África English Français Subscrição IRIN Mapa do Sítio
PlusNews
Notícias e análises sobre HIV e Sida
Pesquisa avançada
 domingo 07 Outubro 2007
 
Página inicial 
África 
Compacto Semanal 
Reportagem aprofundada 
Eventos 
Empregos 
Really Simple Syndication Feed 
Acerca do PlusNews 
Doadores 
Contacto 
 
Versão impressa
ÁFRICA: A guerra agrava ou contém a crise do HIV?


Photo: UN DPI
Após o conflito, um novo inimigo: o HIV
JOHANNESBURG, 18 Julho 2007 (PlusNews) - A sabedoria convencional postula que a guerra agrava a crise do HIV. Mas para especialistas em dois países africanos lusófonos saídos de conflitos, o efeito pode ser exactamente o contrário.

Em Angola, que hoje apresenta uma seroprevalência de quatro por cento para uma população de 14 milhões, a epidemia parece ter sido contida durante a guerra civil de 27 anos, que terminou em 2002.

“Com o país fechado, não havia fluxo de pessoas nem turismo, de forma que a infecção não circulava”, disse Pombal Maria, secretário-geral da organização não-governamental angolana de ajuda aos seropositivos Ação Humana.

Em Moçambique, a seroprevalência em 1987 estava na casa dos dois por cento, conforme dados do Plano Estratégico Nacional de Combate ao HIV/Sida 2005-2009 – número que era provavelmente maior, já que o sistema sanitário afectado pelos 16 anos de guerra civil era insuficiente para medir o real impacto da epidemia, segundo o secretário executivo adjunto do Conselho Nacional de Combate ao HIV/Sida, Diogo Milagre.

“Mas o até então estado de sítio em Moçambique impedia a expansão da epidemia”, explicou, referindo como a guerra cortou a comunicação entre vastas zonas do país durante anos.

HIV nas zonas de conflito

Essas opiniões corroboram um estudo publicado pelo jornal médico The Lancet este mês.

Durante muito tempo, peritos supunham que a violência e a crise de refugiados eram inevitáveis para a expansão do HI e Sida, mas uma análise na República Democrática do Congo (RDC), sul do Sudão, Ruanda, Uganda, Serra Leoa, Somália e Burundi não encontrou evidência de que taxas mais altas de infecção acompanham conflitos.

Em zonas afectadas pela guerra no Burundi, Ruanda e Uganda, a seroprevalência segue o mesmo padrão que nas áreas não afectadas, revelou a pesquisa.

Contrariamente à crença de que os refugiados das zonas de guerra trazem o HIV para os países hospedeiros, nove dos 12 campos de refugiados estudados tinham seroprevalência mais baixas do que as populações circunvizinhas; somente um campo tinha uma seroprevalência mais alta.

Na República Democrática do Congo, Serra Leoa e Ruanda, o uso de violações de mulheres em massa como arma de guerra não parecem ter elevado a seroprevalência.

''Saímos de uma guerra armada para uma guerra contra a Sida, e não estávamos preparadas
para ela.
''
Paul Spiegel, investigador principal e funcionário técnico sénior de HIV/Sida do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), afirmou que estudos anteriores que diziam que os conflitos exacerbavam infecções pelo HIV eram provavelmente baseados em fracos métodos de estudo e numa preconceituosa interpretação dos dados.

“É muito natural pensar-se que o HIV vai aumentar, de modo que eu penso que as pessoas foram logo tirando conclusões. A parte mais difícil é olhar para os indivíduos e depois olhar para os efeitos epidemiológicos”, disse ao IRIN/PlusNews.

Para ele, este conhecimento convencional não tomou em conta alguns efeitos protectores da guerra contra a propagação do HIV, tais como a dificuldade de movimentação entre as zonas rurais e as urbanas, de mais alta prevalência, e o colapso das redes de sexo comercial.

Discordância

Reagindo ao estudo do The Lancet, Gopa Kumar Nair, conselheiro para o HIV/Sida da organização internacional Save the Children-Reino Unido, defendeu as conclusões de um relatório de 2002 da sua organização que argumenta que os conflitos podiam aumentar a vulnerabilidade dos jovens ao HIV.

“Estas não são simples interpretações de dados, são baseadas em experiências no terreno”, disse. “Estamos vendo órfãos, violência, o fracasso dos sistemas de protecção, e a falta de acesso à informação e serviços do HIV e Sida. Estas são condições que haviam de facilitar a transmissão do HIV.”

Kumar Nair exprimiu preocupação de que as conclusões do estudo de The Lancet foram baseadas em poucos dados, colhidos em poucos países.

“A nossa experiência é que colectar dados sobre seroprevalência de populações em zonas afectadas por conflitos é um pesadelo”, disse.

Reconhecendo a falta de cifras confiáveis sobre a seroprevalência em países em guerra, Spiegel disse que havia dados suficientes no estudo tirar conclusões, “mas temos que ter cuidado para não extrapolar isso para todas as situações.”


Photo:
Amargo regresso: infra-estrutura destruída, HIV à espreita
De uma guerra a outra

Do que não há dúvida, comentou Tom Ellman, conselheiro sobre HIV na organização humanitária Médicos Sem Fronteiras, é a falta de cuidados e apoio às pessoas afectadas pela epidemia em situações de guerra.

“Se falamos do fosso entre necessidade e provisão, esta lacuna é provavelmente maior em situações de conflito porque são negligenciadas pelas agências doadoras internacionais”, disse.

“São cenários extremamente pobres e necessitam mais de ajuda e apoio”, concordou Kumar Nair. “Estou um pouco preocupado que os doadores possam pensar que o HIV não é um problema, o que seria um desastre.”

Em Moçambique, uma das consequências do conflito armado foi a destruição das infra-estruturas, incluindo as sanitárias, além de ocasionar “a drenagem da maior parte dos recursos disponíveis para o esforço da defesa,” segundo o Plano Estratégico.

Tanto em Angola como em Moçambique, o período do pós-guerra foi aparentemente mais crítico para a transmissão do HIV do que a própria época de conflito. A re-apertura das estradas e do comercio, assim o retorno de deslocados e refugiados facilita o alastramento do vírus.

“Saímos de uma guerra armada para uma guerra contra a Sida, e não estávamos preparadas para ela”, disse Maria, da Ação Humana.

Em Moçambique, a seroprevalência explodiu depois do acordo de paz de 1992, quando 1.5 milhões de refugiados em países vizinhos de alta seroprevalência retornaram ao país e quase quatro milhões de deslocados voltaram às suas casas.

Para Spiegel, as conclusões do estudo devem motivar os esforços de prevenção do HIV em tais situações: “Precisamos providenciar estas intervenções durante os conflitos e garantirmos que as pessoas saibam sobre os factores de risco do HIV logo após o conflito.”


Tema(s): (IRIN) Prevenção, (IRIN) Pesquisa

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
Versão impressa
Assinaturas gratuitas
Seu endereço de e-mail:


Envie sua solicitação
 Mais sobre África
05-Out-2007
ÁFRICA: IRIN PlusNews Compacto Semanal No. 84, 01-05 Outubro, 2007.
03-Out-2007
GLOBAL: Fracasso da vacina representa retrocesso em esforços anti-Sida
28-Set-2007
ÁFRICA: IRIN PlusNews Compacto Semanal No. 83, 24-28 Setembro, 2007
21-Set-2007
ÁFRICA: IRIN PlusNews Compacto Semanal No. 82, 17-21 Setembro, 2007
14-Set-2007
ÁFRICA: IRIN PlusNews Compacto Semanal No. 81, 10-14 Setembro, 2007
 Mais sobre Prevenção
05-Out-2007
ÁFRICA: IRIN PlusNews Compacto Semanal No. 84, 01-05 Outubro, 2007.
04-Out-2007
MOÇAMBIQUE: Para ex-refugiados seropositivos, a guerra continua – contra o HIV
28-Set-2007
ÁFRICA: IRIN PlusNews Compacto Semanal No. 83, 24-28 Setembro, 2007
26-Set-2007
ANGOLA: Um espelho para as mulheres seropositivas
25-Set-2007
ANGOLA: O fim da dúvida e um novo começo
Retroceder | Página inicial

Serviços:  África | Rádio | Filme & TV | Foto | Subscrição
Contacto · E-mail Webmaster · Termos e Condições · Feed de Notícias Feed de Notícias · Acerca do PlusNews · Adicionar aos favoritos · Doadores

Direitos Autorais © IRIN 2007. Todos os direitos reservados.
Este material chega até você via IRIN, o serviço de notícias e análises humanitárias do Gabinete para a Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas. As opiniões expressadas aqui não reflectem necessariamente a opinião da ONU ou dos Estados Membros. A republicação está sujeita aos termos e condições determinadas na página do copyright IRIN.