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CABO VERDE: Órfãos da Sida são poucos nas contas do governo, mas muitos nas comunidades pobres


Photo: Zoe Eisenstein/PlusNews
O apoio às crianças não pode ser um ou dois anos, mas durante um longo prazo.
PRAIA, 26 Julho 2007 (PlusNews) - Estatísticas oficiais sobre o número de crianças que perderam os pais em decorrência do HIV em Cabo Verde estão subestimadas, acreditam especialistas.

Apenas 58 de um total de 5.486 órfãos tiveram seus pais mortos por causa da Sida, apontou o primeiro e único estudo realizado sobre este grupo naquele arquipélago. Mas a situação pode ser bem mais grave.

“Estes dados são muito, muito longe da realidade”, disse Artur Correia, secretário executivo do Comité de Combate e Controlo da Sida (CCS).

Entre 1986 e 2004, Cabo Verde registou 426 mortes por doenças relacionadas à Sida, das quais 64 em 2004, segundo dados do governo.

Mas muitas mortes devem ter acontecido e não registadas, afirma Correia, que estima cerca de 100 óbitos anuais em decorrência da epidemia. Ele lembra que cada mulher cabo-verdiana tem em média três filhos – uma queda significativa se comparada com a média de cerca de cinco a seis filhos em finais da década de 1990, o que daria mais órfãos do que os registados pelo estudo.

“É importante nós sabermos porque um dos nossos objectivos é reduzir o impacto da Sida nas pessoas infectadas e afectadas”, acrescentou.

Faltam dados

A população das dez ilhas de Cabo Verde é de aproximadamente 500 mil e a seroprevalência não chega a um por cento, o que é baixa pelos padrões africanos, mas significativa em termos de impacto sobre a vida das pessoas.

O estudo sobre os órfãos foi realizado entre Novembro de 2004 e Junho de 2005 pelo Instituto Cabo-Verdiano de Solidariedade e a CCS.

Das 58 crianças órfãs, 33 tinham perdido o pai, sete tinham perdido a mãe, e 18 tinham perdido ambos.

Cerca de 45 delas são claramente órfãos da Sida, de acordo com informações de membros da família ou dos serviços de saúde, enquanto 13 são suspeitos, segundo membros da família, líderes escolares ou comunitários.

O estudo informa ainda que não se conhece o número e a situação real desses órfãos por causa da resistência dos serviços de saúde em partilhar com outras instituições informações sobre a causa de morte.

Correia disse ter esperança que uma melhor parceria com as autoridades de saúde vai produzir uma imagem mais precisa da situação.

Pobreza e abandono escolar

A maioria das pessoas seropositivas em Cabo Verde vive num ciclo de pobreza e as famílias que hospedam e cuidam dos órfãos da Sida são pobres..

Dar apoio psicológico social e económico a estas crianças é fundamental para o futuro delas.

“A fragilidade socioeconómica dessas famílias é um factor determinante do abandono escolar,” disse o estudo. Um em cada cinco órfãos não estuda, e metade deles por falta de dinheiro.

Entre os que não estudam, 25 por cento reprovaram, o que demonstra, segundo o estudo, que “a instabilidade familiar originada pela perda de um progenitor afecta muito o desempenho escolar.”

Em Praia, capital nacional, a organização não governamental Morabi trabalha com 30 órfãos de Sida, incluindo alguns seropositivos. Eles vivem com famílias, vizinhos ou padrinhos.

''...Órfãos não recebem os cuidados de que uma criança precisa...''
A assistência deste grupo inclui alimentação, material escolar e transporte escolar. Um microcrédito ajuda as famílias hospedeiras a estabelecerem negócios e a atingir independência económica.

Contudo, ainda há muito por fazer, afirmou a coordenadora de projectos de HIV da Morabi, Fátima Alves.

“Não podemos apoiar as famílias durante apenas um ou dois anos, precisamos apoiá-las a longo prazo”, disse ao PlusNews.

Para ela, existe vontade política para trabalhar nisto, mas faltam acções claras e a disponibilização de mais recursos.

Em Cabo Verde não existem orfanatos e outras instiuições para receberem crianças, mesmo que temporariamente, quando as famílias biológicas e as hospedeiras não estão em condições económicas e psicológicas para receber mais uma criança.

Baixa auto-estima

Além de tudo isso, as crianças órfãs da Sida são muitas vezes estigmatizadas.

“Estamos a entrar numa segunda fase que tem a ver com a interiorização dos factos. A sociedade cabo-verdiana está ainda longe de mostrar o feito disso e a discriminação é muito forte”, disse Alves.

Lizete Henriques, psicóloga da Morabi, concorda e acredita que a reconstrução da força emocional das crianças órfãs é fundamental para o bem-estar delas.

“Elas têm problemas de baixa auto-estima. Em alguns casos elas perderam os dois progenitores e não recebem os cuidados de que uma criança precisa”, disse. “Muitas delas não são informadas por qué perderam os pais. Não posso chegar a uma criança e dizer-lhe, isso deve vir da família”, explica.

Segundo o estudo, a maioria dos postos de saúde tem falta de assistentes sociais, psicólogos e instalações para a testagem do HIV.

“Este trabalho fragmentado, o silêncio e a falta de engajamento das instituições governamentais afectam a situação de precariedade dos órfãos de Sida” em Cabo Verde, diz o estudo.

Ze/bm/lb/ms


Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento, (IRIN) Prevenção

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
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