NAMÍBIA: Mensagens de prevenção da SIDA não chegam aos himba
WINDHOEK, 21 Abril 2006 (PlusNews) - A comunidade pastoral de himba, na Namíbia, permanece em grande medida separada do resto da sociedade, mas as ONGs alertam que as suas práticas culturais e o isolamento em relação aos esforços de prevenção do HIV/SIDA podem aumentar a sua vulnerabilidade ao vírus.
"A fidelidade a um parceiro é coisa desconhecida entre os himba", disse Karandua Mutambo, director da Sociedade da Cruz Vermelha na região do Kunene, no norte da Namíbia, explicando as dificuldades que os trabalhadores do SIDA enfrentam para aceder ao grupo.
Os himba também estão fora da corrente principal em termos de educação e cuidados de saúde. Segundo o Comité Regional de Coordenação de SIDA no Kunene, esta região tem a mais baixa taxa de prevalência na Namíbia, com apenas 13 por cento. Contudo, tem havido um aumento significativo: em 1998 a taxa de prevalência de HIV era de apenas seis por cento.
O Kunene tem também a mais baixa taxa de escolaridade - 57 por cento - o que afecta as campanhas de sensibilização sobre a doença.
A cultura himba encoraja os homens ricos em gado a terem mais do que uma mulher. Muitos homens mais velhos casam várias meninas. As mulheres são frequentemente casadas com primos ou outros familiares em uniões pré-combinadas. Muitas delas ficam grávidas ainda muito novas.
Embora o adultério não seja permitido - qualquer homem apanhado é multado em mais de 12 cabeças de gado - não é raro encontrar uma mulher himba casada entretendo até três amantes.
"Uma mulher que não trai o marido está sujeita ao ridículo e é muitas vezes considerada inútil. Alguns homens partilham abertamente as suas esposas, principalmente os tios com os seus sobrinhos favoritos", comentou Mutambo. Andam de tronco nu e cobrem de ocre o corpo, usam peles, conchas e joalharia de ferro.
SIDA não é da tribo
De acordo com Mutambo, os himba "dizem que a SIDA não é doença da sua tribo", embora reconheçam que ela existe no mundo.
"Eles já ouviram falar da doença, mas nunca viram ninguém morrer dela nas suas aldeias. No passado nunca se ouviu falar, nas suas comunidades, de alguém perder a vida aos 20 anos. Agora, isso está a acontecer, mas os himba não vêm nenhuma ligação entre a SIDA e as mortes frequentes, hospitalização e tuberculose relacionada com a SIDA".
A SIDA é considerada doença daqueles que estiveram em contacto com os ovambo (outro grande grupo étnico do norte da Namíbia), dos jovens que vão para as cidades ou dos que casam com pessoas de outras etnias, disse Mutambo.
Consequentemente, os himba tendem a manter as suas filhas em casa depois de completarem o ensino primário, em vez de permitir que frequentem o ensino secundário noutras zonas.
Em resposta à alta taxa de mortalidade materna entre as mulheres do grupo - a mais alta do país - a Cruz Vermelha da Namíbia tem estado, desde 2001, a ensinar-lhes sobre a contracepção, planeamento familiar, infecções de transmissão sexual e HIV/SIDA.
Desconfiança
O maior desafio das ONGs tem sido convencer os himba a mudar alguns elementos do estilo de vida que têm vindo teimosamente a seguir durante tanto tempo.
Os voluntários são vistos com desconfiança, mas a organização começou recentemente a formar voluntários da própria comunidade.
"Os estranhos são vistos como tendo vindo para colher informações para vender nas cidades...conseguimos ganhar a confiança dos himba, porque também lhes damos água para beber", disse Mutambo.
Charles Varije, coordenador regional da Sociedade da Cruz Vermelha da Namíbia em Kunene, disse ao PlusNews que o HIV/SIDA não é preocupação primária para os pastores, mas sim o estado do seu gado. É por essa razão que os homens muitas vezes preferem viver com o gado em pastagens distantes, o que lhes dá oportunidade de terem relações extraconjugais.
Funcionários do Hospital Estatal de Oshakati, na maior zona urbana do norte do país, disseram que os himba preferem a medicina tradicional aos cuidados de saúde modernos.
"O problema é que eles têm visto pessoas a morrer depois de hospitalizadas, mas muitos chegam ao hospital quando já é demasiado tarde", disse Panduleni Muupwe, daquela unidade.
Medicamentos antiretrovirais foram introduzidos na região em 2004 e a incidência das infecções de transmissão sexual foi diminuindo, disse Muupwe.
A natureza também está a deixar as suas marcas no estilo de vida dos himba. A terra para pastagem foi atingida pela seca nos últimos anos, forçando-os a cultivarem milho e mapira para sobreviverem.
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Tema(s): (IRIN) Prevenção
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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