ZÂMBIA: Faltam kits para testagem de HIV em crianças

Photo: Kristy Siegfried/IRIN  |
O programa de antiretrovirais beneficia mais adultos do que crianças |
LUSAKA, 26 Janeiro 2007 (PlusNews) - Na Zâmbia, a falta de kits de testagem pediátricos e de pessoal médico especializado está atrasando a distribuição de medicamentos antiretrovirais a crianças seropositivas.
Embora o Conselho Nacional para a Sida (NAC, em inglês) tenha medicamentos antiretrovirais (ARVs) suficientes para tratar cerca de 19.000 crianças, somente 5.000 tem acesso a estes medicamentos.
Segundo Mary Katepa, especialista em pediatria no Hospital Universitário, a falta de kits de testagem para crianças está atrasando a expansão do tratamento ARV pediátrico.
“Neste momento, não temos equipamento suficiente para testar crianças para o HIV, principalmente menores de dois anos, então fazemos testes de anticorpos, mas a criança pode receber anticorpos da mãe infectada através do sangue ou do leite materno”, disse ela.
“Nós só podemos ter certeza do estado serológico da criança após 18 meses, quando os anticorpos da mãe deverão ter sido eliminados, e só então, se for necessário, consideramos colocar a criança sob tratamento”, explicou.
Estima-se que 1,6 milhões de zambianos vivam com o HIV, o que representa cerca de 17 por cento da população adulta, mas somente 75.000 pessoas tem acesso aos ARV. Mesmo com a lenta introdução do tratamento efectuada até agora, analistas afirmam que o programa beneficia mais adultos do que crianças.
Quantas são?
O NAC e a Onusida estão tentando estabelecer estatísticas sobre o número de crianças seropositivas. O Ministério da Saúde estima que dos 500.000 nascimentos registados cada ano, cerca de 40.000 crianças estejam infectadas, e que de 30 a 50 por cento delas morrem antes dos dois primeiros anos, diz a portavoz do NAC, Justine Mwinga.
“A maior fonte de infecção pelo HIV em crianças é a transmissão vertical durante a gravidez, e a maioria das crianças infectadas morre sem nunca ter sido testadas. É por este motivo que estamos reforçando a prevenção da transmissão mãe-filho, testando todas as gestantes que vêm aos hospitais e clínicas”, diz Mwinga.
O Ministro da Saúde estabeleceu para este ano a meta de reduzir em mais de um quarto o número de recém-nascidos seropositivos.
Como outros países na região, a Zâmbia enfrenta a falta de pessoal médico, que está migrando em busca de melhores condições de trabalho e de melhores salários.
O acesso aos ARVs pediátricos está sendo ameaçado pela falta de técnicas de diagnóstico infantil e pelo treinamento inadequado dos trabalhadores da saúde e fornecedores de cuidados na gestão do HIV/Sida em crianças, diz Mwinga.
Um estudo efectuado em 2004 pelo Ministério da Saúde mostrou que a Zâmbia tinha 10.000 enfermeiras registadas para uma população de 10 milhões de habitantes. Por outro lado, um estudo recente do Fundo das Nações Unidas para a População revelou que no University Teaching Hospital, o maior hospital de referência do país, na capital, Lusaka, havia somente uma enfermeira responsável por cada enfermaria.
“Como as crianças não conseguem se expressar sozinhas, tratá-las geralmente é muito complicado”, diz o conselheiro para crianças Katuta Mulenga. “Nós temos que nos fiar principalmente nas informações fornecidas pelos pais ou outras pessoas que cuidam delas, e alguns dos pais não querem que seus filhos sejam testados, mesmo que haja suspeita de que eles sejam seropositivos. Fica mais fácil nos casos em que as crianças têm mais de 10 anos de idade”.
A Cruz Vermelha da Zâmbia, que também fornece educação sobre o HIV/Sida e mobiliza as comunidades, conseguiu colocar cerca de 30 órfãos e crianças vulneráveis sob tratamento ARV em seus projetos locais.
“Nós achamos muito difícil dar ARVs a muitas crianças por causa da dosagem: a maioria dos medicamentos é destinada a adultos, e administrá-los em crianças requer um pessoal altamente especializado. Seria mais fácil se tivéssemos ARVs pediátricos nas clínicas e hospitais com os quais trabalhamos”, diz James Zulu, porta-voz da Cruz Vermelha nacional.
“Devido à natureza tóxica da maioria dos ARVs, nós somos forçados a adiar o tratamento até que a criança atinja os 10 anos, mas muitas delas morrem antes de atingir essa idade”, diz ele. “Por conseguinte, estamos fazendo um apelo para ajudar-nos a estender o programa e assim salvar vidas”.
|