ETIÓPIA: Serviço telefónico ajuda a eliminar a vergonha sobre a Sida
Photo: Alhassan Sillah/IRIN |
Com o telemóvel é ainda mais fácil ter informação sobre a Sida |
ADDIS ABABA, 26 Outubro 2006 (PlusNews) - “Wegen” significa família em Amárico, a principal língua da Etiópia, mas o ponto forte do serviço de atendimento telefónico sobre a Sida com o mesmo nome é o anonimato garantido às pessoas numa sociedade que não fala abertamente sobre a doença.
Lançado como projecto-piloto, em 2004, o serviço “Wegen” de atendimento gratuito se expandiu rapidamente, respondendo a mais de 70 mil chamadas por mês.
Da equipa de conselheiros fazem parte médicos, sociólogos e psicólogos, o que garante que uma vasta gama de apoio seja dada. As preocupações vão desde como fazer o teste do HIV até o que fazer em caso de falhar uma dose de antiretrovirais.
“Nós esperávamos receber menos de mil chamadas por dia, mas recebemos seis mil. Nunca pensávamos que este serviço se tornaria tão popular”, diz Gashaw Mengistu, Coordenador do Centro de Recursos sobre a Sida, que dirige o serviço.
“Depois do lançamento, recebemos 56 mil chamadas num mês e então decidimos que tínhamos que expandir. Passamos de oito a 24 linhas; a equipa passou de 17 a 39 pessoas e o atendimento passou de 8:00 - 20:00 para 8:00 - 00:00 horas.”
No início, este serviço era somente em Amárico e em Tigrinya, mas agora os conselheiros falam seis línguas e podem ser acessados em todo o país.
O “Wegen” custa cerca de 250 mil dólares americanos, por ano, e é financiado principalmente pelos Centros de Controle de Doenças dos Estados Unidos, Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para Alívio da Sida e Fundo Global.
Liberdade ao telefone
Após a escolha aleatória, as chamadas são transferidas para o telefonista mais apto a responder às questões. A socióloga Genene Tariku tende a se concentrar no aconselhamento, o que representa cerca de oito por cento das chamadas.
“O que me surpreendeu foi o quanto as pessoas estão preparadas para serem livres e abertas quando falam ao telefone; nunca conseguirias fazer as pessoas falarem desta maneira na Etiópia”, diz Genene.
“Uma vez um rapaz de 17 anos telefonou para falar sobre como estava a ser chantageado para se envolver numa relação homossexual, após ter se embebedado com um outro homem”, conta Genene, frisando que “simplesmente não posso imaginar alguém falando sobre isso se estivesse à sua frente. As pessoas falam de tudo, porque sabem que se sentirem desconfortáveis podem simplesmente desligar o telefone”.
O “Wegen” tem uma base de dados com a idade, sexo, morada e comentários das pessoas que ligam.
A chamada típica, segundo a equipa, é a de um jovem da capital, Addis Ababa, que não foi testado.
Embora as chamadas sejam gratuitas, os moradores de Addis têm mais possibilidades de terem acesso privado a telefones do que pessoas doutros locais.
Genene diz que o acesso aos telefones móveis também faz uma grande diferença: “As casas na Etiópia são lugares muito movimentados. As pessoas ficam na cozinha, na sala, e como telefonar de uma loja? O acesso ao telefone móvel é muito importante”.
Expansão
O serviço “Wegen” também espera aumentar as horas de atendimento para que as pessoas possam telefonar quando estiverem sozinhas em casa ou quando os outros moradores estiverem a dormir.
Actualmente, somente 28 por cento das pessoas que telefonam são mulheres, apesar de representarem 56 por cento dos 1.3 milhões de etíopes vivendo com o vírus.
Segundo o director Gashaw, esta é uma área que precisa de abordada na generalidade; ele chama a atenção para o facto de as mulheres terem menos acesso aos serviços de HIV, incluído a testagem.
O “Wegen” também informa aos dirigentes Etíopes responsáveis pela política do HIV.
Segundo Gashaw, o serviço “Wegen” pode alertar sobre eventuais casos de medicamentos distribuídos fora do prazo ou de pessoas que viajam até Addis para triagem e quando diagnosticados HIV+ são mandados às suas zonas de origem.
“Quando ouvimos falar disso, nós conseguimos tratamento para eles aqui em Addis,” diz Gashaw.
“São os dois lados da moeda”, acrescenta. “Não são só os problemas deles; este serviço também nos dá idéias de como melhorar o sistema”.
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Tema(s): (IRIN) Média, (IRIN) Prevenção, (IRIN) Estigma/Direitos Humanos/Leis
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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