coordenadora deste programa, diz que o objectivo final é criar peritos locais suficientes, de modo a conselheiros de orientação sejam recrutados no Lesoto.
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Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento, (IRIN) PVHS/ONGs
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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