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CPLP: Entre o batuque e a cachupada - driblando o HIV na comunidade cabo-verdiana em Portugal


Photo: UNDP Angola
Convencer um imigtrante cabo-verdiano a usar preservativo ainda é difícil devido a questões culturais. A falta de informação acaba levando consequências à terra natal.
LISBOA, 19 Junho 2007 (PlusNews) - Fazer a informação chegar a quem precisa foi o principal desafio colocado durante a conferência VIH/ Sida em Portugal: Problema das Comunidades Migrantes, realizada em Lisboa na semana passada.

A conferência foi organizada pela Liga Portuguesa de Luta contra a Sida (LPCS) e o Fundo de Apoio Social de Cabo-Verdianos em Portugal (FASCP).

“Temos de agir, fazer passar a mensagem”, diz Frederico Sanches, especialista em medicina interna do Hospital Garcia da Orta, em Almada, subúrbio de Lisboa. Ele trabalha sobretudo com a comunidade cabo-verdiana em Portugal e o que mais o revolta é perceber que a informação sobre o HIV não está a chegar bem.

“Ainda há ideias pré-concebidas e, por causa disso, a prevenção não é feita”, explica.

Ele diz que muitos imigrantes ainda vêem a Sida como uma doença de gays e toxicodependentes, quando na realidade, a maioria das infecções é feita entre heterossexuais pela via sexual nesta comunidade – tal como na África.

“Eles até me dizem que têm cuidado, mas o cuidado deles é olhar para o potencial parceiro sexual: se for gordinho, com bom aspecto, nem é preciso usar preservativo”, diz.

Além disso, por questões culturais, é difícil convencer um cabo-verdiano a usar preservativos.

A cabo-verdiana Andredina Cardoso, representante da FASCP, opina que essa falta de informação em Portugal tem consequências para os familiares na terra de origem.

“Os homens estão cá sozinhos, têm várias parceiras sexuais e infectam as mulheres quando voltam para casa”, diz.


Photo: UNDP
Uma solução para atingir a comunidade cabo-verdiana em Portugal é enviar os técnicos até os imigrantes, levando em conta o público-alvo e sua cultura
Onde pára a informação?

Mas por que a informação não chega, mesmo com folhetos, campanhas, distribuição de preservativos?

Sanches é enfático: “Os imigrantes não estão integrados na sociedade.”

Segundo ele, muitos imigrantes não querem passar um dia no centro de saúde porque é um dia perdido economicamente. Além disso, imigrantes irregulares sempre temem ser apanhados pelas autoridades, embora qualquer hospital seja obrigado a atender um paciente, com ou sem documentos.

E mesmo que esse receio seja superado, ainda há o desafio de convencê-lo a ir ao médico.

“O cabo-verdiano só vai quando está doente”, diz Sanches.

Ele aponta uma solução: os técnicos irem até os imigrantes, levando em conta o público-alvo e sua cultura: “Cabo-verdiano sai de casa para ir a uma boa cachupada, para ouvir um batuque. É aí que precisamos ir: ao bairro”.

Já Edite Cabral, representante da Casa de Santo António, que trabalha com mães adolescentes em Lisboa, muitas delas imigrantes africanas, pede que não se faça da “batucada” a ponte principal.

“Temos de trabalhar com as pessoas e não para elas: há que convencê-los a aprender sem ter uma cachupada atrás”, explica.

Ana Filgueiras, da Associação Cidadãos do Mundo, garante que o principal erro na prevenção e tratamento do HIV é não adequar a mensagem à comunidade-alvo.

“O europeu acha que a cultura africana é demasiado aberta ao sexo e vê os africanos como promíscuos, polígamos. Mas lá, um homem tem várias mulheres. Cá, um homem tem várias amantes. E a Sida é uma doença democrática, não considera o nome que se dá às pessoas”, diz.

''O europeu vê os africanos como promíscuos, polígamos. Mas lá, um homem tem várias esposas. Cá, um homem tem várias amantes. E a Sida é uma doença democrática, não considera o nome que se dá às pessoas.''
Mirando no público-alvo

Filgueiras lembra quando trabalhava com meninos de rua brasileiros. Era o início da década de 80 e a Sida estava apenas começando. Ela e sua equipa tentavam promover o uso do preservativo.

“Mas eles só me respondiam que polícia matava, bandido matava, fome matava. O que viria a Sida fazer? Matar?”, conta.

Então um dos meninos lhe perguntou se a Sida era um “bicho que dava tanta fraqueza que já não se podia fugir à polícia”.

“Foi aí que entendi como entrar no mundo deles: não podia dizer que a Sida matava, mas que os impedia de fugir da polícia ou dos bandidos. A Sida os impedia de sobreviver”, diz.

“Há que saber com quem se fala”, continua Filgueiras. “Que Cabo Verde tem uma cultura, mas dez ilhas e dez povos. Que Guiné-Bissau tem 18 povos diferentes. E não podemos falar da mesma maneira com um animista ou um muçulmano, por exemplo.”

E também não se pode falar em português com todos. Filgueiras explica que muitos ainda acreditam que qualquer imigrante dos países africanos lusófonos fala português, o que não é correcto.

“Sobretudo a nível da saúde, técnicos e psicólogos deviam pelo menos saber crioulo”, aconselha.

O preconceito que envolve o tratamento da Sida também precisa ser trabalhado. Muitos pacientes diagnosticados nem tentam o tratamento antiretroviral porque vêem a Sida como uma sentença de morte.

“A Sida não tem cura, mas é tratável. Tenho pacientes que têm Sida há dez anos e continuam a ter uma vida absolutamente normal”, diz o infectologista Júlio Botas, do Hospital Garcia da Orta.


Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento, (IRIN) Prevenção, (IRIN) Estigma/Direitos Humanos/Leis

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
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