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GLOBAL: Ignorados e sem voz – imigrantes seropositivos nos EUA


Photo: Laura Lopez Gonzalez/PlusNews
Imigrantes africanos: invisíveis e sem voz na América
WASHINGTON DC, 21 Novembro 2007 (PlusNews) - Os imigrantes constituem mais de 12 por cento – cerca de 35 milhões de pessoas – da população da América, mas o governo federal dos Estados Unidos quase não tem idéia de como o HIV os afecta, principalmente os africanos.

Enquanto o governo federal debate quem é suficientemente americano para receber cuidados de saúde federais num país construído em grande parte por imigrantes, governos estaduais, organizações não-governamentais e activistas comunitários têm estado a fornecer serviços de saúde aos imigrantes.

A maioria dos impressos do governo para os serviços de saúde não inclui uma opção para congoleses, angolanos, malianos ou qualquer outro país africano. Na verdade, se és africano na América serás designado de “afro-americano”.

“Hoje, a cidade de Nova Iorque é o único lugar que codifica os dados segundo o país de origem”, disse Andrew Spieldenner, director de programas para a Associação Nacional das Pessoas com Sida nos EUA. “Portanto ninguém sabe, na verdade, como o HIV afecta as sub-populações.”

Este é um problema não apenas quanto à recolha de dados sobre o HIV, mas também quanto à maneira como programas de Sida são dirigidos aos “afro-americanos”, segundo Teri Wolan, directora de operações do Conselho para o Desenvolvimento da Comunidade Etíope (ECDC), baseado em Washington DC.

“É um problema os africanos serem incluídos na categoria americanos negros, pois há tensão entre as duas populações”, disse. “Os africanos parecem se identificar mais com a cultura dos brancos na América do que com a cultura afro-americana, enquanto na comunidade afro-americana, acredita-se que os imigrantes estão a tomar empregos.”

A política

Um estudo publicado no Jornal Americano de Saúde Pública (American Journal of Public Health, em inglês) mostra que o imigrante médio nos EUA tem uma despesa de saúde per capita muito mais baixa que seu vizinho nascido no país.

Um estudo da RAND Corporation, grupo de análise baseado nos EUA, mostrou que imigrantes adultos indocumentados, muitas vezes criticados por incrementar gastos sociais, constituem cerca de 3,2 por cento da população da América, mas são responsáveis por apenas 1,3 por cento das despesas estatais com saúde.

Nos anos 90, reformas da previdência social restringiram grandemente o acesso de imigrantes a programas como o Medicaid, o seguro de saúde financiado pelo estado. Uma das medidas foi exigir, entre outras coisas, que os estrangeiros aguardem cinco anos após a obtenção da residência permanente para ter acesso a benefícios federais.

Em 2005, a introdução da Lei de Redução do Déficit (Deficit Reduction Act, em inglês) exigia que todos os requerentes à cobertura do Medicaid ou à sua renovação provassem ter cidadania americana.

Em Junho de 2007, um grupo de senadores de dois partidos, com o apoio da Casa Branca, introduziu uma proposta de lei para reformas no sistema de saúde visando melhorar o acesso dos imigrantes ao mesmo. A proposta, entretanto, encontrou oposição tanto do Partido Democrata como do Republicano, e não passou como lei.

Em Julho, o Washington Post citou o senador do Arizona John MacCain sobre as repercussões: “Vocês vão ver estados e cidades se debatendo para aprovar suas próprias leis e regulamentos. Teremos um conjunto de políticas completamente contraditórias”.

Mas a esquizofrenia de políticas que McCain descreveu tem acontecido por anos, enquanto estados, distritos e o Distrito de Columbia usaram seus próprios fundos para dar fornecer cuidados de saúde a imigrantes, mesmo indocumentados.

Lutando a boa batalha longe dos holofotes

A clínica de saúde Dennis Avenue do distrito de Montgomery, mesmo à saída da baixa de Washington DC, atende um grande número de clientes sem seguro.

A clínica – parcialmente financiada pelo programa governamental de HIV/Sida Ryan White, criado em 1990 para melhorar os cuidados aos sem seguro ou com seguro insuficiente – viu seu perfil típico mudar com o tempo e com a pandemia da Sida.

HIV no Distrito de Columbia
O Distrito de Columbia (DC) é o nome dado à área à volta da capital, Washington, DC
Tem pouco menos de 600 mil habitantes
DC tem uma seroprevalência 10 vezes mais alta que a média nacional
Mulheres afro-americanas constituem 90 por cento de todas as residentes infectadas
Source: Raymond S. Blanks, membro da District's Community HIV Planning Group (2007)
“Nos anos 1990 vimos muitos homens brancos homosexuais, depois vieram os afro-americanos, depois os latinos, e depois pessoas da África subsaariana”, disse Dale Schacherer, administrador do programa da clínica. Os dados da clínica, em impressos concebidos por ela própria, são classificados segundo o país de origem.

Como muitas outras institutições a nível de distrito, a clínica fornece medicamentos antiretrovirais por meio dos Programas de Assistência Medicamentosa para a Sida (ADAP, em inglês) geridos pelo governo e financiados pelo Programa Ryan White.

A clínica também oferece aconselhamento e testagem voluntária, gestão de casos, notificação de parceiros e programas de abuso de drogas, bem como programas de saúde mental, raros em organizações direccionadas a imigrantes.

“Muitas pessoas vêm aqui com síndrome de stress pós-traumático e nem sabem disso”, disse Schacherer. “Isto pode ser particularmente verdade se tiverem chegado como refugiados, se tiverem fugido de alguma coisa no seu país.”

Apesar da gama de serviços, a clínica Dennis Avenue não faz muita publicidade. Foi o boca-a-boca que trouxe muitos dos cerca de 700 pacientes desta pequena clínica, para quem cada vez menos benefícios federais têm fluído.

Tais instituições geralmente hesitam em fazer propaganda de seu trabalho por medo de retaliações daqueles que se opõem aos benefícios estaduais a não-cidadãos.

“Protegemos muito nossos clientes e também temos que vigiar o financiamento”, disse Schacherer. “De momento não há restrições no uso dos fundos da ADAP para os imigrantes, mas parece que poderia enveredar por essa via (ser restringido)”.

Conhecimento é luz, ignorância é trevas

"Há muita informação errada, muito medo da morte e do estigma”, disse Schacherer, falando dos imigrantes com quem trabalha. “A maioria de nossos clientes não percebem que se detectarmos (o HIV) bastante cedo, podemos tratá-lo e permitir-lhes viver por muito mais tempo.”

Informação errada e estigma são particularmente comuns na grande comunidade imigrante etíope em Washington, segundo o refugiado etíope Teodros Mekonnen*. “É algo que não é discutido na comunidade etíope”, disse Mekonnen, que não revelou ser seropositivo em sua comunidade.

“Os americanos têm muito mais conhecimento deste tipo de coisa. Eles compreendem que se te cuidares, se tomares a tua medicação, vais ficar bem. Na nossa cultura, as pessoas julgam demais”, disse. “Elas não compreendem que não pedimos isto; confiamos em alguém e alguma coisa saiu errada.” 

O Conselho para o Desenvolvimento da Comunidade Etíope (ECDC, em inglês) é uma organização não-governamental que começou a trabalhar com a comunidade etíope há cerca de 25 anos. Desde então, expandiu seus programas e serviços a outros imigrantes africanos. Segundo o director de operações, Tori Wolan, os somalis agora constituem a maioria dos seus clientes.

Um estudo da ECDC indica que 70 por cento dos africanos recém-chegados à Área Metropolitana de Washington, uma zona mais alargada que inclui o Distrito de Columbia e tem mais de cinco milhões de residentes, não têm seguro.

Clientes seropositivos sem seguro e necessitando de tratamento são enviados para as clínicas locais, onde devem pagar segundo uma escala baseada em seu rendimento, disse Shimeles Bekele, uma etíope que trabalha na avaliação do projecto da ECDC.

A organização também oferece assistência a domicílio, assistência para emprego, serviços de tradução e empréstimos por meio de uma organização parceira.

“A diversidade de serviços que oferecemos é uma vantagem real sobre organizações que dão apenas serviços de Sida. É uma maneira de recrutar – eles podem ter vindo por outras razões, mas isto dá-nos uma oportunidade de falar com eles sobre HIV e Sida”, disse Wolan.

''Em África, se alguém tem HIV, você não diz directamente - tem que dizer de diferentes maneiras.''
O especialista da organização, Asheber Gebru, também da Etiópia, disse que “você tem que se mover do geral ao específico. Quando você fala com eles (imigrantes) sobre o HIV, eles tomam isso como algo pessoal, e é por isso que se tem que falar de outros serviços de migração”.

Bekele explicou que “Em África, se alguém tem HIV, você não diz directamente – tem que dizer de diferentes maneiras.”

Gebru concordou: “Por vezes existe o tabu que as pessoas não querem falar sobre HIV ou sexualidade; outras vezes, eles não têm tempo para falar porque têm que arranjar um emprego, ou trabalhar para ganhar a vida”.

O ECDC produz literatura sobre saúde em Amhraric ou Tigrinya, línguas faladas na Etiópia e Eritréia, bem como em árabe, francês e somali. Panfletos originalmente concebidos para afro-americanos são adaptados para clientes imigrantes usando provérbios africanos tais como “Conhecimento é luz, ignorância é trevas” para falar do HIV, com imagens representando várias comunidades.

Não-contados e negligenciados

“Para mim, o poder está em usar a educação, e educação que esteja nos meios apropriados para estes africanos recém-chegados, e usando seu próprio povo para isso”, disse Wolan. Enquanto pessoas como Bekele e Gebru encontraram maneiras de ajudar suas comunidades na diáspora, outros dizem que os imigrantes africanos continuam invisíveis para o governo norte-americano.

O activista Joseph Eyong, natural dos Camarões, disse que não vê o governo local a interessar-se por sua comunidade. “Já vi os dois lados; já estive na América e em África”.

Eyong, que é presidente da ONG African Community Gateway Organization, comentou: “Eu quero que os políticos saibam que existem recém-chegados aqui, e que a maneira como os tratam não pode ser a mesma como tratam as pessoas daqui – há assuntos que são específicos deste grupo”.

Ele e outros estão agora a negociar a inclusão de um representante do imigrante africano no Distrito de Montgomery, para servir juntamente com a já estabelecida ligação afro-americana. Segundo Eyong, os imigrantes africanos, esquecidos nos dados sentinela e sub-representados nas estruturas do poder político, continuam a não ter voz.


Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento, (IRIN) Prevenção, (IRIN) PVHS/ONGs, (IRIN) Estigma/Direitos Humanos/Leis

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
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