RDC: Pigmeus, guerra e HIV/Sida

Photo: IRIN  |
Milícias, fome e HIV ameaçam os Pigmeos |
CHOMBO, 22 Setembro 2006 (PlusNews) - Sempre marginalizados, os Pigmeus, habitantes das regiões florestais da República Democrática do Congo (RDC) foram alvos fáceis para os soldados e as milícias que, há 12 anos, combatem no leste do país.
A comunidade pigméia, ou Batwa, é estimada em 80 mil membros, segundo a Refugees International (Refugiados Internacional), um grupo de defesa dos direitos das minorias.
Segundo o Unicef, mais de um milhão de congolenses são seropositivos, mas não existe informação precisa sobre a taxa de prevalência do HIV entre os Pigmeus.
Mesmo que se considere que a taxa de prevalência do HIV/Sida entre esta minoria é inferior à média nacional, a pobreza, o isolamento social e a ausência de serviços sanitários implicam que os seropositivos não recebem quase nenhum apoio.
O parque nacional de Kahuzi-Biega, famoso pelos seus gorilas de costas prateadas, antigamente abrigava os Pigmeus, mas se tornou em seguida o quartel-general da milícia Interahamwe, conhecida pela participação no genocídio do Ruanda, em 1994, e suas tentativas para tomar o controlo do leste da RDC, região rica em minerais e madeira.
A milícia ataca
Ao longo dos anos, os habitantes de Chombo, uma vila Batwa construída nos bananais próximo do parque nacional, foram alvo da pilhagem de alimentos, exploração e estupro da milícia Interahamwe.
Em 2002, os Interahamwe atacaram Chiza Mwemdena, uma jovem de 36 anos e mãe de três filhos, quando trabalhava nos campos.
“Eu levantei a cabeça, e quando os vi corri o mais rápido possível, mas eles acabaram me alcançando”, recorda-se Mwemdena. “Eram mais ou menos 50 soldados, eu acho que trinta deles violaram-me”.
Os Interahamwe mantiveram Mwemdena em cativeiro por duas semanas, até que ela conseguiu fugir. De volta à vila, foi abandonada pelo marido, que tinha vergonha dela.
“Quatro anos após o estupro, eu comecei a me sentir esquisita”, disse ela, balançando os seus braços emagrecidos. “A minha urina estava diferente, tinha dores de estomago e não tinha mais força nos meus membros”.
Em 2004, Chiza Mwendena fez o teste de HIV proposto pela organização não governamental União para a Emancipação da Mulher Autóctona (UEFA, sigla em francês). O resultado foi positivo.
Segundo Salome Ndavuma, quatro habitantes de Chombo morreram desde Maio deste ano. Três eram mulheres que haviam sido estupradas pelos Interahamwe. Uma delas era irmã de Mwemdena.
“Foi uma morte horrível. Nós sabíamos que era Sida, todas as partes do seu corpo deixaram de funcionar. Se a epidemia se propagar, o que faremos?” pergunta Salome.
Marginalizados na saúde
Em Junho, o jornal médico britânico The Lancet, indicou que os Batwa tinham cada vez menos acesso aos serviços de saúde, em comparação com as outras comunidades.
“Mesmo quando existem centros de saúde, poucos Pigmeus os procuram, porque não podem pagar a consulta ou os remédios, não têm os documentos de identidade necessários (...) ou são humilhados e vítimas de estigmatização”, diz o artigo.
Em Chombo, a vida é, particularmente, difícil para os seropositivos. Sem terra, expulsos das suas florestas ancestrais para dar lugar ao parque nacional, a maioria sofre de má nutrição e é vulnerável à infecções oportunistas.
“A Sida é uma doença que custa caro”, lembra Espérance Binyke, da UEFA. “É preciso se alimentar, mas os Pigmeus só comem no máximo uma refeição ao dia. Consequentemente, morrem muito rápido”.
Chiza Mwemdena fez o tratamento até que os fundos da sucursal local da UEFA esgotaram. Ela sofre novamente de dores de estomago, mas não pode ir ao centro de tratamento, a 25 km de Chombo, porque não tem nem força para ir a pé, nem dinheiro para transporte.
Segundo Marhegane Lukhera, um idoso habitante de Chombo, o primeiro caso de Sida apareceu em 1998.
Hoje, os moradores da vila falam mais abertamente de HIV. “Nós aconselhamos as crianças a partir de 12 anos a não terem relações sexuais e as jovens a não se prostituirem”, explica Lukhera.
“O chefe reúne connosco, os homens, e aconselha a ficarmos com as nossas mulheres. A esposa dele aconselha as mulheres a não terem outros homens”, conta Lukhera, na única sala de aulas da escola da vila.
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Tema(s): (IRIN) , (IRIN) Prevenção
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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