NAMÍBIA: Caprivi na rota da prevenção

Photo: IRIN  |
Mensagens de prevenção chegam aos camionistas |
KATIMA MULILO, 13 Junho 2006 (PlusNews) - "Isto (um preservativo) é o companheiro de todo o viajante, tal como o passaporte", disse Joseph Matroos, funcionário alfandegário do posto de Ngoma, fronteira nordeste da Namíbia com o Botswana, na região de Caprivi.
Embora não seja nenhum perito, Matroos tem consciência de que o grande tráfego que cruza a fronteira contribuiu para a propagação de HIV/SIDA.
Ngoma, 40 quilómetros a leste de Katima Mulilo, a capital do Caprivi, é um dos dois postos fronteiriços da auto-estrada Trans-Caprivi, que liga o Botswana, Zâmbia e Zimbabwe ao porto de águas profundas de Walvis Bay, na Namíbia.
Nestes países do interior, as taxas de infecção pelo HIV são das mais altas do mundo.
O segundo posto fronteiriço, Wengela, cinco quilómetros a norte de Katima, encontra-se na ponte sobre o rio Zambeze e liga o Caprivi à Zâmbia. Inaugurada em 2004, a ponte facilita o comércio a partir de pontos tão distantes como a República Democrática do Congo.
Tráfego e seroprevalência
Matroos disse que o tráfego, na Namíbia, está a aumentar, em parte, porque já há paz em Angola, o seu vizinho a norte.
"Num dia movimentado lidamos com cerca de 500 visitantes", comentou, acrescentando que muitos deles são comerciantes vindos do Zimbabwe e visitantes do Botswana, que cruzam a fronteira para ver familiares do lado da Namíbia. O resto são grandes camiões vindos quer do Zimbabwe quer da África do Sul, visitantes da Zâmbia e de outras partes.
O crescente tráfego expôs a região do Caprivi a países com altas taxas de seroprevalência e, como resultado, tem a mais alta taxa de prevalência de HIV/Sida na Namíbia: 43 por cento, comparada com a média nacional de 22,5 por cento, segundo a médica chefe do hospital estatal de Ngweze, em Katima Mulilo, Dra Zengani Chirwa.
Funcionários da Associação do Marketing Social, a filial local da ONG internacional PSI, regularmente distribuem preservativos no posto fronteiriço de Wengela.
Diariamente, mais de 800 visitantes e até 15 camiões atravessam Wengela, muitos vindos da Zâmbia, disse Alfred Munalula, funcionário da migração.
Cuidados domiciliários
A Sociedade da Cruz Vermelha da Namíbia iniciou programas transfronteiriços de prevenção e cuidados domiciliários de HIV/Sida, nos distritos de Sesheke, na Zâmbia, e Chobe, no Botswana, que partilham a fronteira do Caprivi.
"Não podemos descurar a mobilidade como um dos factores determinantes na propagação do HIV/Sida no Caprivi", disse a coordenadora de HIV/Sida na delegação da Cruz Vermelha da Namíbia, em Katima Mulilo, Caroline Thomas.
A Cruz Vermelha atinge as comunidades de Sesheko e Chobe, e desde finais do ano passado formou 43 agentes de cuidados domiciliários de HIV/Sida nas três comunidades, que podem também orientar actividades de prevenção e criar mudanças de atitude e comportamento nas comunidades.
Embora a região do Caprivi tenha a mais alta taxa de infecção pelo HIV/Sida na Namíbia, Sesheke e Chobe não são nada melhores neste aspecto.Segundo a Cruz Vermelha, a prevalência de HIV/Sida ronda os 30 por cento, entre a população adulta, em Sesheke, na Zâmbia, e quase 50 por cento em Chobe, no Botswana.
A situação é talvez mais grave em Chobe, onde os 50 por cento de taxa de infecção pelo HIV estão muito acima da média nacional de 39 por cento.
As autoridades sanitárias dizem que, no ano passado, houve uma redução de novas infecções, graças a uma eficaz campanha oficial contra a pandemia.
O governo do Botswana abriu um centro de aconselhamento e testagem voluntária, em 2004, e comprometeu-se a fornecer gratuitamente medicamentos antiretrovirais.
De acordo com a Cruz Vermelha, em Sesheke, a realidade, no terreno, pode ser algo diferente, uma vez que não há unidades de testagem em nenhum dos três hospitais, nem há qualquer vigilância das mães lactentes, tal como no resto do país.
Estigma e tabu
"Estas pessoas constituem a mesma família", disse o chefe Liswani III, líder tradicional da população Subiya, um dos dois grupos étnicos de Caprivi. "Há muita interacção e casamentos entre pessoas de diferentes classes nesta região", acrescentou.
Segundo Thomas, mais podia ser feito para evitar que a doença afecte os grupos de alto risco, tais como os camionistas e as trabalhadoras de sexo.
Theuns Estherhuysen, gestor de segurança de uma companhia de camionagem baseada em Windhoek, comentou que "nós somos regidos por regulamentos de saúde e segurança para garantir que cada condutor seja saudável, (mas) levar um estilo de vida saudável é responsabilidade de cada indivíduo".
Cada camionista recebe preservativos e panfletos sobre prevenção de HIV/Sida.
Em Caprivi, há muito estigma contra as praticantes de sexo comercial e o HIV/Sida. Prevalece a cultura de manter as mulheres subservientes. A discussão aberta de matérias relacionadas com sexo é tabu.
Mas a Cruz Vermelha espera influenciar a mudança de atitudes, através dos seus programas de sensibilização.
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Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento, (IRIN) Prevenção
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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