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RUANDA: As mágoas das sobreviventes HIV+ do genocídio


Photo: IRIN
O horror do genocídio persiste na memória e no HIV
KIGALI, 13 Julho 2006 (PlusNews) - O Ruanda comemorou este mês o 12° Dia de Libertação, desde o genocídio de 1994, com apelos de “nunca mais”. Mas para milhares de mulheres que foram brutalmente violadas, nos 100 dias de terror, há algo que não lhes deixa esquecer o seu tormento: o HIV.

“Há dois anos, depois de ter ficado doente várias vezes, fiz o teste de HIV, e o resultado foi positivo”, diz a viúva Marie-Therese Mutoni (nome fictício) na capital, Kigali.

“Este fardo não me deixa esquecer os dias em que a Interahamwe (milícia da etnia maioritária Hutu) andava por todo o nosso vilarejo nos violando e matando nossas famílias”.

Entre 500 mil e um milhão de pessoas foram massacradas.

Embora as estatísticas variem, não há dúvidas que a violação foi comumente usada para intimidar os membros da comunidade minoritária Tutsi e Hutus liberais.

De acordo com os sobreviventes, o vírus foi espalhado deliberadamente, e não se limitou às mulheres. Os homens, por vezes, foram obrigados a ter relações sexuais com mulheres seropositivas.

“Estes violadores diziam às mulheres que queriam que elas morressem lentamente, assim a matança continuaria por muito tempo”, diz Peter Turyahikayo, da Rede de Mulheres de Rwanda (Rwanda Women’s Network/RWN), que, desde 1997, ajuda as mulheres que sobreviveram à violência sexual.

Uma sociedade ferida

“Os efeitos do HIV/Sida são de longa duração”, diz Turyahikayo. “Existem milhares de órfãos de Sida e cabe às famílias a responsabilidade de criá-los. O Ruanda é um país muito pobre, o povo não tem terras para cultivar, e não tem condições de cuidar de tantas crianças”

Os programas da RWN ajudam as viúvas e mulheres seropositivas que criam crianças que a pandemia ou o genocídio deixaram órfãs. Algumas são esposas de prisioneiros acusados de participar do genocídio, ou “genocidários”. Apesar das suas diferenças, as mulheres tentam construir um futuro melhor para os seus filhos num país livre de divisões.

“Quem não morreu nesta guerra ficou ferido de uma maneira ou de outra; o genocídio afectou tanto os mortos como os assassinos, porque as suas famílias ficaram desamparadas”, diz Mutoni. “A RWN nos ajuda a partilhar a nossa angústia e os efeitos do nosso doloroso passado”.

A única esperança para os mais velhos é o auxílio do governo e organizações de caridade.

“Eu cuido de cinco netos, meu filho e minha filha morreram da Sida”, diz Rose Nsabimana (nome fictício), uma senhora viúva de Kagugu. “Nós temos sorte de ter encontrado abrigo, mas eu não sei como mandarei estas crianças à escola”.

Pobreza e ARVs

O Ruanda é um país pequeno, superpovoado e com pouca terra cultivável. Os seus oito milhões de habitantes, a maioria sem qualquer especialização, têm poucas oportunidades de exercer actividades de rendimento.

“O nosso maior problema é que não temos nada para fazer que nos permita ganhar dinheiro suficiente para mandar as crianças para a escola, alimentá-las e vestí-las”, diz Nsabimana.

A RWN e outras organizações ensinam, aos sobreviventes do genocídio, costura, bordado, carpintaria e outros ofícios, que lhes permitam ganhar mais, mas o mercado é reduzido. A RWN não tem nenhuma loja na cidade, e os colares e roupões ficam empoeirados.

Outros grupos, baseados no Reino Unido, como Survivors Fund (Surf) e Avega Agahozo, uma organização para viúvas do genocídio, também lutam pelos direitos das mulheres seropositivas do Ruanda, mas o problema é enorme.

O Surf implementa um programa de cinco anos, com o auxílio do Departamento para o Desenvolvimento Internacional do governo britânico, para fornecer antiretrovirais (ARV) a 2.500 mulheres, mas estima que sete mil precisam do tratamento.

“Além do tratamento, estas mulheres necessitam de um aconselhamento especializado para permitir-lhes viver uma vida normal. Muitas delas criam filhos nascidos da violação e quase não conseguem olhar para eles, pois são uma eterna recordação dos violadores”, diz Turyahikayo. “As mulheres também precisam de ajuda socioeconômico para serem auto-suficientes”.

Sofrer caladas

RWN dirige a Policlínica da Esperança, um centro para mulheres sobreviventes da violência sexual, que tem uma unidade de aconselhamento e testagem voluntária e oferece serviços médicos e ARVs.

“É mais conveniente os nossos clientes virem à clínica para tratamento do que para as clínicas do governo. Aqui os funcionários os conhecem e correm menos riscos de estigmatização”, observa Turyahikayo.

A maioria das mulheres que sofreram violência sexual não consegue falar no assunto; elas interiorizam a sua dor, e não fazem o teste, levando muitas vezes à morte prematura por doenças relacionadas com a Sida, que poderiam ter sido prevenidas.

Turyahikayo enfatiza a necessidade de mais infraestruturas que permitam às mulheres ter um semblante de uma vida normal.

“Nós não podemos mudar a nossa história, mas temos que encontrar uma maneira de viver positivamente apesar disso”, diz ele.


Tema(s): (IRIN) , (IRIN) , (IRIN) PVHS/ONGs, (IRIN) Estigma/Direitos Humanos/Leis

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
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