TOGO: Não é hora de condenar, mas de testar
LOMÉ, 5 Dezembro 2006 (PlusNews) - O sargento-chefe Damiegou Carieri, sub-oficial do exército togolês, foi ao combate há dois anos, com o objectivo de proteger os seus companheiros de luta do HIV/Sida.
Desde que, há dois anos, descobriu a sua seropositividade, ele nunca cessou as suas actividades. Na direcção de uma associação de militares que vivem com HIV/Sida, ele lidera, com energia e convicção, uma campanha em favor da testagem e exercícios físicos.
“A minha seropositividade não mudou nada na minha vida de militar”, explica Carieri. “Informei aos meus superiores que iria lutar contra o HIV/Sida no seio do exército e não houve relutância alguma”.
O exército togolês beneficia, desde 2002, ano do lançamento da Operação Alta Proteção (OHP, em francês), de programas pioneiros de informação sobre HIV/Sida e testagem sistemática de soldados.
Cedência
Segundo a organização norte-americana Population Services International(PSI), na falta de estudos específicos, a taxa de seroprevalência entre os militares togoleses pode ser estimada em mais de 25 por cento, correspondente a um quarto do efectivo.
A taxa nacional oficial é de 3.2 por cento. Mas a PSI considera que, a seroprevalência no exército, comparada aos países vizinhos e considerando a situação socioeconómica togolesa “deve ser pelo menos três vezes superior à taxa registada em toda a população adulta”.
Num estudo recente sobre esta questão, o Banco Mundial explica que os militares, homens geralmente jovens, sexualmente activos e solteiros, podem ceder à pressão do grupo, principalmente quando estão longe de casa.
“Em tempos de guerra, o risco de contrair o HIV e infecções sexualmente transmissíveis pode parecer pequeno comparado ao risco de morte em combate. Por estas razões, os militares geralmente apresentam taxas de doenças de transmissão sexual e de infecção pelo HIV mais elevadas que a população em geral,” segundo o Banco Mundial.
Hora de testar
O sargento-chefe Carieri conhece bem as tentações dos militares e os riscos que eles correm.
“Eu tenho só uma mulher, mas já tive relações sexuais com outras mulheres e foi provavelmente assim que fui infectado”, diz. “Isto pode acontecer a qualquer pessoa, ninguém é perfeito. A verdade é que 82 por cento das pessoas infectadas o foram por causa de relações sexuais não protegidas, mesmo se alguns tentam afirmar o contrário”.
Para Carieri, um dos 450 educadores de pares nas forças armadas togolesas sobre a prevenção e cuidados, não é hora de condenar, mas de testar.
“Os mais perigosos são aqueles que não conhecem o seu estado serológico,” diz. “Eu vou lutar para que os meus companheiros saibam a tempo de receberem o tratamento no caso de um resultado positivo e possam assim continuar a exercer seu papel no exército”.
Este sargento-chefe soube que era seropositivo, em 2004, após um teste no acampamento militar Gnassingbe Eyadema, na capital Lomé. Tinha 44 anos e andava sempre doente.
“Um homem que tem boa saúde não deve ficar sempre doente. É por isso que fiz o teste”, conta.
E foi com a mesma naturalidade que este homem atlético contou o resultado à sua mulher, que ainda é seronegativa.
“É surpreendente, mas é a prova que, sem o teste, não se deve fazer suposições. Com a minha esposa, eu uso o preservativo para protegê-la e me proteger”, afirma.
Além da sensibilização sobre a prevenção e cuidados, a OHP prevê a testagem sistemática de recrutas e anual para as forças armadas.
Cada uma das quatro principais bases militares do Togo dispõe de um centro de testagem anónima, ou seja, quatro centros para sete mil soldados e seus 35 mil dependentes.
Esperança
Em 2005, após um ano de actividades, o projecto mostrava resultados “notáveis”, segundo a PSI, corroborados por uma pesquisa de supervisão do comportamento: 60 por cento dos militares casados afirmaram utilizar preservativos fora de casa, ao invés dos oito por cento de antes.
Segundo a PSI, quase 100 por cento dos soldados foram envolvidos na OHP. Para convencer os mais reticentes, Carieri põe em jogo o seu sofrimento e reputação.
“Eu faço a sensibilização sem esconder a minha identidade. Não preciso fazê-lo, porque é dever das pessoas infectadas falar com as outras para que eles tomem consciência. Nós podemos conseguir mudar as pessoas”, explica ele.
Para ajudar e socorrer “os que não aguentam o embate”, Carieri fundou, em Agosto de 2005, a Associação dos Militares, Antigos Combatentes, Amigos e Homens em Uniforme, com 147 membros.
“Os meus camaradas que vivem com o HIV estão com o moral abalado...mas com os conselhos dos outros, eles conseguem voltar a ter esperança”, diz Carieri.
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Tema(s): (IRIN) Prevenção, (IRIN) PVHS/ONGs
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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