ÁFRICA: Media britânica poderia fazer mais para combater estigma

Photo: Pierre Holtz/IRIN  |
Imigrantes africanos seropositivos têm medo de maior discriminação se falarem sobre sua situação na imprensa |
JOHANNESBURG, 26 Novembro 2007 (PlusNews) - Ao invés de contestar o duplo estigma ligado ao HIV e aos imigrantes africanos, a cobertura dos media ingleses pode ter contribuído para reforçá-lo, ao mostrar a Sida como uma doença basicamente africana, falhando na inclusão de imigrantes seropositivos africanos e se baseando em estereótipos racistas.
Estas são parte das revelações do relatório Start the Press: How African communities in the UK can work with the media to confront HIV stigma (Como as comunidades africanas e os media podem lutar juntos contra o estigma relacionado ao HIV).
O estudo foi realizado conjuntamente pela Rede Africana de Política sobre o HIV (AHPN, em inglês), um grupo de advocacia, e a Panos London, que faz parte de uma rede mundial de entidades sem fins lucrativos que promove o debate sobre assuntos do desenvolvimento internacional.
Entre Novembro de 2005 e Dezembro de 2006, pesquisadores analisaram a cobertura sobre o HIV de cinco jornais diários nacionais e cinco jornais voltados para as comunidades africanas.
Também foram entrevistados jornalistas, grupos de advocacia, migrantes africanos seropositivos e líderes comunitários africanos, para encontrar formas de colaboração mais responsável na cobertura do HIV nas comunidades africanas entre estes grupos.
Nos últimos anos, o maior número de novas infecções pelo HIV no Reino Unido aconteceu entre os migrantes africanos, mas a estigmatização que eles já enfrentam e o medo de que ela aumente pouco os incentiva a fazer o teste do HIV ou procurar tratamento.
“Como uma africana seropositiva, sinto que sou mais estigmatizada por causa de minha origem”, disse uma das pessoas entrevistadas.
Um estudo efetuado de 2003 feito pelo Sigma Research mostrou que somente metade dos africanos seropositivos no Reino Unido revelaram sua condição a alguém com quem viviam e 25 por cento deles não havia contado nem ao próprio médico.
O relatório Start the Press ressaltou que a cobertura sensacionalista ou imprecisa do HIV ou da migração pode aumentar o estigma, reduzindo ainda mais a probabilidade de que os Africanos no Reino Unido tenham motivação para fazer o teste ou viver abertamente e positivamente com o vírus.
Seropositivos fora das entrevistas
Um dos resultados mais importantes do estudo foi a constatação de quão raramente os migrantes africanos seropositivos foram entrevistados para artigos pelos media ingleses.
Na imprensa nacional, eles só foram citados em dez por cento das reportagens sobre HIV nas comunidades africanas. Ao invés disso, os jornalistas fiaram-se principalmente a porta-vozes do governo, médicos e activistas.
Os pesquisadores também mostraram uma mudança na caracterização do HIV, que passou de “praga homossexual” nos anos 80 e 90 a um problema africano hoje em dia. Mais de 50 por cento dos artigos analisados tanto na imprensa nacional quanto na imprensa étnica concentravam-se no HIV em outros países, principalmente em África.
As pessoas que vivem com o HIV, seus defensores e líderes (...) todos consideravam a cobertura da imprensa sobre HIV e a migração como estigmatizante. |
Mostrou-se também que havia relativamente pouca cobertura do HIV em relação à migração, e os artigos que abordavam este tema o faziam principalmente do ponto de vista jurídico.
Somente um artigo investigava os fatores sociais e culturais subjacentes, tais como a ilegalidade, a pobreza e a falta de acesso aos serviços de saúde, que podem tornar os migrantes africanos particularmente vulneráveis ao HIV.
Embora os jornais nacionais de grande alcance geralmente evitassem o uso de uma linguagem estigmatizante, os jornais populares, como o The Sun, publicaram, numa série de artigos sobre um cidadão zimbabuense que teria contaminado seis mulheres com o HIV quando trabalhava numa colônia de férias, títulos como “O demónio do HIV nos colocou no corredor da morte” e “Prendam o monstro do HIV”.
“A reportagem estigmatizante reforça os estereótipos racistas, relacionando os migrantes africanos, principalmente os homens, a um comportamento sexual predatório”, notaram os autores do estudo, que mostraram que os artigos não forneciam provas de que este homem tivesse feito o teste do HIV e soubesse ser seropositivo.
As entrevistas feitas pelos pesquisadores na comunidade africana mostraram que “as pessoas que vivem com o HIV, seus defensores e líderes (...) todos consideravam a cobertura da imprensa sobre o HIV e a migração como sendo estigmatizante”.
Além de fornecer aos jornalistas diretrizes para a cobertura de HIV e encorajá-los a diversificar suas fontes, os autores do estudo fizeram um apelo para que as comunidades africanas no Reino Unido ajudassem na sensibilização sobre a discriminação de que são vítimas, contando suas experiências aos jornalistas.
Para isso, a AHPN está a ajudar a organizar seminários sobre media e comunicação para os africanos seropositivos em Londres e noutras cidades do Reino Unido.
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Tema(s): (IRIN) Média, (IRIN) PVHS/ONGs, (IRIN) Estigma/Direitos Humanos/Leis
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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