CONGO: Manicure sem riscos dá mais beleza

Photo: UNCDF  |
Manicure ambulante, um risco de infecção ignorado |
BRAZAVILLE, 9 Agosto 2006 (PlusNews) - Joël Mawata conta e reconta as moedas que acabou de ganhar limando e cortando as unhas dos seus clientes, nas ruas de Brazaville, a capital congolesa. A sua camisa, molhada de suor, gruda no seu corpo. Mais uma vez, o dia rendeu.
Como vários jovens congoleses, num país onde a metade deles estão desempregados, Joël passa os dias deambulando pelas principais artérias da capital propondo os seus serviços a quem quiser uma manicure rápida e barata.
Na sua sacola, este jovem de uns vinte anos e órfão desde os nove, carrega frascos de verniz de várias cores, uma lima, lâminas de barbear, um corta-unhas e outros objectos cortantes.
O seu trabalho, que rende entre 1.500 e 2.000 francos CFA por dia (três a quatro dólares americanos), quatro vezes mais que o rendimento diário da maioria dos congoleses, permite-lhe pagar o quarto que aluga na cidade.
Mas esta profissão não é de todo sem riscos, face à epidemia do HIV/Sida. Mesmo se a maioria das infecções pelo HIV acontecem por via sexual, as autoridades afirmam que dois por cento das pessoas seropositivas contraíram o vírus por via sanguínea, facto ignorado por muitos congoleses.
“Não posso esterilizar as lâminas”
“O risco de contaminação pelo sangue é mínimo, mas para os cortadores de unhas o perigo é permanente, já que utilizam objectos cortantes”, diz o director geral do Centro Nacional de Transfusão Sanguínea, professor Elira Dokekias
Não existem estudos para avaliar este fenómeno, lamenta Dokekias, “mas uma coisa é certa: usar para um cliente o material já utilizado noutro, de quem não se conhece o estado serológico, é um risco enorme”.
Mawata só troca as lâminas uma vez por dia, depois de tê-las utilizado para todos os clientes, excepto os que trazem o seu próprio material de manicure e pagam a metade do preço - 300 francos CFA.
Apesar de ter constatado que, em certos clientes, com unhas duras, os sangramentos eram comuns, ele diz que “não vou trocar em seguida o material, porque assim perco dinheiro. O meu material de trabalho, às vezes, custa caro.”
“Eu não posso esterilizar as lâminas, enquanto trabalho”, argumentou. “O melhor jeito de ganhar tempo é utilizá-las somente durante 24 horas e também ter cuidado para não machucar nenhum dos meus clientes”.
Para ele,“o risco de transmissão do HIV deve ser procurado nos centros médicos, que utilizam instrumentos como o bisturi para certas incisões”.
As autoridades reconhecem que o fenómeno de manicure ambulante tem se intensificado nos últimos anos, em Brazaville, na cidade portuária de Pointe-Noire e em Dolisie, no sul do país.
Excluídos das campanhas
No entanto, os cortadores de unhas, como os cabeleireiros que usam agulhas, não são incluídos em nenhum dos 63 projectos de sensibilização do Conselho Nacional de Luta contra a Sida (CNLS).
A razão principal, segundo a responsável pela comunicação social do CNLS, Line Mikangou, é que eles são difíceis de atingir.
“Esta prática está espalhada”, diz ela. “Nós desejamos reuni-los numa associação, como fizemos com os profissionais de sexo. Se nos comprometermos a sensibilizá-los individualmente, é certo que só perderemos tempo e não atingiremos nem um terço destas pessoas.”
Apesar do risco que representa a prática informal de manicure ambulante, não há razão de proibi-la, afirma Mikangou.
“O ambiente socioeconómico é difícil”, estima Mikangou. “Mas estas práticas devem ser denunciadas. A partir do momento em que os jovens utilizam objectos cortantes, que passam de mão em mão, há o risco de transmissão do vírus”.
Para Mikangou, uma das soluções seria sensibilizar os clientes para serem vigilantes e exigirem mais higiene, enfatizando que “na falta de um esterilizador, existe o álcool e água sanitária, que servem para desinfectar o material”.
É preciso também lembrar à população que a via sanguínea é um modo de contaminação. Vários clientes dos cortadores ambulantes de unhas, como Martine Samba, ignoram totalmente o perigo que correm.
“A Sida existe e nós conhecemos todos os meios de transmissão”, afirma tranquilamente esta dona de casa de 46 anos.
“Não é cortando as minhas unhas que vou apanhar”, diz.
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Tema(s): (IRIN) Prevenção, (IRIN) Juventude
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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