CONGO: A Bacia oeste se abre ao mundo e ao HIV

Photo: Laudes Martial Mbon/IRIN  |
Na hora do desencravamento, é urgente informar as populações de Lekety sobre SIDA. |
LEKETY, 18 Maio 2006 (PlusNews) - Não há nenhum centro de testagem de HIV nem venda de preservativos em Lekety, um vilarejo esquecido na região da Bacia oeste, prestes a receber um porto fluvial que será uma das mais importantes obras de construção do Congo.
Os motoristas de camião chamam a estrada que leva até Lekety de “purgatório”. São 600 quilômetros de buracos a partir da capital, Brazzaville, em direção ao noroeste, até a planície arenosa onde se situa o vilarejo de 2.000 habitantes.
Segundo alguns deles, nem os programas de rádio e televisão nacionais chegam até esta região na fronteira com o Gabão. Poucos habitantes já ouviram falar da epidemia.
“Até em ondas curtas é difícil captar o rádio aqui, às vezes nós passamos mais de um mês sem ser informados pela mídia do que acontece em Brazzaville”, explicou um residente.
Isolado, mais estratégico, o lugar atraiu as autoridades para construírem um porto fluvial, na confluência dos rios Lekety e Dielê, este último navegável até o Gabão.
O porto é um dos raros projectos de infra-estruturas públicas empreendidos pelo Estado nesta região desde a independência em 1960.
Aprovado em Maio de 2001, o projecto custará 17 bilhões de francos CFA (34 milhões de dólares americanos). Com três cais, um deles de 100 metros, será o segundo porto fluvial do Congo, depois de Brazzaville.
Vantagens e perigos
O médico Faustin Mboungou Poungui, responsável pela enfermaria de Lekety, está preocupado. O projeto, embora salutar para o desenvolvimento social e económico da Bacia oeste, poderia se tornar nefasto se nada for feito para informar à população dos perigos da propagação do HIV.
“A SIDA, nós ouvimos falar dela de longe, mas ninguém nunca veio nos explicar de perto”, declarou ao PlusNews Joseph Gossia Wayo, presidente do comité do vilarejo de Lekety.
Os habitantes desta área não foram incluídos no estudo de seroprevalência realizado, em 2003, pelo Conselho Nacional de Luta contra a SIDA, que estimou a taxa média nacional em 4,2 por cento.
Nenhuma campanha de sensibilização sobre a epidemia foi organizada aqui, apesar da precocidade das relações sexuais entre os jovens, principalmente as moças, lamentam os trabalhadores sanitários de Lekety.
“É urgente sensibilizar a população, principalmente as moças, sobre os perigos que representa o HIV, agora que a Bacia oeste se prepara para se abrir ao mundo”, insistiu Mboungou Poungui.
Urgência
O porto fluvial fará de Lekety uma encruzilhada de vários eixos de comunicação e comercio, principalmente o eixo de Lekety a Franceville, uma das principais cidades do Gabão. Franceville abre o caminho para o porto de Libreville, a capital gabonesa.
Uma vez construído, o porto fluvial de Lekety deverá permitir a recuperação de uma parte do tráfego da Estrada de Ferro Congo-Oceano, a espinha dorsal da economia nacional, que liga Brazzaville a Pointe-Noire, o maior porto marítimo em águas profundas do Congo, no sudoeste do país.
“Os trabalhadores vão chegar a Lekety com dinheiro, e estamos preocupados com as nossas moças, que são atraídas pelo poder do dinheiro e não recusam nada aos estrangeiros”, disse Mboungou Poungui.
Há urgência: o governo congolês anunciou que as obras de construção do porto de Lekety começariam em junho e durariam quatro anos.
Com a ajuda de alguns residentes, Mboungou Poungui começará, em breve, uma campanha de informação sobre a SIDA. Seu primeiro alvo? As jovens estudantes.
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Tema(s): (IRIN) Prevenção
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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