GLOBAL: Sida viaja de camiões e business class
Photo: Manoocher Deghati/IRIN |
Desproporcionalmente mais afectadas pela Sida |
NAIRÓBI, 5 Julho 2007 (PlusNews) - A Sida não viaja somente com os camionistas nas auto-estradas africanas. Ela voa em primeira classe com homens de fato escuro; rasteja para os casamentos; esconde-se nos campos de jogo; sorri para ti todos os dias no trabalho; e, desproporcionalmente, afecta as mulheres e raparigas africanas por causa das desigualdades de género.
Com estas palavras da activista Deborah Williams, do Tobago, ocorreu ontem, em Nairóbi, o Fórum de um dia para Mulheres Vivendo com o HIV e Sida.
Este evento fez parte da Primeira Conferência Global sobre Mulheres e Sida, convocada pela Comunidade Internacional de Mulheres Vivendo com o HIV e Sida e a Associação Cristã Mundial de Mulheres Jovens.
Entre os dias cinco a sete de julho cerca de 1.800 participantes de 95 países estarão reunidos neste que é o maior encontro sobre mulheres e Sida até então realizado em todo o mundo.
“Pela primeira vez, mulheres seropositivas estão dentro da tenda, não fora”, disse Mary Robinson, antiga presidente da Irlanda, e antiga Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, proferindo o discurso de abertura do Fórum no Centro Internacional de Conferências Kenyatta.
Para as centenas de mulheres seropositivas vindas desde a Austrália até Zimbabwe e que participaram no Fórum, a questão era: se as mulheres são importantes, onde está a liderança e onde está o dinheiro?
Com 10 bilhões de dólares norte americanos gastos em Sida em todo o mundo neste ano, o director executivo do Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/Sida, Peter Piot, diz que a inquietante questão não é sobre quantias, mas “sobre as responsabilidade para onde vai o dinheiro e porque é que é tão difícil as mulheres e os grupos a nível de base terem acesso a estes recursos.”
Apesar de choverem bilhões, a coordenadora de programas de HIV/Sida na Open Society na África Austral, Sisonke Msimang, acredita que já é tempo de sustentar as políticas e as declarações com recursos.
Pela primeira vez, mulheres seropositivas estão dentro da tenda, não fora.
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“Sabemos qual é o problema. Em todo o mundo, boas pesquisas, embora espalhadas, e bons pequenos projectos, embora espalhados, apontam o caminho”, disse. “O que é necessário agora são recursos para avançar, para tornar palavras em acção.”
Resumindo o pensamento do Fórum, Dorien Taylor, do Canadá, disse: “Nós queremos assentos à mesa, mais dinheiro e projectos desenhados para mulheres seropositivas.”
Novas Fronteiras para o HIV
Passados 25 anos de epidemia, surgiu no Fórum uma nova geração de activistas seropositivas: adolescentes que nunca viveram num mundo sem Sida ou num corpo sem o vírus. Crianças infectadas ao nascer, mas que cresceram saudáveis e activistas.
As vidas delas podem ser diferentes, mas as suas experiências não.
Martha Judith Naigwe tem 22 anos e é do Uganda. Stephanie (apelido omitido) é australiana e tem 15 anos.
Elas cresceram “no mundo frio e silencioso da Sida”, como diz Stephanie, e foi-lhes negada uma infância normal por causa da discriminação.
Também silenciosos no mundo frio estão os consumidores de drogas injectáveis, que encontraram na economista ucraniana Irina Borushek “uma eloquente advogada.”
Borushek era viciada em heroína, mas abandonou as drogas em 1996 e três anos depois foi diagnosticada HIV. Ela disse ao PlusNews que é mais fácil falar em público sobre o HIV do que acerca do uso das drogas.
“Eu fiquei feliz quando vozes de mulheres seropositivas que usam drogas foram ouvidas pela primeira vez nas Nações Unidas em 2005”, disse. “Elas são triplamente estigmatizadas.”
Através da sua liderança na Rede Ucraniana de Pessoas Vivendo com o HIV, Borushek pressionou o seu governo em 2006 a dar tratamento antiretrovirais a quatro mil pessoas e drogas de substituição a 500 consumidores.
Como de costume em reuniões de mulheres seropositivas, houve também muitas histórias contadas e partilha de experiências pessoais. Encontros só de mulheres parecem criar uma intimidade instantânea.
“Falar é um passo muito importante para mulheres que foram marginalizadas, discriminadas e silenciosas”, disse Taylor.
E enquanto centenas de mulheres com turbantes, bolubous, kangas, ponchos e jeans, cantavam e dançavam na sessão de encerramento do Fórum, as suas experiências comuns de viver com o HIV eram mais fortes do que as suas diferenças.
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Tema(s): (IRIN) Prevenção
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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