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Photo: Georgina Cranston/IRIN
Sobrevivente do terrorismo sexual como arma de guerra
BUKAVU, 9 Novembro 2006 (PlusNews) - Em 2004, a Organização Mundial da Saúde estimava que havia 25 mil sobreviventes de violência sexual no Kivu Sul, província oriental da República Democrática do Congo, número bem aquém da realidade, segundo certas organizações de auxílio às vítimas destas sevícias.

“Eu tenho a certeza de que nesta província mais de 100 mil mulheres foram vítimas de estupro”, afirma Christine Schuler-Deschryver, da Cooperação Técnica Alemã (GTZ).

Durante a guerra, Schuler-Deschryver estava em Bukavu, a capital da província, e recenseou mais de 14 mil casos de estupro.

Durante 10 anos, a população do Kivu Sul foi vítima dos combates entre grupos rebeldes estrangeiros e milícias congolesas.

Entre os rebeldes estão as Forças Democráticas da Libertação do Ruanda (FDLR), compostas essencialmente de milicianos hutus ruandeses, que fugiram do seu país após o genocídio de 1994.

Muitos congoleses acusam estes milicianos de serem responsáveis pela introdução do HIV na RDC.

“Foram os Interahamwe [‘genocídiários´ hutus ruandeses] que trouxeram a Sida”, afirma Honorata Zakumwilo, uma congolesa de 54 anos, que foi violada e torturada durante 14 meses pelos Interahamwe.

“Eles pediam comida, mas o que queriam mesmo eram mulheres”, acrescenta Zakumwilo.

As atrocidades sexuais e a humilhação de que ela foi vítima são difíceis de entender.

“Nós éramos escravas sexuais, o estupro não era suficiente”, conta ela.

Não existem dados precisos sobre o número de vítimas de sevícias sexuais. De facto, um grande sentimento de vergonha e culpa fez com que certas mulheres escondessem o que passaram. Por causa da instabilidade que predomina em certas partes da província, as mulheres temem represálias.

Estupro como arma

“Se os milicianos usaram sistematicamente a violência sexual em toda a província oriental do país, não foi para satisfazer as suas necessidades sexuais”, afirma Schuler-Deschryver.

“Os rebeldes usam o estupro como arma de destruição. É terrorismo sexual”, precisa ela.

A GTZ apoia o Comité do Raio de Acção da Mulher (CRAF, sigla em Francês), uma organização não governamental local, e dá conselhos às mulheres vítimas de estupro que hesitam receber uma ajuda médica quando de facto sofrem psicologicamente e podem ter contraído doenças sexualmente transmissíveis.

Segundo Aldegonde Kyakim, directora de projectos do CRAF, o aumento de pessoas seropositivas na região seria uma consequência directa dos estupros.

“De acordo com os testes sanguíneos das vítimas de violência sexual, a taxa de prevalência do HIV/Sida varia entre cinco e quinze por cento”, afirma ela.

Segundo Kyakim, os números variam em função da zona geográfica e dos grupos armados presentes.

“A taxa de prevalência de HIV/Sida mais elevada, de quinze por cento, foi registada entre as mulheres violadas pelos milicianos das FNL [Forças Nacionais de Libertação] do Burundi, país vizinho. Entre as mulheres vítimas de violência sexual cometida pelos milicianos Interhamwe, a taxa de prevalência é de 10 a 12 por cento”, diz Kyakim.

Em 2005, a taxa de prevalência do HIV/Sida entre a população rural do Kivu Sul era de 4.5 por cento, segundo as estatísticas oficiais do Programa Nacional de Luta contra a Sida.

O conflito contribuiu directamente para a propagação da epidemia no Kivu Sul, afirma a médica Rebecca Adlington, responsável e especialista de HIV/Sida da Médicos sem Fronteiras (MSF), em Bukavu.

“Na área de Uvira, em Kivu Sul, a taxa de prevalência do HIV entre os doadores de sangue passou de cinco por cento, em 1994, para 12 por cento, em 1998. É preciso que se tente entender o porquê”, afirma Adlington.

Sentimento de culpa

As mulheres que precisam de auxílio médico para cuidar das feridas causadas pelo estupro, ou as que recebem apoio de organizações como o CRAF são conduzidas ao Hospital Geral de Panzi, nos arredores de Bukavu.

Quando chegam ao hospital, muitas mulheres são suicidárias, diz a doutora Cécile Kamwanya, responsável pelo programa de apoio psicológico do hospital.

“Estas mulheres, rejeitadas por suas famílias e comunidades, têm a sensação de ter cometido um erro. Elas são inúteis para as suas famílias. Para elas, a vida não vale a pena ser vivida”, acrescenta Kamwanya.

Mensalmente, o Hospital de Panzi trata uma centena de mulheres que precisam de cirurgia reconstrutora. Cada mulher que entra no hospital recebe uma assistência psicológica e a proposta de um teste do HIV.

“Quase todas aceitam. Às vezes, é a primeira coisa que elas pedem quando chegam aqui”, explica Kamwanya.

A guerra destruiu todos os serviços de saúde do Kivu Sul e impediu a realização de programas de sensibilização sobre o HIV/Sida nas zonas rurais.

Dezenas de milhares de sobreviventes da violência sexual não têm a consciência dos riscos de infecção e acesso aos cuidados e tratamento disponíveis em Bukavu e nas localidades vizinhas.

Os trabalhadores de saúde advertem: quanto mais o governo demorar a reabilitar e colocar em funcionamento os serviços de saúde da província do Kivu Sul, mais o HIV se propagará.


Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento, (IRIN) , (IRIN) Estigma/Direitos Humanos/Leis

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
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