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LIBÉRIA: Sexo, drogas e HIV


Photo: IRIN
Deixaram as armas mas não as drogas.
MONRÓVIA, 27 Fevereiro 2007 (PlusNews) - Carey Street, no centro de Monróvia, não é o melhor lugar para se estar à noite, principalmente se você parece ter dinheiro, um telefone móvel ou qualquer coisa de valor que possa ser roubada. E isto por causa de homens como Patrick Kollie.

Kollie diz que foi membro da milícia privada do antigo líder liberiano Charles Taylor, a Unidade Anti-Terrorismo. Ele deveria ter feito parte dos 100.000 outros antigos milicianos desmobilizados que tiveram a chance de aprender um ofício em 2003, no final da guerra civil liberiana que durou 14 anos.

Porém, como muitos outros jovens marcados demais pelo conflito, desconfiados e prontos a apelar para a violência, Kollie não aproveitou esta chance para se desligar do passado.

Ele estava na prisão, cumprindo uma pena de 8 meses por roubo, quando o processo de desmobilização começou.

“Nós somos maus-caráteres, nosso futuro é feio”, disse Kollie, magro, desgrenhado e um pouco bêbado. “Muitos de nós vivem na rua, mendigando e roubando”.

Foi provavelmente o fruto de um roubo que pagou pelo Jumping Deer, um gin local barato que ele e seus amigos estavam bebendo naquela noite.

A guerra de Kollie começou com um ato de brutalidade familiar aos liberianos. A maioria das pessoas do condado de Lofa, ao norte do país, pertencem ao grupo étnico Mandingo que apoiou o líder militar Alhaji Kromah.

Quando um bando de rebeldes da Frente Nacional Patriótica da Libéria (NPFL, em inglês), milícia rival dirigida por Taylor, chegou ao vilarejo de Kollie, eles mataram sua mãe e seu pai e lhe deixaram escolher: “Eu fui obrigado a me juntar a eles (NPFL), senão eles também teriam me matado”.

Kollie tem 34 anos e nunca terminou a escola secundária. Sua preocupação principal é arrumar algum dinheiro para comprar drogas e pagar o equivalente de US$ 1 por uma trabalhadora do sexo no mercado de Waterside.

Milicianos e soldados drogados

O uso de drogas foi muito comum durante a guerra. Os beligerantes consumiam crack, cocaína, heroína, marijuana, Valium e anfetaminas, misturados com coquetéis, alguns contendo pólvora – a única contribuição da Libéria ao manual dos narcóticos.

Três anos após o fim do conflito, o uso de drogas e o crime que ele alimenta cruzaram uma nova ameaça: o HIV/Sida.

Segundo David Konneh, diretor executivo da Don Bosco Homes, que trabalha com crianças necessitadas, o desarmamento e o programa de reabilitação tiveram um sucesso relativo. Muitos ex-combatentes (demais) vieram só pelo salário de US$ 300 e faltaram aos programas de treinamento vocacional ou venderam o equipamento que receberam para sua formação.

“Não houve apoio psicossocial suficiente, nem programas de desintoxicação adequados”, diz Konneh.

Nos guetos, como são conhecidos os distritos mais pobres na Libéria, as drogas e o sexo barato são fáceis de achar. Reginald Tay, diretor da Agência de Repressão às Drogas, estima que “de 20 a 25 por cento dos ex-combatentes são traficantes, mas são também os principais consumidores”. Ele inclui as profissionais do sexo no grupo dos consumidores regulares de drogas.

O uso ocasional de drogas pode diminuir a inibição e, no caso da cocaína, agir como um estimulante sexual, aumentando o risco de infecção pelo HIV. Os consumidores de crack geralmente sofrem de queimaduras e bolhas dentro da boca por causa do calor da fumaça, tornando o sexo oral não protegido muito mais perigoso, enquanto a dependência à droga faz com que necessitem mais fregueses.

Os trabalhadores da saúde estimam a taxa de infecção pelo HIV na Libéria entre 5 e 10 por cento. Segundo Barbara Brilliant, diretora da Faculdade católica de Ciências da Saúde Mother Patern, em um país onde os sistemas de valores foram subvertidos pela pobreza e pelos conflitos, existem poucas maneiras de prevenir o avanço da epidemia.

“Eu acho que o HIV vai atingir este país mais do que a guerra”, disse ela ao PlusNews. “Nós estamos saindo de uma guerra durante a qual houve muita migração, com 80 por cento de analfabetos e 85 por cento de desemprego – como mudar os comportamentos?”

Sexo e cocaína

Jackie, de 22 anos, faz a ronda dos bares de hotel do centro da cidade quase todas as noites. Ele não se considera uma trabalhadora do sexo; ela só está procurando “um estrangeiro com quem me casar”.

Ela esteve refugiada no país vizinho, a Guiné, onde seus pais morreram, e voltou para a Libéria em 1999 para viver com uma tia. Desde então ela teve que se virar sozinha, tendo frequentado a escola só até a 9ª série.

Jackie tem um namorado firme que trabalhava para uma missão internacional antes de voltar para o sul da África há três anos. Ele falou com ela sobre o HIV/Sida e sempre insistiu para usar a camisinha. Ela acha que as suas colegas não são tão cautelosas.

“Muitas moças estão à procura de um homem que cuide delas; elas vão de lá para cá, sem encontrar nada que valha. Você não sabe quem está doente. Eu não me arrisco”, diz ela, enquanto pede uma outra cerveja.

Se embebedar ou se drogar faz parte do jogo na indústria do sexo, tanto entre as mulheres quanto entre seus clientes.

“Muitas moças usam cocaína; cada vez que elas ganham algum dinheiro elas correm até os guetos para comprar drogas”, diz Jackie.

As ruas de Monróvia estão cheias de cartazes promovendo o sexo seguro, mas o aumento de casos de doenças sexualmente transmissíveis (DTS) após a guerra sugere que as pessoas ainda não conhecem a necessidade do uso constante do preservativo. O truísmo que se ouve em quase toda conversa sobre a Sida é que os liberianos querem um contato sexual “carne a carne, pele a pele”.

Lwopu Bruce, da Comissão Nacional da Sida, se preocupa, como Brillant, com o aumento da seroprevalência, e diz que a prova está na trajetória dos casos de DST. “A questão é a mudança de comportamento, e isto leva tempo, não acontece de uma hora para outra”.


Tema(s): (IRIN) Prevenção

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
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