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CABO VERDE: Turistas são bem-vindos, HIV não


Photo: Escape to Cape Verde
Para todos os gostos: praias de dia, discotecas à noite
SANTA MARIA, 8 Agosto 2007 (PlusNews) - É quase meia-noite e o epicentro dos turistas na bela cidade praiana de Santa Maria, onde pensões e restaurantes se perfilam ao longo da rua de pedra, começam a encher para uma longa noite de diversão.

No terraço do bar, um grupo de italianos e mulheres cabo-verdianas bebe e canta enquanto a música toca lá dentro, onde uma jovem, vestida com uma minúscula minissaia e uma blusa justa, segura sua carteira de penas brancas e dança sozinha. Homens assistem de suas banquetas.

Essa é uma cena típica de fim-de-semana na antes sossegada cidade de Santa Maria, que hoje, no centro do boom do turismo, alimenta as economias da Ilha do Sal e Cabo Verde como um todo.

Graças ao turismo, este minúsculo arquipélago na costa de África Ocidental, nas proximidades do Senegal, com uma população total de cerca de 500 mil pessoas, deu saltos imensos nos últimos anos.

De fato, segundo o Conselho Económico e Social das Nações Unidas, o desenvolvimento económico e humano em Cabo Verde é tal que a partir de 2008 o país não estará mais qualificado para constar na lista dos “países menos desenvolvidos”.

Mas o crescimento neste sector – só a Ilha do Sal atrai 160 mil turistas por ano – também trouxe uma preocupação quanto à transformação de Cabo Verde num destino para turismo sexual.

Apesar de não haver dados oficiais quanto ao turismo sexual, não faltam histórias sobre o fenómeno, que, segundo autoridades e residentes, pode facilmente crescer se não for controlado.

No início deste ano, o assassinato brutal de duas turistas italianas – que foram apedrejadas até a morte, enquanto uma terceira sobreviveu por ter se fingido de morta – chocou essa pacífica nação. Os assassinos eram três jovens locais, e um era um antigo namorado de uma das turistas mortas.

''As cabo-verdianas vão a discotecas, restaurantes e vivem com os estrangeiros. É difícil distinguir se a relação é de prostituição ou não.''
A imprensa local insinuou que o crime teria acontecido devido a um romance azedado e um negócio de cocaína mal resolvido. Qualquer que tenha sido o motivo, os assassinatos colocaram na berlinda estrangeiros ricos que têm relacionamentos sexuais com locais pobres.

Um estudo publicado em 2005 pelo Instituto Cabo-Verdiano de Menores e pelo Comité de Coordenação e Combate da Sida (CCS) relata vários incidentes em que crianças e adolescentes foram abusados por turistas homens nas cidades de Santa Maria, na capital cabo-verdiana de Praia, e no Mindelo, na Ilha de São Vicente. Em alguns casos, os turistas pediam às crianças para procurar meninas menores de idade para sexo.

De bar em bar

É difícil julgar em que condições os turistas têm relações sexuais com os residentes.

“A actividade sexual é uma actividade humana. Tu podes viajar, transar ou não. Depende”, diz Artur Correia, secretário executivo do CCS, ao PlusNews.

A lei de Cabo Verde não penaliza a prostituição. E pela proliferação de prostitutas operando tanto às escondidas quanto abertamente na Ilha do Sal, há mercado para esse tipo de negócio.

Embora ela não se descreva como tal, a moça de minissaia e carteira de penas brancas que passa as horas seguintes entre as discotecas e os bares de Santa Maria, é uma prostituta à caça de clientes.

“Meu trabalho? Eu trabalho num restaurante”, diz essa mulher de 29 anos, mãe de três filhos. Original da Ilha de São Vicente, ela prefere ser chamada de Carla.

Depois de algumas cervejas bebidas com canudo, Carla se abre: “O negócio ficou melhor para nós, cabo-verdianas, porque a polícia recentemente se livrou de todas as nigerianas e senegalesas. Agora há menos competição.”

Como Carla, muitos dos mais de 17 mil habitantes da Ilha do Sal emigraram de outras ilhas e da parte continental de África, atraídos pelo crescente turismo e pela construção ao redor de Santa Maria.

Mas na chegada, a realidade se mostra mais dura do que o esperado e algumas entram na prostituição para sobreviver.

Estrangeiras e locais

As cabo-verdianas envolvidas na venda do sexo tendem a ser mais discretas sobre sua linha de trabalho que as estrangeiras.

“Nós vemos mulheres da costa africana nas ruas, trabalhando como prostitutas. As cabo-verdianas vão às discotecas, restaurantes, e vivem com estrangeiros. É difícil distinguir se a relação é de prostituição ou não”, afirma Jorge Figueiredo, presidente do governo local.

Sérgio Rodrigues, secretário do Comité Municipal de Luta Contra a Sida na Ilha do Sal, concorda: “Encontras prostitutas tanto cabo-verdianas como estrangeiras nas ruas aqui, principalmente em Santa Maria. Mas como todas as pessoas daqui se conhecem, as prostitutas cabo-verdianas são geralmente muito mais discretas sobre o que fazem.”


Photo: Zoe Eisenstein/PlusNews
Boom turístico atrai imigrantes de outras ilhas e do continente
Precisamos estar preparados

Enquanto o turismo sexual é um grande negócio na Gâmbia, Jamaica e Tailândia, Correia reluta em criar alarde sobre a situação em Cabo Verde. Mas se mostra preocupado.

“As ilhas com maiores riscos de turismo sexual são Sal, Boa Vista e São Vicente”, diz. “Este tipo de turismo está crescendo muito rapidamente e precisamos estar preparados para evitar um aumento do HIV.”

Para isso, o CCS está a trabalhar com instituições de formação de turismo para ensinar a prevenção do HIV em seus cursos.

Durante o dia, Santa Maria tem uma atmosfera completamente diferente: famílias em pacotes turísticos nadando e surfando em suas longas praias de areia branca.

Enquanto mais um avião fretado pousa no aeroporto internacional da Ilha do Sal e os turistas formam fila nos serviços de migração, as preocupações sobre o potencial impacto negativo do turismo sexual parece ser a última coisa em suas mentes.

Um britânico de partida depois de vários meses em Cabo Verde não está preocupado com a idéia de turismo sexual.

“Lógico, esse tipo de coisa acontece aqui”, diz ele. “Mas acho que é normal em todos os lugares onde há turismo.”

ze/ll/ms


Tema(s): (IRIN) Prevenção

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
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