GLOBAL: Mulheres e HIV, é hora de actuar
 Photo: YWCA
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| Hora de transformar recursos em políticas e políticas em acção |
NAIRÓBI, 4 Julho 2007 (PlusNews) - Quando o assunto é Sida e HIV entre mulheres, os números não permitem complacência.
Um relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Sida de 2006 mostrou que dos 37.2 milhões de seropositivos no mundo, 17.7 milhões são mulheres; na África subsaariana, região mais afectada pela epidemia, para cada 10 homens seropositivos há 14 mulheres com HIV. Enquanto isso, a seroprevalência continua a crescer entre as mulheres em todas as regiões.
É dentro desse contexto que arranca hoje a Primeira Conferência Global de Mulheres: Liderança das Mulheres em HIV e Sida, em Nairóbi, no Quénia, organizada pela Associação Cristã Mundial de Moças (World Young Women´s Christian Association, ou YWCA, em inglês).
O evento reunirá cerca de 1800 participantes de 95 países para mobilizar respostas urgentes ao problema.
A conferência abre com o Fórum das Mulheres Seropositivas, organizado pela Comunidade Internacional de Mulheres que Vivem com HIV e Sida (ICW, na sigla em inglês).
Entre os temas a ser abordados entre 4 e 7 de julho estão a feminização da pandemia, desigualdades entre os géneros, acesso à saúde e tratamento, direitos reprodutivos e sexuais, religião, liderança e fortalecimento económico.
A argentina Mónica Zetzsche, engenheira mecânica e presidente da YWCA Mundial, acredita que a palavra-chave do encontro será educação.
"A educação é o ponto de partida", explicou. "É através dela que podemos dar mais poder às mulheres, inclusive no sentido financeiro."
E também no âmbito do HIV, ao aumentar o seu poder de decisão com respeito ao sexo. "Ela pode dizer não, se souber que tem independência, que não depende do homem", contou.
Por que a demora?
Há quem pergunte por que a primeira conferência mundial sobre os temas de HIV e mulheres está sendo feita 25 anos depois do início da epidemia.
"É preciso de tempo para se construir algo assim", disse Zetzsche. "Nosso trabalho é de base, nas comunidades. Leva tempo para que as mulheres consigam eleger suas prioridades, se organizar. E depois de chegarmos aqui, voltaremos ao começo, as bases, para reforçar idéias, conceitos e processos."
A conferência chega num momento único na história da Sida: ao mesmo tempo em que as mulheres se tornaram o grupo mais vulnerável à doença, verifica-se um engajamento feminino inédito ao redor do tema.
No caso do YWCA, foi em 1999 que a Sida pulou para o topo da lista de prioridades da organização, que desde então desenvolveu programas voltados à prevenção da doença em 70 países.
Para Kaburo Kobia, directora de comunicação da YWCA Mundial, esta estratégia surge do "nosso trabalho com as comunidades."
O facto de a instituição seguir os princípios cristãos com que foi fundada há 152 anos não influi nas estratégias de prevenção recomendadas.
"Nós damos todas as informações que as mulheres precisam para tomar a melhor decisão pessoal: preservativos femininos e masculinos, vacinas, microbicidas. Não importa se somos uma entidade cristã. Nosso papel é dar mais escolhas e mais poder às mulheres para que elas consigam se proteger", disse.
Mais dinheiro
Para Zetzsche, o simples fato de esta conferência ter lugar é alentador.
"Muitas coisas mudam muito rápido, como a tecnologia. Outras, como direitos humanos e direitos das mulheres levam mais tempo", contou. "Mas fizemos progressos. Hoje estamos fazendo uma reunião mundial discutindo temas como violência contra as mulheres, Sida e HIV e outros tópicos sobre os quais antes não se falava."
Mas palavras e declarações de boas intenções não bastam.
Sisonke Msimang, coordenadora do programa de HIV e Sida da Open Society para África Austral, opinou que chegou-se num ponto em que existem bons projectos pequenos e boas iniciativas de pesquisa.
A educação é o ponto de partida. É através dela que podemos dar mais poder às mulheres... |
"Mas falta dinheiro para expandir", alfinetou. "Precisamos de recursos para tirar projectos do papel ou ajudar outros a crescerem."
A chilena Patrícia Gonzalez Vache, secretária geral da YWCA Brasil, também enfatizou a questão dos apoios.
Recém-chegada de uma visita a Luanda, capital angolana, Vache disse que ficou "arrepiada com o entusiasmo das jovens, com carências de todos os serviços básicos, mas querendo aprender a ler e saber mais sobre a Sida, violência e direitos humanos", num país que emerge de décadas de guerra civil.
"Espero que depois desse encontro, países que têm recursos passem a ajudar outros que precisam deles", afirmou.
ll/ms
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